Avatar: 6 temas complexos que o desenho trabalhou muito bem

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Avatar: 6 temas complexos que o desenho trabalhou muito bem

Por Melissa de Viveiros

Avatar: A Lenda de Aang foi criado para um público jovem, algo perceptível em seu tom principalmente na parte inicial da história. Apesar de nunca deixar completamente o humor de lado, com o passar da trama o desenho se torna cada vez mais sério, e ao longo de toda a história vários temas complexos são apresentados.

Nesta lista, relembramos alguns dos temas sérios que a animação da Nickelodeon trabalhou muito bem!

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Corrupção

Ba Sing Se pode até ser utilizada como meme vez ou outra, mas a verdade é que a parte da história em que o time Avatar se encontra na cidade é uma das mais sombrias. Isso porque, como logo fica claro, há algo de muito errado no Reino da Terra — e os personagens principais logo descobrem o porquê.

Long Feng, o líder do Dai Li, é uma figura sinistra que se destaca em uma trama política bastante complexa. A organização liderada por ele era extremamente corrupta, e governava a nação das sombras ao manipular o rei. Atuando como uma agência de inteligência e repressão política, seu papel vilanesco é fundamental para a história. E, apesar de envolver temas complexos, toda essa parte da trama é apresentada de modo compreensível para o público mais jovem, sem deixar de lado a seriedade desses tópicos.

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Transtornos mentais

Azula é uma personagem icônica e uma vilã fantástica. Uma das coisas mais interessantes em Avatar é analisar como todo o arco da personagem, desde sua introdução, constrói de modo sutil seu eventual colapso no fim do desenho.

Seu perfeccionismo e necessidade de controle a levam à crueldade em inúmeras situações, mas a história não deixa de apontar para como todos ao redor de Azula falharam em dar a ela o suporte necessário, possibilitando que a situação escalasse a ponto de exacerbar os problemas da personagem. Mesmo sua crescente paranóia não é apresentada de modo caricato, e sim bastante triste, conforme a condição mental fragilizada da vilã a leva à autodestruição.

Não é um tema simples, mas a animação sempre a apresentou com a devida complexidade e cuidado — além de nunca indicar que Azula é uma vilã exclusivamente por causa de seu transtorno, evidenciando sempre o papel que seu pai, Ozai, teve em levá-la para esse caminho.

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Abuso

E, falando na Nação do Fogo e em um dos piores pais da ficção, temos mais um tema complexo que a animação trabalha bem. Ozai foi um pai abusivo para ambos seus filhos, algo evidenciado em Zuko, mas que a animação não ignora em como afetou Azula também.

Casos de abuso psicológico praticado por pais podem se manifestar de diversas formas, incluindo isolar, explorar e rejeitar os filhos, padrões de comportamento que fazem as crianças sentirem que não tem valor, não são amadas ou queridas, ou mesmo que estão em risco.

Em Avatar, logo fica evidente que essa é a situação de Zuko, que recebia alguma proteção de sua mãe, antes de ela ser forçada a deixar a Nação do Fogo, mas que se agrava após sua partida, culminando no Agni Kai em que Ozai é fisicamente violento contra o filho mesmo após ele manifestar seu arrependimento. Mesmo a situação de Azula reflete os comportamentos abusivos do pai em sua busca obsessiva por perfeição, sempre querendo se provar para ele.

Zuko confronta seu pai apenas após perceber tudo que sofreu. Com isso, o desenho trabalha com seriedade um tema extremamente complexo, e termina o arco com uma mensagem poderosa sobre lidar com sentimentos de culpa criados por situações abusivas, bem como a importância da autoaceitação e também de se defender em situações assim.

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Machismo

É verdade que atualmente mulheres conquistaram muitos direitos por meio de suas lutas, mas isso não impede a sociedade de continuar reproduzindo machismo de diversas formas, incluindo ao dar menos oportunidades para mulheres ou tentar mantê-las fora de certas áreas. E, ainda que bem real, esse problema também foi refletido de forma fictícia em Avatar, apresentando um tópico complexo e certamente conscientizando muitas crianças por aí (e reforçando para as meninas que não devem aceitar quando um homem diz que elas são menos capazes por serem meninas).

Na trama, isso é trabalhado principalmente por meio de Katara e Sokka. Logo no início da história, ela enfrenta os preconceitos do irmão e, depois, enfrenta uma situação ainda mais extrema quando ela e Aang buscam treinamento no Polo Norte. Pakku se recusa a treinar Katara para lutar, dizendo que o lugar das mulheres dobradoras de água é somente aprendendo a curar — e só muda de ideia após Katara o enfrentar em batalha, deixando claro que não vai simplesmente aceitar que não possa fazer algo por ser mulher.

Por sua vez, Sokka enfrenta os próprios preconceitos ao longo da história. Além de tudo envolvendo sua irmã, parte importante de seu desenvolvimento está relacionado às Guerreiras Kyoshi. Inicialmente ofendido por ser capturado por garotas, ele aprende na marra o quão capazes elas são, e eventualmente deixa seu orgulho de lado, reconhecendo a força de Suki e suas companheiras, bem como passando a admirá-las.

O tema pode ser apresentado de forma simplificada para as crianças e o tom da animação, mas não deixa de ser algo sério apresentado de forma efetiva.

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Genocídio

Complexo é um jeito simplista de descrever um tema tão sério quanto genocídio — e, mesmo assim, Avatar: A Lenda de Aang apresentou o tópico com a devida delicadeza ao longo de sua história ao tratar da tribo dos Nômades do Ar.

Logo no início, o tema é abordado quando Aang visita o Templo do Ar do Sul, onde encontra o esqueleto do Monge Gyatso. O momento é de partir o coração, e tem o devido peso na jornada do protagonista ao longo de toda a animação. Apesar de ser uma produção voltada para o público infantil, o desenho não hesitou ao lidar com o terror da guerra de diversas formas, incluindo este exemplo concreto de extrema violência. Mesmo assim, sempre houve cuidado, seriedade e espaço para demonstrar o quão devastador o tema é, sem usá-lo como mero recurso narrativo ou esvaziar o tópico de sua devida gravidade.

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Imperialismo

Por fim mais não menos importante, o imperialismo é um tema importante que A Lenda de Aang aborda com o devido cuidado. Ao longo da história, é possível ver os horrores da guerra, o efeito da expansão violenta e desmedida como o já citado genocídio contra os Nômades do Ar, a imposição da nação imperialista sobre as demais, bem como vários outros aspectos representados no desenho pela política da Nação do Fogo.

Mas Avatar vai além, e também toca em temas delicados sobre como o imperialismo é mantido e como o próprio povo da Nação do Fogo é convencido de serem “o lado certo da história”. Um dos elementos apresentados é o revisionismo histórico utilizado para controlar o povo, que é demonstrado quando Aang vai à escola e descobre, por exemplo, que a história ensinada ali alega que os Nômades do Ar eram uma organização militar, algo que ele sabe não ter um pingo de verdade.

Desde crianças, o povo da Nação do Fogo é ensinado a pensar que estão fazendo o bem para as outras nações, além de viverem em um regime que os priva até de coisas simples, como dançar — tudo para manter a disciplina e a ordem, criando novas gerações de soldados que serviriam sem questionar enquanto causavam atrocidades para conquistar outros povos.