Avatar: O Último Mestre do Ar – 10 vezes que as séries animadas tocaram em assuntos políticos

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Avatar: O Último Mestre do Ar – 10 vezes que as séries animadas tocaram em assuntos políticos

Por Gus Fiaux

A franquia Avatar está em alta novamente, conforme muitos fãs descobrem as maravilhas de A Lenda de Aang A Lenda de Korra – e se preparam para o live-action O Último Mestre do Ar, que chega à Netflix na semana que vem. A saga se passa em um mundo fantástico onde alguns seres humanos são capazes de controlar elementos (dobradores), e há o Avatar – um ser que representa o equilíbrio.

Porém, mesmo que a franquia se passe em um mundo fantástico, muitos elementos trabalhados em Aang Korra são ancorados na realidade, especialmente graças a várias subtramas políticas e sociais. Uma vez que aprendemos que arte e política são indissociáveis, aqui estão 10 questões políticas do mundo real que foram retratadas em Avatar!

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Imperialismo

Como já fica óbvio desde o começo, A Lenda de Aang traz vários elementos da cultura oriental, a começar pelas nações e seus papéis políticos. Enquanto o Reino da Terra representa, em boa parte, o território da China, a Nação do Fogo é uma grande analogia ao Japão em seu período imperial.

Na animação original, a Nação do Fogo é representada como a principal antagonista, e o Senhor do Fogo Ozai domina tudo com mãos de ferro. Essa é uma referência direta ao período que se estendeu de 1868 a 1947, quando o Japão se tornou uma potência imperial e bélica - culminando na participação do país na Segunda Guerra Mundial.

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A saga de Katara contra a misoginia e o machismo

Ainda na primeira temporada (ou livro) de A Lenda de Aang, vemos Aang e seus amigos indo até a Tribo da Água do Norte, onde eles precisam treinar a dobra de água com o mestre Pakku. No entanto, Katara logo se vê em um dilema bem delicado, já que é proibida de treinar por ser mulher.

A Tribo da Água do Norte pode ser inspirada por tribos reais como os inuítes e os iúpiques, mas a cultura trazida aqui é mais próxima do mundo ocidental antigo, com um sistema patriarcal e misógino, onde mulheres são privadas de atividades como combate. Na série, vemos como Katara precisa se opor ao machismo e provar seu potencial como uma guerreira.

O machismo do próprio Sokka é outro elemento importante na animação original, e é a partir daí que o personagem precisa se desconstruir para lidar melhor com a presença de mulheres em batalhas - porém, já foi confirmado que isso será "aliviado" no live-action da Netflix.

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Em tempos como o que vivemos, a alienação política é uma questão que precisa ser discutida amplamente. Em A Lenda de Aang, temos uma pequena amostra disso na sequência de episódios que se passa na cidade de Ba Sing Se, a capital do Reino da Terra.

Dentro dos muros da cidade, discutir os problemas "de fora" é estritamente proibido e o governo local passa a ideia de que "tudo está bem" e "é maravilhoso". Essa é uma tática usada por vários governos autoritários ao redor do mundo, suprimindo a liberdade de informação e expressão e criando a alienação de que tudo é perfeito e sem problemas.

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Arte e propaganda

A essa altura do campeonato, todos deveríamos concordar que arte e política se misturam e caminham juntas. Avatar nos mostra como isso funciona, nas duas séries animadas. Em A Lenda de Aang, conhecemos atores que fazem uma peça "inspirada" nas aventuras de Aang, porém com a visão de que ele e seus amigos são vilões contra a soberania da Nação do Fogo.

Em A Lenda de Korra, o inventor e empresário Varrick começa a produzir filmes estrelados por Bolin, que servem como propaganda política contra a Tribo da Água do Norte (de modo bem similar aos filmes feitos durante a Segunda Guerra Mundial). Essas duas subtramas mostram como a arte pode ser usada tanto a favor da libertação quanto da alienação do público.

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Interesses corporativos

Ao longo de toda a franquia Avatar, vemos como alguns governos e regimes se aproveitam de interesses corporativos para cumprir suas agendas. Em A Lenda de Aang, temos toda uma subtrama dos inventores liderados por um mecânico que se instalaram em um dos Templos do Ar, que fornece armas e máquinas para a Nação do Fogo. Eventualmente, ele se volta contra o governo do Senhor do Fogo Ozai.

Contudo, em A Lenda de Korra, temos uma abordagem ainda mais intensa dessa questão, seja através de Hiroshi Sato - o pai de Asami, que financia os planos maquiavélicos de Amon - ou de Varrick - que têm interesse em lucrar com a guerra civil das tribos da água. Em ambos os casos, podemos ver como o mercado e a economia influenciam na política e vice-versa.

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Democracia

Se A Lenda de Aang já tinha vários subtextos políticos e tramas que abordam essas questões sem medo, A Lenda de Korra se aprofunda ainda mais nesse assunto. Quando começamos a série, conhecemos a Cidade República, uma capital fundada por Aang que representa a coexistência pacífica das várias nações desse mundo.

Essa cidade representa, de muitas formas, o ideal da democracia - com vários povos reunidos representados por um conselho ou por um presidente eleito democraticamente. Ao mesmo tempo, a existência da cidade mostra como a democracia é frágil a partir do momento que ideais autoritários e ditatoriais começam a aflorar.

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Comunismo ditatorial

Há uma teoria bem popular entre os fãs de A Lenda de Korra, de que cada vilão da série representa um modo de governo autoritário e ditatorial. Para começar, temos Amon, o líder dos Igualistas - uma organização que acredita que o mundo seria melhor se todos fossem iguais, sem a presença de dobradores e pessoas com "privilégios" e "poder".

Essa é uma crítica análoga a alguns regimes comunistas que partiram para o viés autoritário. Pode-se notar através das ações de Amon que ele é um líder populista que investe na narrativa de "nós-contra-eles" - algo que é visto em diversos governos autoritários, sejam de direita ou de esquerda.

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Teocracia e extremismo religioso

A segunda temporada (ou livro) de A Lenda de Korra lida diretamente com o mundo espiritual e com a ascensão do perigoso Unalaq, um dobrador de água que pretende liberar o espírito maligno Vaatu para reformular o mundo à sua imagem. Muitos apontam que o vilão tem várias similaridades com governantes teocráticos e extremistas religiosos.

Embora a questão "religiosa" seja uma das interpretações para as ações de Unalaq, seu viés é basicamente o mesmo - fincado na crença de um único deus e sem espaço para a tolerância religiosa com outras crenças - motivo pelo qual ele deseja destruir Korra e o espírito da luz, Raava.

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Anarquia

As duas últimas temporadas de A Lenda de Korra são as que trazem questões políticas mais explícitas, a começar pela presença do vilão Zaheer e sua Ordem do Lótus Vermelho - uma organização anarquista que quer acabar com qualquer forma de ordem e governo no mundo de Avatar.

Zaheer é visto como um perfeito exemplo de anarquia dentro da cultura pop, por sua representação fiel aos ideais anarquistas. Ele (e seus aliados) deseja livrar o mundo de líderes - o que inclui a própria Avatar Korra, que representa a maior "líder" desse universo por conta de seu papel como defensora da ordem e do equilíbrio.

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Fascismo

Por fim, a última temporada da série não poupa elementos de crítica política em sua abordagem. Aqui, somos apresentados aos ideais de Kuvira, uma importante líder militar do Reino da Terra que deseja construir um império para reconstruir seu povo após alguns eventos do terceiro livro. A trama da quarta temporada aborda diretamente a questão do fascismo.

Kuvira é uma das vilãs mais bem construídas da série, e vemos sua ascensão de uma forma bem familiar, já que traz elementos do que aconteceu no mundo nas décadas de 30 e 40, com a ascensão de governos nazifascistas como o alemão e o italiano. Para quem tem interesse no assunto, é uma ótima forma de ver mais sobre ditaduras militares e governos totalitários.