Antes de mais nada, é preciso definir o Ragnarok. Nos quadrinhos - e na mitologia nórdica - trata-se do apocalipse dos deuses. É quando todos os inimigos de Asgard se reúnem para derrotar o Reino Dourado. Temos então uma grande batalha, movimentada em diversos frontes e, por fim, tudo acaba.

Mas o Ragnarok não é apenas fim, como também é o início. Ele funciona em uma estrutura cíclica e a cada novo evento, alguns deuses sobrevivem. Os que morreram logo renascem em outros corpos e se dá o início de uma nova era, que terá seu apogeu até o advento de outro Ragnarok para por fim a tudo que existe novamente.

Nos quadrinhos, a estrutura cíclica do Ragnarok sempre foi aproveitada, de modo que esse evento foi representado diversas vezes. A mais famosa delas se deu ainda na era Kirby e Lee, quando a chegada do Mangog quase desencadeou no fim dos deuses. Posteriormente, esse evento continuou sendo repetido.

A Saga de Surtur também traz diversos análogos com o Ragnarok, quando o Demônio de Fogo se une à sua Espada do Crepúsculo e quase derrota os heróis asgardianos. Mais recentemente, a saga Thor: A Queda serviu para trazer um Ragnarok definitivo, onde os deuses realmente morreram e foram reencarnados em outros corpos posteriormente.

O Ragnarok sempre conta com a presença de algumas figuras bem específicas da mitologia nórdica. Nem sempre elas aparecem em todas as versões, mas sua presença é sempre digna de arrepios. A primeira delas é Hela - que estará em Thor: Ragnarok, provocando o fim dos deuses com sua brutalidade.

Hela é a primeira a marchar contra Asgard, aliando-se ao demônio de fogo Surtur. Ela marcha juntamente de seu infinito exército de mortos, pronta para conquistar o território e as almas asgardianas. Vale lembrar que ela é uma das filhas de Loki e acaba cumprindo o papel desejado por seu pai, ainda que involuntariamente.

Surtur sempre foi visto como o principal inimigo de Odin. O Demônio de Fogo sempre nutriu uma rivalidade odiosa pelo Pai de Todos e o fato de ter sido derrotado diversas vezes pelo deus não fez com que ele esquecesse essa hostilidade facilmente.

Ele é o principal responsável pela destruição do Reino Dourado. Com sua Espada do Crepúsculo, ele varre a cidade, aniquilando tudo que há pela frente. Eventualmente, após reduzir Asgard às cinzas, ele retorna para seu mundo natal, Muspelheim, onde volta a hibernar e se prepara para o próximo ciclo do Ragnarok.

Loki é possivelmente a figura mais central do Ragnarok, uma vez que toda sua existência é condicionada para a repetição do evento. Ele é o responsável pela morte de Balder, um deus importante na mitologia. A partir disso, ele é encarcerado e mantido envenenado constantemente.

Tudo muda quando ele se liberta de sua prisão e parte em direção à Asgard, reunindo todos os inimigos dos deuses para devastar a cidade. Durante o Ragnarok dos quadrinhos, ele libera suas três crias: Hela, Fenris e Jormungand, cada qual responsável por uma importante baixa do Reino Dourado.

Fenris é um lobo gigantesco, filho de Loki com a gigante Angerboda. Ele possui uma força descomunal e inteligência sobre-humana, além da capacidade de moldar sua própria forma física, tornando-se o que bem entender - um talento herdado de seu pai.

Durante o conflito, ele é uma das figuras mais ferozes, atacando Asgard sem dó e piedade. Ao fim, Odin se põe contra ele para poder enfrentá-lo, mas é devorado em uma só mordida pela criatura. Vale lembrar que Fenris também já foi responsável pela perda da mão de Tyr, o deus da guerra nórdico.

Jormungand é uma das figuras essenciais do Ragnarok e já foi representada de formas diferentes nos quadrinhos. Inicialmente, trata-se da serpente que dorme nas raízes da Árvore-Mundo e, por fim, surge para atacar Thor. Nos quadrinhos, ela tem um arco muito importante na fase de Walt Simonson.

Contudo, recentemente, ela sofreu um retcon. É revelado que a verdadeira Serpente do Mundo é Cul Borson, o irmão de Odin e deus do medo de Asgard. Ele enfrenta Thor na saga A Essência do Medo e seu final é bem similar ao dos quadrinhos: Thor consegue matá-lo e após dar nove passos, cai morto no chão.

Nos quadrinhos, a Marvel foi além e deu uma personificação ao apocalipse nórdico. Durante a Guerra Civil, o Homem de Ferro e outros cientistas criaram Ragnarok, um clone androide de Thor, que era programado para servi-los. O ser acabou se revoltando e atacou Golias, assassinando-o a sangue frio.

Posteriormente, o próprio Thor foi cobrar explicações de Tony Stark por tamanha afronta à sua honra. Enquanto isso, Ragnarok foi se tornando cada vez mais independente, e os dois "Deuses do Trovão" já se enfrentaram mortalmente logo após O Cerco, quando Norman Osborn atacou Asgard. Curiosamente, o personagem não tem tanta relação com o evento apocalíptico, a não ser pelo nome.

Na mitologia nórdica, o Ragnarok acontece englobando diversos acontecimentos de eventos que existiram nos quadrinhos. Todas as fontes histórias sobre o assunto concordam que o evento acontece quando todos os inimigos de Asgard se reúnem para destroçar o Reino Dourado e matar os deuses.

O início da trama é sempre o mesmo: Loki consegue, através de suas artimanhas, assassinar Balder. Isso desencadeia os eventos que destruíram a cidade dos deuses. Fenris ataca Odin e o engole por inteiro, enquanto Thor mata a Serpente de Midgard, mas morre logo em seguida. Contudo, outros elementos das HQs não existem na mitologia, como por exemplo a invasão de Hela, Mangog e o clone de Thor.

Terceiro e último filme do Deus do Trovão, Thor: Ragnarok deve adaptar bastante os elementos do arco dos quadrinhos. Sabemos que Hela irá vir para destruir Asgard e comandar o Reino Dourado com seu exército de mortos. Além disso, os trailers confirmam a participação de Fenris e Surtur.

Não sabemos ao certo o que isso significará para o Universo Cinematográfico da Marvel, e se, assim como nos quadrinhos e nas lendas nórdicas, representará o fim de um ciclo e o começo de outro. Ao mesmo tempo, o longa também abordará diversos elementos novos, como a presença do Hulk em uma arena de gladiadores e até mesmo o Doutor Estranho.