Cats é um filme musical dirigido por Tom Hooper, cineasta ganhador do Oscar por O Discurso do Rei. Trata-se de um filme adaptado da famosa peça de 1981, que por sua vez é baseado na coletânea de poesias Os Gatos de T.S. Elliot.

Sua história gira em torno de uma tribo de gatos chamados de Jellicles, que todo ano precisa tomar uma grande decisão em uma noite especial: escolher um dos membros para ascender ao Heaviside Layer, lugar que promete uma vida melhor aos selecionados. No filme, acompanhamos cada um dos gatos contando a sua história em forma de música para a líder do grupo, a velha Deuteronomy (Judi Dench), na tentativa de ser o escolhido.

Cats foi massacrado pela crítica e há inúmeros motivos para tal. A começar pela própria ideia de adaptar a peça da década de 80, que mesmo que seja realmente famosa e tenha alguns fãs, envelheceu mal e possui uma narrativa bem difícil. É claro que os produtores poderiam ter reformulado toda a estrutura da peça para servir ao cinema, mas aparentemente foi preferível apostar no seguro e adaptá-la da forma mais fiel possível.

Além disso, as músicas são realmente ruins e entediantes, e nem mesmo o diretor Tom Hooper toma o cuidado de escolher planos que funcionem à favor das performances. O elenco cheio de ícones do cinema e da música não podem fazer muito a não ser assustar o espectador com suas caras e corpos felinos, algo que ainda é completamente prejudicado pelo mau uso dos efeitos visuais.

O gato interpretado por James Corden, Bustopher Jones, é um cavalheiro corpulento que ama se esbaldar no lixo da cidade, e isso não é necessariamente algo legal de se ver numa tela grande. Sobra poucas coisas menos dignas quando sua performance é apenas se enfiar em várias latas de lixo e rolar pela imundície da cidade.

Seu número musical consegue ser ainda mais embaraçoso por causa, é claro, do seu visual e postura: um corpo exageradamente roliço (com direito à piadas sem graça sobre isso) e mãozinhas curvadas e estranhas.

Uma das cenas mais perturbadoras de Cats acontece logo no começo, quando somos apresentados a Jennyanydots, personagem de Rebel Wilson que, como todos os outros, almeja ascender ao Heaviside Layer.

Aqui, a gata desempenha seu número musical acompanhada de um exército de ratos e baratas - diga-se, pessoas vestidas de ratos e baratas servidas por um terrível trabalho de CGI e com vozes estridentes que parecem ter saído de Alvin e os Esquilos!

Por alguma razão inexplicável, Macavity, personagem de Idris Elba, é um vilão com poderes mágicos que consegue teletransportar os outros e a si próprio ao seu bel prazer. Sim, ele é o único gato com poderes do filme (?).

Em determinada cena, logo após o número musical de Bombalurina (Taylor Swift), Macavity teletransporta-se para estrelar seu próprio número, e para a surpresa de todos... ele parece estar nu. Veja bem, durante todo o filme, Macavity aparece usando um longo casaco que cobre seu corpo felino. De repente, para esta cena, mais ao final do longa, ele está subitamente sem o casaco, e é praticamente impossível tirar da cabeça que ele está na verdade, pelado enquanto dança e canta. Ainda que você não tenha problemas com a ideia de ver o Idris Elba sem roupa, não é uma visão agradável…

Todo musical que se preze precisa de um número especial, aquele que emocionará a todos e que será vendido como o momento mais catártico da obra. Em Cats, não é nenhum absurdo afirmar que Memory faz este papel. Aqui, a música é performada por Jennifer Hudson, e dá para dizer que a cena falha miseravelmente na hora de ser o grande destaque do filme.

Isso se dá, principalmente, pelas más escolhas do diretor Tom Hooper, que decide filmar quase tudo em um close sinistro, que evidencia ainda mais o CGI de má qualidade, bem como o nariz ranhoso de Hudson.

Ainda no número dos ratos e baratas, Jennyanydots chega a remover sua própria pele (?) para revelar uma roupa de dançarina durante a performance. Não há nada nem ninguém que possa convencer o espectador de que isso faz algum sentido. Se apenas essa descrição não te faz ter calafrios, experimenta dar play no vídeo acima…

Jason Derulo é uma das grandes estrelas da música que acabaram metidos com Cats. O cantor interpreta Rum Tum Tugger, gato cuja personalidade é ter um sotaque estranho e cortejar as gatas com piscadelas e falsetes.

Como se as coisas não fossem estranhas o suficiente, Victoria (Francesca Hayward expressa seu interesse no gato levantando a perna e apontando os dedos dos pés para ele, no que Rum Tum Tugger reage parecendo excitado e prestes a colocar os dedos em sua boca. Felizmente, isso não chega a acontecer porque ele desiste no meio do ato e volta a cantar.

Depois que a Escolha Jellicle é feita, Macavity (Idris Elba) faz mais uma tentativa para burlar o sistema e escapar para a nova vida. Ele então se agarra a uma corda do balão de ar quente que leva o gato felizardo ao Heavyside Layer, mas acaba deslizando e cai no topo da Coluna de Nelson, monumento localizada no centro da Trafalgar Square.

Ele tenta se teletransportar de lá, mas de repente seus poderes passam a não funcionar - tão sem explicação quanto a existência deles. No fim, o vilão termina preso a um monumento de quase 60 metros de altura. O que acontece com ele? Nunca saberemos. Mas dificilmente ele conseguiria sair de lá vivo.

Quem tem o poder de decidir qual gato vai para o tal lugar melhor é a matriarca dos Jellicle, a velha Deuteromony vivida por Judi Dench. No teatro, o papel costuma ser de um homem, mas aqui foi feita a troca do gênero para acomodar a atriz veterana.

Na cena final de Cats, a personagem de Dench surpreende ao se virar para a câmera e falar diretamente com o público, fazendo um discurso sobre como gatos são diferentes de cães. Esse momento, é claro, consegue ser ainda mais bizarro pois é possível ver a infame mão humana de Judi Dench, que por causa do CGI mal feito, acabou indo parar na versão final do longa.