Em 2007, a New Line Cinema lançou a adaptação do primeiro livro da trilogia de Phillip Pullman, intitulado A Bússola de Ouro. E os fãs da saga sabem como essa transcrição para as telas foi traumática, já que o longa sofreu boicote de igrejas e grupos religiosos antes mesmo de seu lançamento, o que afetou bastante a produção.

Além de diversos cortes que amenizam as críticas propostas pela trama, o filme teve seu final modificado. Além de ter sido um fracasso comercial, o longa acabou deixando os fãs bem decepcionados. Felizmente, His Dark Materials não é nada como o filme e o ignora por completo, dando um novo início à saga.

Por mais que tenha tido diversos problemas, o filme ao menos contava com um elenco sensacional, encabeçado por Nicole Kidman, Daniel Craig, Eva Green e outros. Porém, a série não fica atrás, mesmo trazendo outros atores e atrizes. O destaque vai para James McAvoy como Lorde Asriel, o "tio" ranzinza da protagonista.

Além dele, Ruth Wilson brilha no papel de Marisa Coulter, uma mulher enigmática e inescrupulosa. Outras adições brilhantes do elenco incluem Lin-Manuel Miranda como Lee Scoresby, um aventureiro charmoso, além de Anne-Marie Duff, Ruta Gedmintas e Andrew Scott, todos em papéis de destaque.

Você deve estar se perguntando por que não mencionamos a própria protagonista da série no item anterior. Basicamente, a jovem Lyra Belacqua merece um item só para si, já que ela é uma heroína bem diferente do que costumamos ver em séries e franquias de ficção científica e fantasia.

Apesar de jovem, ela é bem astuta e inteligente, além de sempre se questionar sobre o mundo ao seu redor. Ela também é pura e cheia de um espírito aventureiro, apesar de saber que o mundo não é um lugar legal. E a atuação de Dafne Keen (de Logan) torna Lyra ainda mais interessante e complexa!

Muitos ainda têm um certo preconceito com séries de televisão, já que esse tipo de produção geralmente não possui o orçamento necessário para criar bons efeitos visuais. Porém, depois de Game of Thrones, isso tem mudado, e His Dark Materials é a prova concreta, já que os produtores não economizam na hora de criar visuais incríveis.

A série explora muito bem o lado fantástico desse universo, seja pelos daemons ou por outros elementos mais fantasiosos. Nos próximos episódios, também seremos apresentados aos ursos de armadura e às bruxas, e pelos trailers, já podemos ver que eles não pouparam recursos para criar os elementos mais fiéis possíveis aos livros.

Uma das coisas que torna Fronteiras do Universo - e, por consequência, His Dark Materials - uma das séries mais fascinantes de fantasia da literatura é justamente a construção de universo por trás desse mundo (ou desses mundos). A história "principal" é situada em uma realidade alternativa, onde os humanos são acompanhados de daemons.

Os daemons nada mais são do que a alma das pessoas, personificada em um animal que as representa. Além disso, esse mundo também conta com outras criaturas fantásticas, como bruxas e ursos de armadura. Além disso, a série também explora questões políticas e religiosas de uma forma bem interessante - sobre as quais iremos falar logo logo...

Outro elemento interessante de Fronteiras do Universo - que já está sendo tratado na série - são as realidades alternativas. Além do mundo habitado por daemons, bruxas e ursos falantes, existem vários outros universos citados na franquia - inclusive um que é muito parecido com o nosso, sem elementos "sobrenaturais".

Tudo isso faz com que a franquia misture muito bem elementos de ficção científica com fantasia. É uma união que funciona muito bem, além de ter várias reviravoltas intensas. A série já está trabalhando isso, inserindo inclusive elementos que não estão apenas em A Bússola de Ouro, mas também em A Faca Sutil e A Luneta Âmbar.

Por mais que esses elementos de fantasia e ficção científica estejam bem presentes, o foco da série está nas relações humanas - e principalmente na política. O mundo de Lyra Belacqua é comandado pelo Magistério, uma organização teocrática que se assemelha bastante à Igreja Católica do nosso mundo.

A história de His Dark Materials se aprofunda nisso, mostrando como política e religião não devem se misturar, pelo bem da democracia. A história da série mostra como algumas agendas teocráticas são contrárias ao avanço científico e como muitas ditaduras usam o pretexto da religião como ferramenta de manipulação em massa.

Além disso, um dos elementos que mais se destaca, tanto nos livros quanto na série, é a complexidade de seus personagens. É difícil definir quem é herói e quem é vilão, já que todos os personagens são multidimensionais e cheios de nuances. A própria Lyra Belacqua é muito complexa, e está sempre dividida entre fazer o que é certo e seguir seus instintos.

Porém, os que mais se destacam nesses quesitos são o Lorde Asriel e Marisa Coulter, que são personagens muito ambíguos e que nunca mostram claramente sua verdadeira personalidade. Ambos caminham no limiar entre a luz e as trevas, e são figuras essenciais na jornada de Lyra, além de servirem como os "guias morais" da menina.

Se você, como eu, ainda está traumatizado pelo filme de 2007, que prometeu o começo de uma franquia e acabou tendo esses planos esmigalhados pelo boicote sofrido, pode ficar tranquilo, já que His Dark Materials veio para ficar. A série ainda está em sua primeira temporada, mas a segunda já está sendo gravada.

Mais do que isso, a série não está se afastando de elementos dos outros livros. Muitas ideias de A Faca Sutil já estão sendo apresentadas aqui, criando uma expectativa para o que acontecerá no futuro. A (belíssima) abertura da série já prova isso, mostrando não apenas o Aletiômetro (a Bússola de Ouro), como também a Faca Sutil e a Luneta Âmbar.

Muitos estavam preocupados em ver outra adaptação de Fronteiras do Universo que não respeitasse o material-fonte, que são os livros de Phillip Pullman. Felizmente, His Dark Materials já nos provou errados, mostrando que vai sim se aprofundar na mitologia da saga e explorar territórios ainda inexplorados nas telas.

Porém, mais do que isso, a série não tem medo de colocar o dedo na ferida e entregar críticas fervorosas, principalmente à Igreja e ao seu papel quando atrelada à política. É um alívio, especialmente após o fracasso de A Bússola de Ouro, em 2007, que os criadores da série estejam dispostos a mergulhar em temas controversos e polêmicos.