Review: Stellar Blade é brilhante e promissor mesmo com sua sexualização cartunesca

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Review: Stellar Blade é brilhante e promissor mesmo com sua sexualização cartunesca

Por Márcio Jangarélli

Alerta de nova IP impressionante na área! Stellar Blade, novo exclusivo da PlayStation, chega ao PS5 em 26 de Abril trazendo uma das experiências mais divertidas e impactantes do ano no mundo dos jogos.

A PlayStation nos deu a oportunidade de testar o game em sua totalidade, para explorar todos os mistérios da Mãe Esfera e desse mundo futurista fascinante e desolado – e sim, foram horas excelentes de gameplay. Vem comigo entender melhor.

Ficha Técnica

Título: Stellar Blade

 

Data de lançamento: 26 de Abril de 2024

 

Desenvolvedora: Shift Up

 

Plataforma: PlayStation 5

 

Modo: Single player

 

Gêneros: Ação e Aventura

 

Tradução PT/BR: Sim, dublagem e texto

Nier, Bayonetta e muito mais

Stellar Blade me pegou de surpresa. Decidi esperar para testar o game completo, mas, quando o beta foi lançado, na impossibilidade de escapar das coisas na internet, o que vi do jogo me deixou desanimado. Toda a discussão se centrou no visual absurdamente sexualizado da protagonista, Eve, e o jogo em si ficou em segundo plano, parecendo que não tinha algo suficientemente impressionante ali que não fossem bunda e peitos de bexiga d’água. Felizmente, o produto final é muito, muito mais grandioso que isso.

Sim, a Eve – e outras personagens femininas – possuem um design tão absurdo que chega a ser cartunesco e isso é um problema. A escolha de trabalhar na física de movimento corporal dessas personagens é bizarra, artificial (nenhum corpo funciona dessa maneira) e essa loucura distrai às vezes. Não é muito diferente do que vemos em uma das inspirações claras do game, Nier, onde as personagens basicamente lutam usando lingerie fetichista. Mas, com isso fora do caminho, Stellar Blade é muito mais interessante as proporções e roupas da protagonista.

As inspirações mais claras do jogo, visualmente e em história, são Nier e Bayonetta. É um game de ação e aventura com alguns puzzles no caminho, grandes cenários exploráveis e cheios de segredos, tesouros, atalhos e vestígios da narrativa, além de um sistema de combate incrível, de dificuldade intermediária e adaptável para qualquer estilo de jogador.

Minha parte favorita de Stellar Blade é a dimensão das coisas; do mundo, da história, dos inimigos. Tudo parece tão monumental que a exploração e o combate geram um sentimento que mistura conquista e espanto. É um aspecto que parece ser emprestado de Nier e das maquinagens do Yoko Taro, mas que também lembra um pouco como a FromSoftware constrói seus mundos e batalhas (não em dificuldade, mas em vastidão).

Além disso, a imersão que o jogo proporciona é perfeita, especialmente em seus momentos mais silenciosos, quando a protagonista para em um checkpoint, visita a cidade ou naqueles trechos calmos da exploração. Stellar Blade te permite contemplar o mundo e os eventos se desenrolando sem perder a urgência da história. É um feito que muitos títulos não conseguem ou não se permitem atingir.

A trilha sonora, o design de mundo e a identidade visual do game também são façanhas técnicas fundamentais para a imersão e qualidade do jogo. Absolutamente fenomenais, especialmente no que se diz respeito à musicalidade, quando implementam dream pop e eletrônico, mas também MPB e samba de uma forma muito orgânica, que conversa com esse universo e suas peculiaridades.

Sobre a narrativa em si, Stellar Blade apresenta um mundo futurista onde a Terra foi devastada por monstros misteriosos, os Naytibas, e a colônia humana, no espaço, envia exércitos para tentar liberar o planeta. É uma sociedade que acredita e segue uma entidade tecnológica, a Mãe Esfera, e crê no valor das memórias como âncora da humanidade, quando seus corpos são, em grande parte, sintéticos. 

Esta é uma jornada sobre o que é ser humano, memória, tecnologia e consequência, super inspirada nos trabalhos do Yoko Taro, mas que dobra o pedido nas temáticas mitológicas cristãs, como os protagonistas serem Eve e Adam e toda a aventura sobre reconquistar o planeta, conhecimento e muito mais. Tem tudo aquilo que sabemos que fascina o mercado criativo asiático – e que adoramos ver em execução.

Ainda, a Eve e todos os personagens secundários são bem escritos, carregam uma ótima dublagem e suas histórias, seja a missão principal ou sidequests, são intrigantes, bem construídas e trágicas no ponto certo. É o tipo de jogo que desperta seu interesse no mundo além da protagonista, que te dá todos os motivos para investir suas horas em suas histórias opcionais e segredos e te recompensa muito bem por isso.

Por fim, é importante ressaltar o quanto o combate de Stellar Blade é afiadíssimo. A ação é empolgante, diversa, com toques de Devil May Cry e Bayonetta, mas implementando seus próprios truques originais.  A dinâmica é mais lenta do que nesses dois, mais focada, própria para um universo de inimigos mais duráveis, mas é também leve e suave, refletindo a protagonista e sua personalidade. 

Assim, o único problema notável do game é seu design (e físicas) para personagens femininas (e nem são todas, mas é maioria). E é algo que não faz sentido, especialmente porque a história e diálogos dessas personagens não se equivalem à pobreza visual delas. É uma escolha bizarra, feita para um público específico, pequeno e que provavelmente nem vai gostar de todo o pacote que Stellar Blade oferece. 

 

Em contrapartida, se aclamamos algo como Nier e tantos outros títulos com problemas similares, também podemos olhar para Stellar Blade reconhecendo esse aspecto medíocre, mas apreciando tudo de fantástico que há no jogo. Afinal, o que o game oferece é muito melhor que qualquer roupa questionável ou as bolas de praia que constituem o corpo da Eve.

 

Assim, Stellar Blade recebe nota 9 da Legião. Game excelente, com decisões questionáveis, mas que merece seu tempo.

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