10 Premissas e abordagens sociais e políticas usadas nas mega-sagas da Marvel!

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10 Premissas e abordagens sociais e políticas usadas nas mega-sagas da Marvel!

Por Leo Gravena

Então, pensando nisso, reunimos dez abordagens sociais e políticas, que podem ser vistas no mundo real, inseridas em histórias em quadrinhos. Desconsideramos, contudo, arcos de personagens individuais e algumas premissas óbvias demais – por exemplo, as sagas mutantes em que sempre se desenvolve a intolerância e preconceito com o desconhecido, ou então a questão da sobrevivência do mais apto.

Além disso, gostaríamos de deixar claro que os assuntos aqui listados não indicam que os autores pensaram exatamente neles na hora de criar suas obras. Podemos até ter casos em que isso foi a última coisa que passou na cabeça do artista. Mas o que pode ser abstraído da mesma forma, afinal de contas, o sentido da arte se encontra no que o público usufrui dela e não no que o artista necessariamente quis propor de forma primária.

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Medo como ferramenta de dominação

A Essência do Medo

Em 2011, a Marvel lançava Fear Itself, uma mega-saga que foi criticada na época por suas conclusões apressadas e seu desenvolvimento superficial. Contudo, uma das ideias apresentadas ao longo da história é memorável: o uso do medo como tática de dominação e transformação do povo em massa de manobra.

Os civis estão cada vez mais inquietos e desesperados com o rumo pelo qual o mundo se desenvolve, com cada vez mais mascarados cometendo crimes e causando acidentes ao tentar protegê-los. E então que surge Cul Borson, a Serpente, um ser antigo que pretende dobrar a população da Terra, trazendo consigo ondas terroristas para controlar as pessoas e encurralar os heróis.

A saga pode não ter desenvolvido isso muito bem. Contudo, Essência do Medo é sobre como a experiência do terror, da falta de segurança, pode transformar as pessoas em feras e como alguém mal-intencionado pode virar isso a seu favor, dominando rebanhos e espalhando o caos.

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Conceitos primordiais de bem e mal

AXIS

Por que um vilão é do mal? E por que o herói é sempre aquele que faz o bem? O que os torna diferentes um do outro? Há alguma área cinza em que se encontre algumas pessoas? Ou essa área cinza mora dentro de cada um?

AXIS foi uma das mais recentes mega-sagas da Marvel e, apesar de ser duramente desprezada pela crítica - e nem mesmo saber lidar com a questão -, foi responsável por apresentar um questionamento pouco explorado em quadrinhos de heróis mais mainstream: o que aconteceria se os heróis que conhecemos e que foram nosso porto seguro durante anos, de repente, se tornassem vilões?

Isso, se fosse melhor explorado na saga, poderia dar passagem a questionamentos ainda maiores a respeito da existência de um lado bom e um lado mau. Porém, não foi algo muito bem desenvolvido...

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Avanço tecnológico desenfreado, procura por soluções rápidas, extermínio em massa

Era de Ultron

Outra saga que não foi lá bem recebida - as melhores ficam pro final, fique tranquilo - foi Era de Ultron. Porém, ela, implicitamente, trabalha com diversos conceitos que dariam uma boa discussão sob uma análise mais detalhada da obra.

Ultron sempre foi visto como um ser que procurava destruir a humanidade, a qualquer custo e, aqui, ele finalmente consegue. O arco então serve para nos mostrar uma possibilidade distópica e cruel proveniente do avanço desenfreado da tecnologia, o que poderia causar a extinção da humanidade, uma vez que essa tecnologia, ao ganhar sapiência, poderia se voltar contra seus criadores.

Contudo, o trunfo da obra se encontra na busca por soluções rápidas que corrijam o problema apenas a curto prazo - no caso da história, Wolverine e Sue Richards viajam no passado para matar Pym, para que ele não efetive a criação de Ultron. Esse é um problema que nos afeta mais do que imaginamos e que mostra o quanto devemos ser cautelosos em relação às nossas escolhas para que não provoquemos consequências drásticas sobre o nosso futuro.

A partir disso, poderíamos traçar paralelos com eleições, dilemas morais, escolhas simples que se desenrolam em situações complicadas... As possibilidades são infinitas.

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Segredos são as maiores armas da humanidade

Pecado Original

A trama dessa saga é bem simples. Alguém invadiu a base do Vigia na Lua e o assassinou, arrancando seus olhos e, agora, alguém precisa investigar.

Contudo, a saga se estende de um modo maior e procura mostrar como segredos, por menores que sejam, podem ser usados como armas mortíferas e sanguinárias. Em descobertas pequenas, sabemos em quem ou não confiar e como essas peculiaridades ocultas podem interferir nos nossos julgamentos sobre alguém.

É o ingresso que precisávamos para caminhar em direção às intrigas políticas da atualidade, com países guerreando em troca de informações secretas e como pequenos detalhes obscuros do passado podem influenciar na vida de uma pessoa, seja um político, uma celebridade ou um conhecido.

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Espionagem e invasão de privacidade; confiança

Invasão Secreta

O que você faria se, um dia, descobrisse que um parente ou amigo próximo e de confiança é, na verdade, apenas um espião que esteve vigiando e coletando dados sobre você durante todo o tempo que você o conheceu? Como você se sentiria e como agiria com outras pessoas?

Invasão Secreta trouxe os maiores heróis e vilões do planeta sendo substituídos por Skrulls, seres alienígenas transmorfos, que visavam a... bem... Invasão da Terra.

É difícil ver uma época que isso fosse relacionável, mas se ponha no lugar de um habitante dos Estados Unidos ou da União Soviética durante o período da Guerra Fria. Tente imaginar o medo, a falta de confiança em pessoas próximas e tudo causado pela tensão impregnada em invasões secretas e espionagem.

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Intromissão em assuntos estrangeiros

Vingadores vs. X-Men

Vamos dissecar Vingadores vs X-Men de modo rápido: a Fênix está voltando para a Terra, em busca de uma mutante. Os X-Men veem isso como um sinal de esperança. Os Vingadores ficam alertas e tem medo do que pode acontecer ao planeta. Eles conversam? Não. Os Vingadores, simplesmente, aparecem e descem a porrada nos X-Men, dizendo que eles estão errados e não sabem o que é melhor para eles.

Óbvio que o medo de que a Terra seja devastada por uma entidade alienígena é o suficiente para provocar ações drásticas, mas em momento algum os Vingadores se propuseram a ouvir o que os X-Men teriam a dizer a respeito do assunto, sendo que os mutantes são os primeiros a serem afetados sempre que o assunto é "Fênix".

Isso nos lembra muito bem o modo como algumas nações, organizações e grupos se propõem a salvar e proteger certas pessoas sem necessariamente ouvir o que elas tem a dizer a respeito do assunto. É o velho papo do "isso é melhor para você, e não discuta", com o qual já estamos acostumados há séculos.

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Superpopulação mundial

Desafio Infinito

Desafio Infinito é uma grande saga dos anos 90, encabeçando uma lista enorme de histórias cósmicas imprescindíveis para a Marvel. Porém, o evento que fez todo o enredo se desenrolar é digno de nota: a Morte ressuscita Thanos e o incube de uma tarefa: exterminar 50% do universo, tendo em vista que ele está populoso demais e isso gera problemas no equilíbrio. A partir daí, o Titã Louco vai atrás das jóias do infinito, os heróis tentam impedi-lo e o resto você pode ver lendo a revista.

Contudo, o questionamento trazido pela Dona Morte é válido. Seria digno chacinar parte da população apenas para se livrar de um número inchado que ameaça o equilíbrio? Em que ponto moral chegaríamos para "salvar" o mundo, caso necessário?

Um arco que examina muito bem esse tipo de pensamento é a fase de Jonathan Hickman nos Novos Vingadores. Lá, a equipe tem de decidir entre sacrificar a Terra e assassinar outros mundos inteiros em prol do nosso.

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Manipulação política

Reinado Sombrio

O Reinado Sombrio e o Cerco trouxeram à tona um tema bastante explorado na mídia: a manipulação política e operações secretas, que fazem os vilões parecerem os mocinhos da história. Norman Osborn assume poder como secretário de defesa dos Estados Unidos e, inclusive, constrói sua própria organização de segurança: o MARTELO.

Contudo, tudo se dá através de um esquema manipulatório e mentiroso, operando por debaixo dos panos do governo. Isso remete fortemente aos inúmeros esquemas de corrupção dos governos mundiais.

E tudo se encaminha para algo ainda mais grandioso na saga o Cerco, que explora o quanto pessoas mal-intencionadas podem criar um bode expiatório e agir de má fé em cima disso.

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Vigilantes e dilemas ideológicos

Guerra Civil

A Guerra Civil dos super-humanos se deu porque, depois que um incidente envolvendo heróis e vilões amadores resultou na morte de inocentes, o governo decidiu criar uma lei que pudesse registrar e treinar os heróis ao redor do mundo. Há quem tenha acatado a lei e há quem não. Isso por si só já é o suficiente para nos fazer levantar algumas reflexões importantes.

Quase todo mundo ficou do lado do Capitão América durante a saga... mas será que ele realmente estava certo? Como o povo deveria se comportar frente a colocar a fé nas mãos de pessoas que tentam salvá-los todos os dias, mas que ainda assim estão suscetíveis a provocar acidentes que resultem em mortes e em destruição?

E, finalmente, algo que nos afeta mais diretamente (especialmente na época pela qual o Brasil está passando): como conflitos ideológicos podem separar amigos e transformá-los em inimigos, ao mesmo tempo que essas ideologias podem unir pessoas com comportamentos completamente diferentes, em prol apenas de um fim comum.

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Ideais utópicos

Guerras Secretas e Dinastia M

O que as Guerras Secretas atuais e a Dinastia M tâm em comum? Ambas mostram um mundo utópico, criado a partir da visão de uma pessoa e o quanto esse mundo é falho por não representar a totalidade do grupo que ali habita.

Com isso, começamos a pensar em como nossos ideais e pensamentos podem não funcionar para as outras pessoas e, ainda assim, continuamos constantemente empurrando os nossos lados pessoais, seja em discussões, em escolhas e todo o resto.

Vale a pena lutar inteiramente por algo que corresponde apenas à visão de um grupo sobre o mundo? Como devemos pensar nas outras pessoas, em questões assim?