10 problemas na indústria dos quadrinhos que precisam ser resolvidos imediatamente!
10 problemas na indústria dos quadrinhos que precisam ser resolvidos imediatamente!
Por mais que seu foco sempre tenha sido a arte e o entretenimento, quadrinhos sempre foram vistos como um mercado seleto para um público bem específico, e como tal, sempre teve como base o lucro e números de vendas. Porém, essa visão tem atrapalhado bastante as HQs de super-heróis, e por isso, acabamos de listar dez problemas que precisam ser resolvidos o quanto antes!

Dependência de mega-eventos
O motivo: Todo ano, para alavancar o número de vendas, as editoras precisam de um mega-evento que chame a atenção de leitores, sejam novos ou antigos. Porém, isso está se tornando tão frequente que é comum, por ano, vermos cerca de três a quatro mega-eventos com grandes ramificações dentro de seus respectivos universos.
Por que precisa ser resolvido: Grandes eventos são importantes para revitalizar os quadrinhos. Contudo, quando acontecem com frequência, costuma-se notar uma queda na qualidade em prol das vendas. Além disso, o público fica saturado com muitas sagas com consequências importantes e, por não terem tempo "para respirar", esses eventos acabam perdendo o impacto. Isso também atrapalha os escritores das revistas mensais, que precisam fazer uma série de tie-ins não planejados inicialmente.
A solução: Sagas e eventos mais espaçados entre si, que sirvam para unir pontas soltas deixadas em várias revistas mensais. Menos obrigação com os tie-ins e impactos relevantes nas HQs. Exemplos que seguem a essas regras são as Guerras Secretas da Marvel e o Ponto de Ignição da DC.

Reboots e retcons constantes
O motivo: Leitores envelhecem e param de ler quadrinhos. Com isso, novos leitores se aproximam desses universos, mas veem diante de si décadas de histórias com as quais precisam lidar para poder entender a situação atual desses universos, fazendo com que as editoras insiram um grande reboot, reiniciando esse universo do zero. Ou então, por terem histórias de origens diretamente ligadas a um período histórico ou ultrapassadas, personagens sofrem retcons, tendo fatos de sua história alterados, o que quase sempre irrita fãs mais velhos.
Por que precisa ser resolvido: Os reboots são uma faca de dois gumes. Ainda que apresentem uma história nova para jovens leitores, eles fazem o leitor antigo sentir que "perdeu tempo" acompanhando um determinado universo e nem sempre conseguem superar o que veio antes, gerando duras críticas. Os retcons por sua vez funcionam de maneira similar e acabam interferindo no cânone já estabelecido das histórias.
A solução: Em vez de se preocupar com essa apresentação de todo um universo já estabelecido, dar espaço para o crescimento dos personagens, a passagem de manto e histórias mais desprendidas do conhecimento da cronologia são saídas perfeitas para que não se precise de um reboot ou de vários retcons nesses universos.

A polêmica da morte
O motivo: Polêmica vende. Personagens virando vilões, cometendo atos questionáveis, reviravoltas nas tramas... tudo isso vende. Mas nada chama tanta atenção quanto a morte de personagens importantes.
Por que precisa ser resolvido: A morte, quando bem utilizada, é um grande recurso para dar peso às histórias. Basta lembrar de casos como o Tio Ben e Gwen Stacy na revista do Homem-Aranha, ou então os pais do Batman. Todo o problema começa quando a morte é usada como artifício sem seu devido impacto. A partir daí, temos personagens que vem e vão, numa sucessão eterna de mortes e ressurreições que deixariam até o Goku com inveja e acabam fazendo o impacto de outras perdas ser reduzido.
A solução: Tratar a morte com seriedade. É um conceito importante que tem sua função nos quadrinhos e na vida real. E acabar com a ideia de que "qualquer morte pode ser revertida com uma ressurreição", porque isso tira o peso do evento em si.

Divulgação excessiva do cinema
O motivo: Depois de dominar os quadrinhos e animações, editoras como Marvel e DC estão promovendo sua extensiva invasão nos cinemas. E isso acontece nos dois sentidos: os filmes passam a ditar o que é importante dos quadrinhos e as HQs servem como material base para acolher os fãs do cinema que se interessam pela leitura.
Por que precisa ser resolvido: Apesar de ser uma lógica mercadológica óbvia, há uma linha tênue que separa os benefícios e os malefícios da interferência do cinema. Embora seja interessante "preparar a casa" para os leitores que vieram a partir dos filmes, a superexposição de personagens apenas por esse motivo - como os Guardiões da Galáxia ou o Esquadrão Suicida, que não tem tanta base para várias HQs e, ainda assim, com o sucesso dos seus filmes, ganham várias mensais e spin-offs solo - ou a mudança de personagens nas HQs para tornarem-se "mais fieis" aos filmes são fatores bem problemáticos.
A solução: Não há uma fórmula clara aqui. O que precisa ser feito é saber balancear decisões mercadológicas baseadas no cinema com as decisões da indústria de HQs. E principalmente, é necessário não deixar de lado personagens e grupos com histórias importantes para privilegiar outros que, por terem filmes e séries, são mais "dignos" de atenção do público.

Segmentação das histórias
O motivo: No início dos quadrinhos, cada revista possuía sua própria história fechada, com um início, meio, fim e ganchos para as próximas edições. Com o passar dos anos e a complexidade das histórias aumentando, as grandes histórias passaram a ser divididas em arcos - de normalmente, cinco a seis edições. Porém, isso se tornou algo tão intrínseco que, atualmente, alguns escritores fazem com que a mesma história aconteça em mais de cinquenta edições... e se você perder uma delas, corre o risco de não entender o que está acontecendo.
Por que precisa ser resolvido: Embora a complexidade seja algo sempre bem-vindo em relação às histórias, essa segmentação prejudica bastante, sobretudo os novos leitores, que não conseguem "entrar" nesses universos por terem perdido boa parte do que já foi publicado e pegarem o bonde andando.
A solução: Fazer como a Marvel e a DC têm feito em suas duas últimas linhas editorias (a All-New, All-Different Marvel e a DCYOU), criando volumes e arcos menores, que possam ser resolvidos brevemente - ainda que tenham complexidade - e possam dar espaço já a outros arcos e volumes.

Lotação de personagens esquecíveis
O motivo: Para manter o cenário sempre "novo" e movimentado, essas editoras criam personagens que são muito importantes para algum determinado evento... apenas para que, dois anos depois, eles sejam completamente esquecidos. Foi o caso da Esperança dos X-Men, de Grail, a filha de Darkseid, dentre outros personagens menores.
Por que precisa ser resolvido: Novos personagens são necessários para continuar revitalizando as HQs. O grande problema é que personagens novos, na maior parte das vezes, não encontram espaço no meio de marcas já registradas, e por conta disso, sempre serão menos importantes que outros heróis e vilões já estabelecidos.
A solução: Trazer esses personagens para o centro e dar boas histórias a eles, de modo que eles não caiam no esquecimento tão cedo. Há também outra solução, que diz respeito a essa estigmatização de heróis mais antigos como "marcas, lendas", mas falaremos mais adiante em outro item.

Hiper-dependência do universo compartilhado
O motivo: Com mega-eventos, personagens importantes e arcos que dependem de participações especiais para lucrar um pouco mais nas vendas, a indústria dos quadrinhos de super-heróis ficou excessivamente dependente dessa noção de universo compartilhado.
Por que precisa ser resolvido: Atualmente, é difícil lembrar de alguma revista, dentro dos carros-chefe mainstream das HQs que possa ser entendida completamente apenas com base em sua própria leitura. Isso dificulta e torna ruim a experiência de quem não gosta, ou não pode ler muitos quadrinhos simultaneamente.
A solução: Separar um pouco as coisas. Não é preciso transformar todas as revistas dos Vingadores em partes menores de uma história maior. Cada uma precisa ter sua própria história e funcionar independente dos demais títulos, ainda que eventualmente possamos ter referências nos diversos títulos.

Falta de foco em novos criadores
O motivo: A questão é bem simples - novos artistas (roteiristas e desenhistas) sempre são deixados de lado e invisibilizados perante alguns nomes mais consagrados... ainda que esses nomes não estejam produzindo conteúdo decente.
Por que precisa ser resolvido: A indústria precisa evoluir, e trazer novas pessoas contando novas histórias é crucial para que isso aconteça. Embora seja interessante tanto para os leitores quanto para as editoras ler e lançar quadrinhos de roteiristas e artistas já estabelecidos, por mais que a qualidade de suas obras tenha se tornado duvidosa, é importante dar espaço para uma gama nova de novos ícones consagrados no futuro.
A solução: Tornar mais eventual o resgate de artistas clássicos que não têm produzido obras decentes. E de preferência, aumentar a rotatividade dos novos artistas nos títulos publicados, de modo que todos possam ter um bom espaço nas editoras.

Contra-evolução de histórias e personagens
O motivo: Com cinquenta anos de publicação (ou mais), a maior parte dos personagens clássicos das editoras se tornaram ícones culturais. Dessa forma, tanto Marvel quanto DC fazem de tudo para que eles não evoluam e sempre tenham histórias similares que remetam diretamente ao clássico.
Por que precisa ser resolvido: Esse é o principal motivo pelo qual os leitores mais velhos abandonam as HQs. Depois de um tempo, todas as histórias são iguais e os personagens não evoluem com eles. E, ao mesmo tempo, o público novo muda, e já não se identifica com esse tipo de personagem. Daí surgem as mudanças, retcons e outros elementos que acabam deixando o leitor antigo revoltado, enquanto agradam mais aos novatos.
A solução: Fazer com que os personagens possam evoluir. As melhores histórias do Homem-Aranha e do Superman acontecem quando eles finalmente crescem e percebem sua importância e poder no mundo. E além disso, uma saída interessante (e que vem sendo utilizada) é o repasse do legado para novos personagens. Dessa forma, você mantém a marca, sem mudanças dentro de um personagem pré-determinado, mas dando a chance da passagem de manto para outros novos heróis que também crescerão e passarão seu legado para novos personagens, em um ciclo sem fim.

Falta de divulgação e interesse das editoras independentes
O motivo: É difícil explicar. É de conhecimento geral que algumas das melhores histórias e artistas estão fora do antro Marvel-DC (e muitos, até mesmo fora do núcleo de quadrinhos de super-heróis). Porém, devido ao impacto cultural dessas editoras e sua importância fora dos quadrinhos (no cinema e na TV), os leitores gerais não conseguem olhar para fora desse núcleo.
Por que precisa ser resolvido: Por um simples motivo - monopólio é um problema, ainda mais em lugar onde a concorrência é baixa. Com a fama de editoras fora desse núcleo Marvel/DC, é o impulso necessário para que as editoras possam melhorar suas histórias.
A solução: Maior divulgação das editoras independentes, por parte delas mesmo e por nossa parte, como fãs. Isso ajuda a descentralizar o conteúdo e criar histórias melhores para todos.