O maior erro das duas franquias anteriores do Quarteto Fantástico foi transformar a essência de Victor Von Doom em algo risível. Nos filmes de 2005 e 2007, ele é um magnata narcisista e no reboot de 2015, ele é um cientista barato. Levando os quadrinhos ao pé da letra, Victor Von Doom é um homem apaixonado por sua nação, a Latvéria.

Situada em algum lugar do leste europeu, a Latvéria é um pequeno país rural dominado por reis e déspotas ao longo de diversos anos. Victor faz uma jornada de caráter e acaba se transformando no rei da Latvéria. E todos os seus atos são para o bem de seu povo. O filme solo precisa abordar como a nação molda o homem e como ele molda ela.

Como dito no item anterior, Victor Von Doom sempre faz o que acha ser melhor para o seu povo. Isso, por si só, já o diferencia de boa parte dos vilões que encontramos em outros filmes de super-heróis. Apesar de sua pose imponente e seus punhos de aço, ele é um líder bom, justo e adorado por seus súditos.

Para retratar o personagem de maneira decente, é preciso mostrá-lo como um herói aos olhos do povo - mesmo que ele passe longe disso - sem cair em clichês como transformá-lo em um tirano ou um rei cruel. É importante lembrar que a Latvéria ama Victor tanto quanto Victor ama a Latvéria.

Boa parte do público já está um tanto quanto cansado de histórias de origem de super-heróis nos cinemas. Contudo, Victor Von Doom é um personagem que precisa ter seu passado devidamente revelado, já que ele passa por uma transformação jamais vista em nenhum outro personagem da Marvel.

Aqui, gostaríamos de ver sua origem como filho de um inventor Latveriano e sua revolta contra o monarca local. Isso faz com que ele vá estudar nos Estados Unidos e retorne, anos depois, disposto a tomar o trono do tirano. Obviamente, há muito mais camadas presentes nessa história, que, com sorte, serão bem adaptadas para o filme solo do personagem.

Diferente do que já foi mostrado nos cinemas, Victor Von Doom é um homem cuja inteligência rivaliza apenas com a de Reed Richards. Ele precisa ser retratado como um gênio científico, sem ficar "emburrecido" apenas por preguiça dos roteiristas - como aconteceu com Von Doom e o próprio Richards na primeira franquia da Fox.

Uma ideia interessante para abordar esse aspecto da personalidade de Victor é mostrá-lo construindo sua armadura, que mescla tecnologia de ponta com magia oculta. Outra ideia seria mostrar Victor construindo seus Destinobôs, androides feitos à imagem do Doutor Destino.

Outro elemento que não pode ficar de fora de uma história solo do Doutor Destino é a magia e o misticismo. Descendente de ciganos, Victor tem uma história profundamente enraizada em elementos sobrenaturais. Quando ainda era uma criança, sua mãe vendeu sua alma a um demônio para salvar sua vila.

Como resultado, ela acabou sendo reclamada por Mefisto e sua alma foi enviada ao inferno pela eternidade, algo que sempre atormentou Von Doom. Também seria ideal retratar seu treinamento com monges e os diversos adversários paranormais que ele possui.

Embora tenha passado por grandes tragédias em sua vida, o maior ponto de transformação do Doutor Destino nos quadrinhos acontece quando ele se muda para os Estados Unidos, para completar sua formação em uma universidade. Lá, além de nutrir uma rivalidade com Reed Richards, ele acaba criando um dispositivo que pode ajudar a resgatar sua mãe no inferno.

Contudo, o dispositivo não funciona como o previsto e ele acaba causando um brutal acidente que desfigura seu rosto - motivo pelo qual ele passa a usar seu traje de ferro para o resto de sua vida. É importante ver esse acidente sendo retratado nos cinemas, pois é a partir dele que vemos o nascimento do Doutor Destino.

Reed Richards e Victor Von Doom são dois personagens que representam lados diferentes da mesma moeda. A diferença de suas personalidades, assim como acontece com Xavier e Magneto ou Thor e Loki é o que os tornam tão complexos e importantes na história do Universo Marvel.

Mesmo que não tenha um grande papel, o Senhor Fantástico precisa ter uma participação no filme solo de Destino. O ideal é retratar a rivalidade entre eles na época da universidade e como Victor culpou Reed pela falha em seu projeto para resgatar sua mãe. É o primeiro passo para estabelecer um novo reboot do Quarteto Fantástico - que acontecerá, independente de nossa opinião sobre isso.

E embora Doutor Destino possa abrir as portas para o Quarteto Fantástico nos cinemas, é importante que o filme solo de Von Doom não trace uma divisão clara entre heróis e vilões. Aliás, é muito importante que o longa não traga "heróis" como o Quarteto Fantástico ou outros adversários heroicos de Destino.

Além de transformar a história em algo não-convencional no "gênero" de adaptações de quadrinhos, a ausência de heróis pode ajudar a conferir mais complexidade para os seus personagens. É importante que não vejamos Von Doom como herói ou vilão e sim como um salvador da Latvéria, ainda que à sua maneira.

Um bom ponto de partida para uma adaptação ideal do personagem - e que compreende tudo dito na lista até agora - é a minissérie dos quadrinhos Os Livros do Destino. Aqui, vemos toda a origem de Victor Von Doom, enquanto ele dá uma entrevista a uma jornalista, relembrando seu passado na Latvéria.

Caso o estúdio esteja disposto a fazer uma história de origem de Von Doom, essa é a oportunidade perfeita. Adaptando Os Livros do Destino seria a forma ideal de conhecer o personagem e toda sua mitologia antes de apresentar o Quarteto Fantástico como rivais para seus planos.

Outro título que pode servir de inspiração para o filme solo do vilão é Triunfo e Tormento, embora precise passar por diversas modificações para ser adaptado para os cinemas, já que a Fox não possui os direitos de adaptação de personagens como Mefisto e Doutor Estranho.

Nessa história, vemos a obsessão de Von Doom pela sua mãe e como ele faz de tudo para resgatá-la no inferno. Seria interessante abordar temas como esse, uma vez que eles conferem toda a carga mística e trágica que o personagem precisa ter, além de expor a maior fraqueza de Von Doom: a frustração por não conseguir atingir seus objetivos.