The Last of Us: O fungo da série existe na vida real?

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The Last of Us: O fungo da série existe na vida real?

Por Melissa de Viveiros

The Last of Us finalmente estreou na HBO e HBO Max, apresentando a história de Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey) para um público ainda maior do que os fãs dos jogos da Naughty Dog. Em sua primeira cena, a produção reproduz um programa de auditório, no qual um especialista fala sobre o perigo que os fungos poderiam apresentar para os humanos caso se adaptassem para controlá-los como fazem com insetos. Mas o quanto disso é baseado na realidade?

O fungo responsável pelo apocalipse no universo de The Last of Us é chamado de Cordyceps, e este é um gênero de fungos real, conhecido por crescer principalmente em insetos e outros artrópodes. Estudos sobre integrantes deste gênero já foram feitos para o uso de suas propriedades no combate ao câncer, de acordo com a BBC.

Espécies do gênero Cordyceps podem ser encontradas no mundo todo, com exceção da Antártica – ou seja, espécies de Cordyceps existem também no Brasil, e a UFSC relatou que fungos do gênero foram encontrados na Mata Atlântica e em Santa Catarina. Isso inclui sua versão mais famosa: os fungos que infectam formigas e tomam controle delas, controlando seus músculos e espalhando a infecção para outras formigas, o que gerou o popular apelido de “fungo zumbi”.

Uma espécie de Cordyceps “explode” do corpo das vítimas após sua morte. (Reprodução: João Araújo via The New York Times)

Inverse conta que o especialista David Hughes, professor de entomologia e biologia em uma universidade dos Estados Unidos, foi consultado durante o desenvolvimento do primeiro jogo, que a série da HBO adapta. Nos jogos, a infecção conta com quatro etapas: primeiro, retira a capacidade de pensamento racional das pessoas, depois a visão, o rosto e a humanidade do infectado. Assim, todo o processo ocorre no cérebro da pessoa, o que não é o caso do fungo da vida real.

“Os desenvolvedores fizeram um ótimo trabalho por conta própria,” Hughes comentou em entrevista. “Não podemos esperar muito deles nesse sentido,” Disse, em referência à infecção real não deteriorar o cérebro. “Nós mesmos pensamos que seria no cérebro, e ficamos surpresos de descobrir que não era.”

Na realidade, o fungo afeta as formigas fazendo um túnel de fora do corpo para dentro, ao longo de 24 horas. Após entrar, ele desenvolve uma rede, substituindo o que há dentro do corpo da formiga por fungos. No pico da infecção, até 50% do corpo do indivíduo é feito de fungos. Mesmo assim, o cérebro permanece intacto, não porque não é possível causar dano a ele, mas porque essa é uma parte importante de manipular o comportamento da formiga.

“O que achamos que acontece no cérebro é de importância crítica para manipulação comportamental, de modo que pode literalmente fazer a formiga andar do ninho para onde o fungo precisa que ela vá,” Hughes explicou.

A infecção chega a seu último estágio em cerca de três semanas, momento em que a formiga se pendura em uma folha para que esporos sejam jogados de seu corpo nas formigas abaixo, infectando mais indivíduos. Este supostamente seria o motivo para a preservação do cérebro, já que ele é necessário para controlar o comportamento do infectado.

Não é exatamente o que ocorre com o Cordyceps de The Last of Us, mas é possível ver as semelhanças entre o que a versão fictícia apresenta. Assim como nos jogos, a versão da série é baseada no Cordyceps real, mas levemente adaptada para o universo habitado por Joel e Ellie.

Vítima do Cordyceps em The Last of Us. (Reprodução: HBO)

Uma diferença notável, porém, é que na série o fungo não se espalha por meio de esporos, sendo transmitido por gavinhas, partes de plantas como as trepadeiras que servem para agarrar objetos que sirvam de apoio. Isso é visto desde o primeiro episódio, sendo uma parte notável do visual dos zumbis da produção.

Em entrevista ao Collider, um dos criadores do jogo e produtor da série, Neil Druckmann, comentou a decisão de não utilizar os esporos, dizendo:

“O jogo tinha esporos no ar e as pessoas tinham que usar máscaras de gás, e nós decidimos bem no começo que não queríamos isso para a série. Essas conversas acabaram nos levando para as gavinhas. E então, apenas pensando sobre como há uma passagem que acontece de um infectado para outro, e assim como os fungos fazem, poderia se tornar uma rede interconectada. Se tornou algo muito assustador de considerar, que eles estão todos trabalhando contra nós dessa maneira unificada, o que era um conceito do qual eu gostava muito, e foi desenvolvido na série.”

O primeiro episódio de The Last of Us está disponível na HBO Max. Novos episódios chegam à plataforma de streaming e à HBO aos domingos.

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