Review: Mesmo com deslizes, Street Fighter 6 é a revitalização que a franquia precisava

Capa da Publicação

Review: Mesmo com deslizes, Street Fighter 6 é a revitalização que a franquia precisava

Por Ygor de Oliveira Ferreira

Street Fighter é uma das franquias de jogos de lutas mais conhecidas do mundo, mas recentemente não estava na sua melhor forma. O jogo mais recente, Street Fighter V, conseguiu decepcionar tanto os fãs mais competitivos quanto os casuais; a produção, lançada em 2015, chegou somente com 12 personagens, não tinha quase nenhum conteúdo para single player e apresenta diversos problemas que até hoje estão presentes, incluindo o sistema online péssimo.

Com o anúncio de Street Fighter 6, a Capcom prometeu consertar todos os problemas da versão anterior e trazer uma experiência que fizesse jus ao legado da franquia. Após ter a oportunidade de testar o próximo jogo, posso dizer que mesmo com alguns problemas Street Fighter 6 consegue mostrar o carinho da Capcom pelo seu jogo e seu legado, ao mesmo tempo em que não tem medo de inovar, resultando no que talvez seja o melhor jogo da franquia até hoje.

Ficha Técnica

Título: Street Fighter 6

 

Data de Lançamento: 2 de junho de 2023

 

Desenvolvedora: Capcom

 

Plataformas: PlayStation 4 e 5, Series S/X e PC

 

Gênero: Luta

 

Tradução para Português: Somente legendas

Muito estilo dentro e fora das lutas

Ryu tem um novo visual, um pouco mais velho do que nos jogos anteriores

Para um jogo de luta conseguir chamar a atenção e ser popular, ele precisa de algumas coisas: mecânicas interessantes, que façam seus jogadores quererem aprender cada vez mais; personagens icônicos e marcantes; e, por fim, ele precisa ser visualmente bonito, já que é sempre bom assistir seu lutador usando golpes incríveis. Nesses três pontos Street Fighter 6 acerta em cheio.

O elenco de lutadores tem atualmente 18 personagens, que trazem os oito personagens clássicos de Street Fighter II, como Ryu, Ken, Chun-li, e o restante dos chamados World Warriors. O game traz também alguns personagens favoritos da franquia, como Juri e Dee-Jay, além de, claro, 6 novos personagens: Kimberly, Manon, Marisa, Jaime, Lily e JP.

Falando primeiro sobre os personagens mais antigos da franquia, todos eles finalmente passaram por mudanças. Ressalto aqui Ryu, Chun-li e Ken, que tem um visual totalmente novo, mostrando sinais de envelhecimento, mas junto disso, cada um deles estão com uma música tema nova, que dessa vez não é somente um novo arranjo de suas versões clássicas, como nos jogos anteriores.

Os novos personagens também se destacam bastante, principalmente Jaime e seu estilo de luta que envolve beber durante entre seus golpes, e Kimberly, a garota treinada por Guy, que mistura golpes ninjas com grafite.

Kimberly é um dos grandes destaques das novas adições do elenco

Com um elenco robusto, ele oferece uma grande variedade de tipo de personagem, seja alguns mais defensivos, bons em manter o oponente distantes; ou então opções muito mais ofensivas, focadas em realizar socos imparáveis e devastadores, bem como agarrões. Mas para isso funcionar, o sistema de combate deve ser bem produzido.

Todo novo jogo de Street Fighter traz uma nova mecânica que vai ser o destaque da edição. No V, ela era chamada de V-Trigger e foi alvo de reclamações do lado competitivo que afirmava que o elemento dava muito poder para quem estava próximo de perder o combate. Para o sexto jogo, temos uma nova mecânica chamada de Drive Gauge, que busca dar muita liberdade para os jogadores competitivos, mas sem dificultar demais a vida dos casuais.

Com a barra que está completamente disponível no início do combate, os jogadores podem fortalecer suas magias básicas, usar um avanço rápido, aparar golpes e usar uma habilidade capaz de proteger de alguns golpes, deixando a guarda do oponente aberta caso acerte. Tudo isso gasta a barra de Drive, que ao chegar ao fim coloca seu personagem em um estado de exaustão, reduzindo suas possibilidades e deixando aberto para grandes quantias de danos. As novidades adicionam ainda mais profundidade aos combates, além disso dá ferramentas para o jogador que está perdendo se recuperar na luta, o que torna cada batalha mais emocionante e única.

Todas as possibilidades da mecânica são bem simples de serem realizadas para que tanto jogadores competitivos e casuais possam usufruir dos golpes que dão o toque especial nos confrontos. A forma que o Drive é utilizado ao longo da partida é definida pelo tipo de jogador, dando ainda mais liberdade para cada um se expressar, de uma forma que Street Fighter V nunca conseguiu, já que cada personagem tinha uma forma “certa” para ser jogado.

Em Street Fighter 6, mesmo com personagens defensivos é possível adotar uma postura mais ofensiva, combinando as habilidades do Drive aos golpes devastadores do personagem. O jogo incentiva a experimentação e recompensa os jogadores por tentar enfrentar seus inimigos de formas diferentes.

Mas nada disso chamaria tanta atenção se não estivesse junto às escolhas artísticas impecáveis do time de desenvolvimento. Street Fighter, em português podendo ser traduzido para algo como lutador de rua, em vários jogos buscava se aproximar dessa estética de rua. Mas, após o terceiro jogo, que na época foi massacrado, isso foi deixado de lado.

Em Street Fighter 6, esse elemento foi retomado com tudo. Seja na grande presença massiva de Rap e Hip Hop na sua trilha sonora, nas entradas dos personagens na luta em uma espécie de galpão escuro, iluminado por neons, ou na grande presença do grafite, seja nas logos, mas também em certos golpes que pintam a tela inteira, é possível ver essa inspiração em tudo que o jogo traz. Isso é unido ao visual novo de personagens queridos e também de seus golpes, fazendo dele uma das melhores experiências para se assistir.

Tudo isso seria de menos importância se a conexão continuasse péssima como de Street Fighter V. Durante a minha jogatina online, seja nas betas ou agora, as vezes em que a conexão apresentou problemas foram quase nulas, a ponto de conseguir jogar com alguém da América do Norte sem problemas extremos. Claro que com jogadores do Brasil tudo é muito mais responsivo, mas o sistema de conexão é bom o bastante que lutas casuais com pessoas de outros países mais próximos é possível.

Infelizmente quando vamos para o modo single player, chamado de World Tour, nem tudo são rosas.

Street Fighter e sua dificuldade com modos de um jogador

Treine com os icônicos personagens da franquia

Modos single player nunca foram o forte da franquia. Street Fighter V tentou mudar essa história depois do lançamento, trazendo um modo história aos moldes de Mortal Kombat, o que não deu muito certo. O fato de não estar presente no lançamento afastou muitos jogadores e a história por si só era extremamente desinteressante.

Em Street Fighter 6 eles abandonaram essa ideia e seguiram por uma coisa mais autoral, no modo chamado de World Tour. Ao iniciá-lo, o jogador cria seu personagem e começa a explorar a cidade de Metro City, muito conhecida pelos fãs da franquia Final Fight, e encontra os personagens de Street Fighter para ser treinado, começando por Luke.

A história gira em torno do seu protagonista na busca de Bosch, um garoto que treinou algum tempo junto de você, mas que precisava de mais poder rapidamente por algum motivo e acabou se metendo com pessoas extremamente perigosas.

A premissa pode parecer bem simples, e realmente é, mas isso não elimina seus diversos problemas. A história tem um péssimo ritmo, onde o jogador passa por alguns capítulos onde nada acontece, e quando os eventos principais se iniciam tudo parece corrido. Isso se une a missões repetitivas, que lentamente tornam tudo meio tedioso e, por fim, a conclusão não é satisfatória, deixando mais perguntas do que respostas.

Joguei o jogo inteiro no Series S e, pelo menos neste console, na questão de gráficos o modo deixa a desejar. É comum encontrar diversas texturas borradas, parecendo que ainda não carregou completamente, mas mesmo que esperasse algum tempo ela continuava dessa forma. Apesar disso, Street Fighter não apresenta quedas de frame, mantendo os 60 FPS constantemente, seja andando pelos cenários e nas lutas, mesmo com mais personagens em tela.

Como o nome do modo é World Tour seu personagem irá viajar ao mundo em busca de lutadores mais poderosos para treinar e isso talvez seja o maior acerto do modo. Ao encontrar qualquer um dos lutadores você pode pedir para ser treinado e libera o estilo de luta dele, junto de algumas habilidades. Quanto mais você utiliza os golpes e poderes de determinado personagem seu nível vai aumentando, o que desbloqueia novos diálogos e novos poderes, o que além de fazer o jogador se familiarizar com cada lutador, ensina novos jogadores sobre eles, sendo um dos grandes acertos do modo.

Vá para a Índia encontrar Dhalsin ou até mesmo para o Brasil treinar com Blanka

Com a liberdade de escolher o estilo de luta de todos os lutadores do jogo, e passando por lutas simples, às vezes com mais de um inimigo de uma vez, bem similar a um Beat n’ Up, o jogador pode lentamente entender o que cada personagem faz e descobrir seu favorito, sem a frustração de perder várias lutas online

Além disso, grande parte das missões secundárias servem para explicar algumas mecânicas e estratégias importantes para o jogo de luta. Seja utilizando as habilidades de Drive ou mostrar que golpes baixos só podem ser defendidos agachados. Todas essas coisas estão presentes no tutorial, mas entregar uma recompensa, nem que seja um pouco de dinheiro para comprar novas roupas para o personagem, auxilia ao jogador a querer aprender.

Mas além de aprender novos golpes, podemos conhecer um pouco mais da personalidade de cada personagem e principalmente em relação aos personagens antigos, temos um tom muito mais bem humorado. Durante a jornada podemos ver Chun-Li reclamando de Li-Fen, sua pupila, que não larga o computador, ou então Ryu que tem dificuldades em usar o celular e coloca seu nome em todas as suas mensagens.

Esses detalhes mostram que a Capcom entendeu que seus personagens nunca foram tão sérios quanto o de Mortal Kombat, por exemplo. E mesmo alguns com problemas mais sérios, como Ken, que perdeu tudo depois de ser acusado de terrorismo, traz muito humor em seus diálogos.

Um outro detalhe importante que é possível ver no World Tour é que a Capcom está criando uma nova geração de lutadores para talvez deixar seus personagens clássicos descansarem. Luke e Kimberly têm uma presença na história, enquanto o próprio Ryu, por muito tempo protagonista de Street Fighter, não é importante.

Mas ainda assim, para quem não quer aprender ou até mesmo tem dificuldades, existe uma outra alternativa para jogar, que são os controles modernos. Ele altera o funcionamento dos botões para que fique bem simplificado. Street Fighter utiliza por padrão três botões de soco e três de chutes, sendo um fraco, médio e forte.

Os controles modernos reduzem os 6 ataques para somente 3, um fraco, médio e forte e usa os outros botões para adicionar algumas funcionalidades. A primeira é um botão específico para golpes especiais. Assim, usando Ryu e os controles modernos, basta apertar um botão para que ele use o Hadouken. Além disso, ele também traz um botão de auxiliar que faz alguns combos padrões para o jogador facilitando sua vida.

O novo padrão de controle reduz as opções do jogador e com isso não deve aparecer no competitivo, mas para alguém que sempre quis jogar com os amigos e tinha muita dificuldade em fazer os comandos complexos do jogo é uma ótima alternativa, tornando o game bem mais acessível.

Por fim, os modos de treino e tutorial também passaram por uma atualização. Os treinos adicionam ainda mais ferramentas para os jogadores praticarem, seja formas de aprendizado, como ativar opções que mostram qual o momento ideal para apertar o próximo botão de combo, ou configurações já pré-estabelecidas do adversário pulando ou soltando projéteis para facilitar treinos focados. Por fim, os tutoriais de combos agora são divididos em iniciante, intermediário e avançado que torna o entendimento e o treinamento ainda mais simples para uma parte do público que não está afim de aprender sobre termos difíceis e outros conceitos extremamente complicados de jogos de luta.

Nota: 9/10

Street Fighter 6 tem seus problemas e não entrega um modo single player tão interessante quanto seus concorrentes. Mas mesmo assim traz uma experiência feita com carinho que mostra o quanto a Capcom se importa com a franquia, seu legado e seus personagens em um jogo que esbanja estilo e identidade, sem medo de alterar seus lutadores clássicos ou dar foco para uma nova geração.

 

Assim, o jogo se consolida como uma ótima opção para novos jogadores do gênero, bem como uma opção perfeita para lutadores de longa data.

Confira também: