A série original de Penny Dreadful tem um visual e uma ambientação bem distintos. A trama se passa na Inglaterra, no fim da década de 1890 - nos últimos anos da Era Vitoriana. E apesar do horror sempre ter sido o foco, a série sempre abordou os costumes e a cultura daquele período.

Já City of Angels vai ser situada nos Estados Unidos - mais precisamente, em Los Angeles -, em 1938. A ambientação precisa ser impecável (algo que a série original sempre acertou) e o contexto da época precisa ser trazido com perfeição para as telas, incluindo as questões políticas e culturais dessa época.

E por falar nisso, não podemos nos esquecer de um dos maiores méritos da série original: toda a parte técnica. Penny Dreadful sempre se destacou, principalmente em meio às produções televisivas de horror, por sua estética brilhante, desde a cenografia impecável a um trabalho de figurino e maquiagem primoroso.

Com Penny Dreadful: City of Angels, os criadores têm a chance de trabalhar isso novamente, com o mesmo brilhantismo da série original. Há muito a se trabalhar na hora de ambientar a série em seu contexto histórico, com novos figurinos e produções cenográficas, além de efeitos visuais e práticos que se complementem.

Como já foi revelado anteriormente, a série não se chamará City of Angels à toa. A trama se passará em Los Angeles, conhecida como a "cidade dos anjos" dos Estados Unidos, e vai abordar o conflito cultural entre a cultura local e os imigrantes latinos, sobretudo vindos do México. Então, esse deve ser um grande elemento da narrativa.

Será bem importante ver esse contexto na história, já que é algo que traz repercussões visíveis nos Estados Unidos até hoje. A série precisa explorar a relação entre essas duas culturas muito distintas e inclusive as diferenças no que "horror" significa para cada uma delas, seja em seus mitos e lendas ou em seus contextos sociopolíticos.

Falar de Penny Dreadful sem citar Vanessa Ives é um verdadeiro sacrilégio. A personagem é o coração que movimenta a trama da série, já que desde o início somos apresentados aos seus dons mediúnicos e às criaturas sombrias que desejam possuí-la para dar início a um novo período de trevas no universo.

City of Angels precisa trazer um protagonista à altura da personagem, e com um ator ou atriz que seja tão comprometido com o papel quanto Eva Green. O mínimo que queremos é uma figura que consiga trazer esse nível de conexão emocional com o público, e que seja uma figura multidimensional e cheia de nuances dramáticas.

Por mais que Vanessa Ives seja o coração da série original, não podemos negar que Penny Dreadful sempre fez maravilhas na hora de trazer diversos núcleos distintos de personagens, que interagem entre si e que formam grandes tramas interconectadas. A série sempre soube manejar seu grandioso elenco muito bem.

No caso de City of Angels, não esperamos menos que isso. O elenco anunciado até agora parece ser bem grande, e seria muito interessante ver vários personagens vivendo suas vidas individuais, unidos ocasionalmente pela presença de uma grande ameaça sobrenatural ou até mesmo humana.

Penny Dreadful não é apenas conhecida por seus protagonistas, mas também por seus vilões. Dentre eles, destaco Evelyn Poole e seu coven de bruxas, que servem a Lúcifer, as grandes antagonistas da segunda temporada. E tudo o que esperamos é que City of Angels também tenha vilões à altura.

Seria interessante ver personagens de diversos tipos - tanto entidades sobrenaturais como seres humanos inescrupulosos - assumindo o lugar dos vilões, e mostrando os males que assolam a humanidade desde sempre. Além disso, como a série vai trazer vários elementos políticos, tem-se aqui uma oportunidade de se criar um bom comentário social.

Até o momento, ainda não temos informações a respeito da trama da série ou dos personagens que estarão nela. Contudo, seria interessante se City of Angels seguisse o modelo de sua predecessora e trouxesse algumas ideias da literatura - dessa vez, pegando grandes nomes do horror norte-americano da época.

Há vários autores que já haviam trazido obras descomunais à vida antes da década de 1930, como H.P. Lovecraft, o "pai" do horror cósmico, ou Edgar Allan Poe, que encantou com suas fantasias góticas. Além deles, há outros autores que poderiam ser revisitados, como Shirley Jackson e Henry James.

Mesmo que a nova série não mergulhe inteiramente na literatura de horror americana, há outras soluções muito cabíveis e que precisam ser honradas: a vasta quantidade de mitos folclóricos e lendas dos Estados Unidos e do México. Há uma grande variedade de histórias sobrenaturais e assustadoras que podem ser adaptadas.

Talvez, a nova série devesse percorrer justamente esse caminho, explorando mais a fundo as lendas urbanas da América do Norte, já que elas intensificariam esse choque cultural que deve ser o cerne da série. Entre as várias figuras que podem estar presentes, temos lobisomens (que já estavam na original), casas mal-assombradas e fantasmas.

Dentre todas as qualidades pelas quais Penny Dreadful é conhecida, seu final definitivamente não entra na lista. O encerramento da terceira temporada é corrido, apressado e decepcionante, finalizando a história de Vanessa Ives de uma forma bem aquém do esperado. Ainda assim, a série derivada não pode repetir esse problema.

Ainda não sabemos quantas temporadas estão planejadas para City of Angels, e nem se o programa está sendo preparado como uma minissérie, mas é imprescindível que ela consiga ter um encerramento digno, que possa "apagar" um pouco os defeitos da terceira temporada de Penny Dreadful.

Além disso, o novo spin-off poderia muito bem contar com retornos de personagens da série original. Dentre eles, três serviriam perfeitamente para esse tipo de história: Caliban, o monstro criado por Victor Frankenstein; Dorian Gray e Ethan Chandler, o lobisomem norte-americano que foge para a Inglaterra na série original.

No entanto, é bem improvável que Caliban apareça, já que o ator Rory Kinnear deve retornar para a série em um papel diferente. Ainda assim, Dorian e Ethan poderiam muito bem retornar - especialmente considerando que só se passaram cerca de quarenta anos entre o fim da série original e o começo da série derivada.