No Brasil, os mangás de Pokémon vem sendo publicados pela Panini bimestralmente desde o começo, após um breve experimento com o arco Black & White. Em 2016, a editora começou a distribuir a primeira saga — Red Green Blue — que acompanhava a jornada destes personagens pela região de Kanto.

Red e Blue podem parecer familiares, afinal, seu visual lembra o de Ash e Gary do anime, mas a personalidade é bem mais áspera. Green, a menina que completa o trio, é inspirada em uma personagem cortada do game original e também protagoniza uns momentos bem peculiares. Assim como a primeira temporada do anime era mais sarcástica, a primeira saga do mangá tinha mais liberdade para ser sombria e explorar Pokémon de uma forma mais macabra.

A cada novo arco, a atmosfera foi sendo amenizada para não chocar muito o público internacional, mas sempre mantendo uma visão bem única do universo Pokémon que continuou cativando uma legião própria de fãs. Separamos nesta lista 10 cenas, principalmente dessas sagas iniciais, que vão te mostrar porque os mangás tem essa fama de ser tão sombrio.

Talvez o quadro mais famoso do mangá, que sempre surge quando alguém quer argumentar que é uma história “mais madura”, é a cena em que um Arbok é cortado ao meio durante uma batalha. E o desenhista ainda faz questão de mostrar a carne e o osso do Pokémon na parte dilacerada. Sabe qual é o pior? Isso nem é feito por um vilão. O Charmeleon de Blue, rival do protagonista, que ataca a cobra com sua cauda.

No último capítulo do primeiro volume, Red resgata Blue da Torre Fantasma de Lavender. O treinador estava sendo controlado pelo Gastly do Líder de Ginásio Koga, que neste universo é um Comandante da Equipe Rocket. Ao ser libertado de seu domínio, o jovem não fica nem um pouco feliz e desconta na Arbok do seu adversário com um golpe fatal.

Não bastasse controlar a mente de Blue com um Pokémon Fastasma, Koga, neste mesmo capítulo, profanou túmulos para reerguer a carcaça apodrecida de Pokémon mortos e construir um exército de escravos zumbi.

Quando Red chega na Torre Fantasma, encontra um Psyduck que parecia normal, até que a pele em seu rosto começa a derreter. Atacando o macabro inimigo com as vinhas de seu Bulbassauro, o pato se desfaz em uma pilha de ossos e cinzas, o que é simplesmente perturbador. E olha que este era apenas um de um exército de Pokémon mortos sob o controle de Koga.

Ainda no mesmo volume, alguns capítulos antes, é a vez do Giovanni botar o Pal na mesa (Sim, ainda não superei os trocadilhos de Palworld). O temido Líder da Equipe Rocket é muito mais presente na história do mangá, sempre se aproximando de Red como um homem gentil e prestativo. Quando, na verdade, seu objetivo é apenas espionar o menino, fazendo atrocidades por suas costas.

Uma dessas atrocidades é quebrar completamente em pedacinhos o corpo de um Pokémon congelado. No capítulo 9, após ajudar Red em uma caverna, Giovanni ordena que seu Cloyster transforme um Magmar em um cubo de gelo. Conseguir resfriar completamente o corpo de um Pokémon de Fogo, por si só, é um feito impressionante. Mas, não satisfeito, o terrível mafioso ordena pela destruição de seu adversário completamente.

Tudo bem o anime teve a sua cota de sexualização problemática, em especial envolvendo os peitos de borracha do James em um episódio que foi banido no ocidente. Ainda tem umas cenas esquisitas com o flerte exagerado do Brock, mas sempre com personagens que se presume ser maiores de idade. O mangá faz isso com garotas de 12 anos.

Em uma dessas cenas, Misty está tomando banho com um shortinho mínimo, enquanto rapazes tentam espiar. Mas a mais marcante é menos polêmica — Green escondendo Pokébolas nos peitos.

No volume 3 da Saga Red Green Blue, imobilizada pelos poderes psíquicos de Sabrina, que além de Líder de Ginásio também é uma Comandante da Equipe Rocket, a garota parecia encurralada. Então, ela provoca a inimiga, comentando que não era uma mulher de peito… Digamos assim. Como retaliação, a Líder ordena que seu Kadabra arranque os peitos de Blue, só para revelar um par de Pokébolas escondido de baixo de sua roupa.

O momento, icônico para garotas e gays por todo o mundo, não foi visto por bons olhos por muita gente. Nos Estados Unidos e na Europa, a cena foi censurada. Porém, no Brasil, a edição da Panini manteve o momento surpreendente intacto, como no original.

Pulando para o arco seguinte, Pokémon Yellow, os heróis enfrentam uma ameaça ainda maior: o perigo do iminente genocídio da população de Kanto. Nesta versão, a Elite dos 4 é formada por quatro treinadores com um nível de poder muito maior forte que os Líderes de Ginásio. Porém eles não tem qualquer pretensão de usar esse poder para o bem e se mostram ainda piores que a Equipe Rocket.

Lorelei, Bruno, Agatha e Lance amam demais os Pokémon e viram toda a dor e o sofrimento que os humanos podem causar aos seus amigos. E a solução: exterminar completamente a humanidade. O quarteto sequer hesita em seu plano de promover genocídio em escala global, começando por Kanto. Mas, felizmente, são impedidos por Yellow e seus amigos.

Lance pode ter falhado em seu plano de genocídio em escala global… Mas em escala local, ele até que foi bem sucedido. Assim como Darth Vader destruiu Alderaan em Star Wars com uma combinação de raios laser, o Mestre dos Dragões pulverizou parte da Cidade de Vermilion, do Tenente Surge, com a união de Hiper Raios de seus Dragonites. Agora sabemos para que ele tem tantos Pokémon repetidos…

Controlar o movimento de outros humanos contra a sua vontade é um poder recorrente entre os vilões da primeira fase do mangá. Afinal, nada mais assustador que perder o comando do próprio corpo. E enquanto Koga e Agatha conseguem essa habilidade comandando a possessão de Pokémon Fantasma, Lorelei tem uma outra maneira de manipular seus inimigos: com bonecos vudu de gelo.

Além das miniaturas, a vilã ainda conta com algemas de gelo e outros ataques com estacas que podem perfurar seus adversários. Seu poder de gelo é tão agressivo que causa um dano persistente em Red e Sabrina, por exemplo, que precisam ainda lidar com o trauma no arco seguinte, em Pokémon Gold & Silver.

Na reta final do arco Yellow, cada protagonista enfrenta um membro da Elite dos 4 — e a perigosa Lorelei, a dama de gelo, precisou encarar Green. Só que ela não esperava que a garota fosse ser ainda mais doida e imprevisível que ela. Ao ser pega pelas algemas e pelo boneco vudu de Lorelei, Green fez algo inusitado: quebrou o braço de sua réplica para se soltar, cortando fora a própria mão.

A cena em si é chocante, mas felizmente tudo fica bem no final. Na verdade, Green havia envolvido o seu braço e o de Sabrina por seu Ditto, que estava imitando com perfeição sua mestra. E quando o boneco foi rompido, o Pokémon conseguiu redirecionar o dano, protegendo sua treinadora. E ele ainda aproveitou a confusão para prender Lorelei de vez. Ditto meio que é o maioral.

Os mangás de Pokémon sabem escrever os seus vilões. Não são apenas lunático atrás de um Pokémon lendário… Bem, isso também. Mas acima de tudo são verdadeiros criminosos. O grande inimigo do arco Gold & Silver, o Homem Mascarado, tem como sua grande marca o tráfico e alienamento infantil.

Com a intenção de fortalecer a Neo Equipe Rocket, este misterioso vilão sequestrou crianças, ainda pequenas, para que crescessem em grandes recursos para a organização maligna. Longe de suas famílias, elas eram instruídas apenas a treinar para se especializar em alguma função. Duas dessas crianças são Silver e Green, enquanto outros dois são importantes membros da Elite dos 4 de Johto: Will e Karen.

Spoiler para quem não leu a saga FireRed & LeafGreen e Black & White, mas nem sempre os mocinhos saem vitoriosos. Em um mundo onde as ameaças são tão grandiosas, arriscar uma vitória, muitas vezes, traz graves consequências.

Red, Blue, Green e Silver, por exemplo, acabam a saga FireRed & LeafGreen transformados em pedra, um momento icônico que rende o Arco Emerald. Anos depois (ou “anos antes” considerando a ordem de publicação do Brasil), Black termina selado junto de Reshiram na Pedra da Luz em Black & White. E em ambos casos, o vilão sai impune. Não é fácil no mundinho do mangá Pokémon.