Ao falar de X-Men: A Série Animada, muitos fãs se referem à produção como o "desenho original" dos Filhos do Átomo, como se nenhum tivesse sido feito anteriormente - o que não é verdade. Em 1989, um piloto de uma série animada foi lançado, com o título Pryde of the X-Men - trocadilho com a palavra "pride" (orgulho) e o nome de Kitty Pryde.

Na trama, acompanhamos Kitty como a nova recruta dos X-Men, conhecendo a equipe e a Mansão Xavier. O episódio contava com narração de Stan Lee e, por conta da recepção morna, o projeto da série foi engavetado. No entanto, Pryde foi lançado alguns anos depois em VHS, e até hoje há quem sonhe em ver uma nova adaptação na pegada do piloto descartado.

X-Men: A Série Animada teve um começo razoavelmente turbulento, já que sua estreia aconteceu em 31 de outubro de 1992. Após dois capítulos exibidos em novembro, a série desapareceu da programação da Fox Kids, e só retornou em janeiro do ano seguinte. Isso aconteceu por conta de alguns problemas na animação dos episódios.

Isso porque os animadores da Akom, um estúdio coreano responsável pela animação da primeira temporada, entregaram os episódios com vários erros que precisavam ser corrigidos, mas se recusaram a trabalhar novamente nos capítulos. A Fox então ameaçou não pagá-los, e o serviço foi feito. Antes do retorno da série, os dois primeiros episódios foram exibidos novamente, em uma "premiere" dupla.

Se você fechar os olhos agora e começar a pensar na musiquinha da abertura da animação, tenho certeza que vai conseguir ver claramente os personagens passando na sua cabeça, exibindo seus poderes e dando um gostinho do que tínhamos na série. No entanto, a abertura conta com uma figura misteriosa e que nunca teve sua identidade revelada.

Trata-se de um personagem careca, cabeçudo e que usa trajes verdes quando somos apresentados aos "vilões". Esse personagem apareceu uma única vez na série animada, ao lado dos membros da Tropa Alfa, mas sua identidade sempre permaneceu um mistério. De acordo com Larry Houston, diretor de todos os episódios da série, esse foi outro erro não-corrigido pela Akom.

Já pensou o que seria de uma adaptação dos X-Men sem o Profesor X ou a Jean Grey? Pois é, esse foi um pensamento que cruzou várias vezes a mente dos executivos da Fox, que inicialmente não queriam ver esses heróis estrelando X-Men: A Série Animada - e não só eles, como o Fera e alguns outros mutantes também.

O medo na época é que personagens com dons telepáticos não fossem atrair o interesse dos fãs mais jovens, e por isso eles quase foram abandonados nos planos originais da animação. Felizmente, os criadores de X-Men: A Série Animada bateram o pé e conseguiram fazer dos personagens figuras bem importantes na trama da animação.

Porém, engana-se quem pensa que esses foram os únicos conflitos internos durante a produção de X-Men: A Série Animada. Desde o começo, os criadores tiveram que disputar fortemente com os executivos da Fox, que insistiam que um triângulo amoroso entre Wolverine, Ciclope e Jean Grey não conquistaria atenção do público jovem.

Além disso, outra reclamação constante dos engravatados era sobre o fato da animação ser serializada - ou seja, com cada episódio desencadeando tramas para os episódios seguintes, em vez de um desenho episódico, como os que eram produzidos na época e permitiam ao espectador assistir ver qualquer capítulo fora de ordem. Felizmente, os criadores também venceram aqui.

Uma curiosidade bem interessante diz respeito ao Morfo, um dos heróis que começa ao lado da equipe mas logo "morre" e desaparece por um bom tempo, antes de retornar na segunda temporada da animação. Originalmente, os criadores da série animada queriam que o personagem fosse descartado e não tivesse retorno, apenas para mostrar o teor adulto da trama.

No entanto, em sua participação no primeiro episódio, o personagem acabou conquistando um grupo vocal de fãs, e graças ao clamor popular, ele acabou "voltando à vida" em tramas posteriores. Inclusive, ele é uma figura central no revival recém-lançado da animação, X-Men '97, conservando o visual da série de 1992.

Por ter sido uma das primeiras séries animadas serializadas da televisão, X-Men: A Série Animada passou por alguns problemas em sua exibição, e em grande parte, isso tinha a ver com o departamento de animação. Como cada episódio era animado por diferentes estúdios e havia a necessidade de soltá-los o quanto antes, os criadores "largaram mão" da continuidade.

Isso porque, a pedido da Fox, os episódios eram exibidos assim que ficavam prontos, o que resultou em uma cronologia completamente confusa ao longo de suas últimas três temporadas. Para se ter uma ideia, só com a chegada do desenho ao Disney+ que os criadores tiveram a chance de reorganizar os episódios para que eles tivessem algum sentido narrativo e continuidade.

O sucesso da animação fez a Fox perceber que havia espaço para trazer os X-Men para os cinemas - e de início, o plano era se manter fiel ao máximo às criações da animação. Por isso, David Hemblen, que deu voz ao vilão Magneto na animação original, acabou sendo chamado para interpretar o personagem no primeiro filme da equipe.

Hemblen não pôde participar devido ao seu envolvimento na série Terra: Conflito Final, e se viu forçado à recusar o papel. Anos depois, o filme foi produzido, com Bryan Singer na cadeira de diretor e Ian McKellen no papel de Magneto. Hemblen, por sua vez, faleceu em 2020 - mas é lembrado com muito carinho pelos fãs.

Originalmente, os criadores da animação foram informados que a série seria encerrada em sua quarta temporada - o que fez com que todos planejassem um final épico em quatro partes, chamado "Acima do Bem e do Mal", que encerraria várias pontas soltas, como a presença do Apocalipse e os planos diabólicos do Senhor Sinistro.

Porém, para a surpresa de todos, a série foi renovada para mais dez capítulos - a polêmica quinta temporada. Na época, a Marvel estava em uma grande crise financeira, à beira da falência, e não pôde financiar a produção dos seis últimos episódios, que foram encomendados diretamente pela Saban - e é por isso que seu visual é drasticamente diferente dos anteriores.