[Review] Like a Dragon: Ishin! é afiado na diversão, mas erra o peso do drama

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[Review] Like a Dragon: Ishin! é afiado na diversão, mas erra o peso do drama

Por Márcio Jangarélli

O Dragão de Dojima agora é um samurai? Pois é, a franquia Yakuza foi além em seu novo jogo e levou seus personagens mais icônicos para uma aventura histórica no Japão do século XIX com Like a Dragon: Ishin! O game foi lançado no dia 21 de Fevereiro, disponível para PlayStation 4 e 5, Xbox One e X/S e PC.

A Legião recebeu uma cópia de Ishin!, na versão de PlayStation 5, para testar e contar para vocês se esse novelão de época de Yakuza é bom mesmo. E se você já achava a jornada do Kiryu insana, Ryoma mostra que ainda não vimos todo o potencial de loucura da saga.

Ficha Técnica

Título: Like a Dragon: Ishin!

 

Distribuidora: Sega

 

Gêneros: Ação, Beat’em up, RPG

 

Lançamento: 21 de Fevereiro de 2023

 

Plataformas: PlayStation, Xbox e PC

 

Tradução para o PT/BR: Não

Novela de época, revisionismo e insanidade

Já se foram as épocas onde as pessoas se enganavam com a franquia Yakuza, acreditando que eram jogos sérios e sangrentos, certo? Especialmente com Yakuza: Like a Dragon, lançado em 2020, a produção e marketing da saga mergulhou de vez na quase psicodelia que esses games oferecem, renovando os ares da história do Kiryu e, depois, do Ichiban.

Se você ainda não conhece Yakuza, a franquia está espalhando seu drama pastelão, sangue e comédia pelo mundo desde 2005. É uma mistura de RPG, beat’em up, ação e com um carregamento pesado de minigames, tudo se passando em cidades e bairros pseudo-fictícios do Japão, em histórias inspiradas por todo o universo ficcional e dramático envolvendo a Yakuza (a máfia japonesa).

Quanto a Ishin!, o game não é exatamente novo. Na verdade, o que foi lançado em Fevereiro é um remake do jogo original de 2014, distribuído apenas no Japão, um dos títulos iniciais do PlayStation 4 no país. É um spin-off da franquia onde os personagens mais famosos dos jogos principais são levados para o Japão do final do período Edo para “encenar” a jornada de Sakamoto Ryoma, uma figura lendária da história japonesa.

A melhor definição que posso encontrar para Ishin! é: imagine uma novela de época da Rede Globo – algo como Sinhá Moça ou Lado a Lado, por exemplo – mas com espadas e lotada de sidequests e minigames excêntricos. É mais ou menos esse o sentimento; você tem essa história minimamente realista sobre as mudanças políticas do território Japonês na época, pintadas com muito, muito drama, idealismo e reviravoltas dignas de horário nobre, em fusão com o absurdismo que já é famoso de Yakuza. De alguma forma, isso funciona extremamente bem por grande parte do game.

Os maiores acertos de Ishin! estão no mundo e na jogabilidade. É realmente impressionante como o game se dedicou a criar uma versão de época de Kyoatualmente, Kyoto – aberta totalmente para exploração, com enxurradas de interações, missões, minigames e segredos em cada canto. Obviamente não é uma representação realista, assim como nenhum jogo da franquia tenta ou precisa ser, mas captura o suficiente do momento histórico para imergir o jogador nessa vastidão de chão batido, madeira e katanas.

É uma experiência quase mágica explorar esse universo com o Ryoma/Kiryu. Ishin! até tem sua própria versão histórica de fazendinha para você relaxar quando o drama pesar demais. As missões secundárias são tão legais quanto em qualquer outro jogo da saga, os minigames continuam insanos e as batalhas são épicas, com um movimento mais extravagante que o outro.

Nesse game, Yakuza volta para seu sistema de batalha original, com encontros no mapa que levam para arenas de beat’em up. No entanto, no lugar dos violentos combos de soco e chute do Kiryu, o Ryoma é um samurai – ou seja, você vai fatiar seu caminho pelas ruas. Ele até possui um modo de luta corpo-a-corpo, mas convenhamos, viemos para essa época para usar espadas (e uma pistola). O combate é fluido, absolutamente viciante, fácil de aprender e difícil de largar.

Porém, no que Ishin! acerta na construção de mundo, combate e exploração, a campanha principal fica um tanto difícil de digerir com o tempo. Mais especificamente, a porção final da história. Veja bem, como dito, o aspecto novelesco é uma das assinaturas de Yakuza e a franquia entrega isso muito bem. O que atrapalha o spin-off, no entanto, é justamente o ângulo mais sério e histórico da coisa.

Esta jornada é baseada na vida de figuras reais em um período crucial do passado japonês. Não só Sakamoto Ryoma, mas a maioria, senão todos os personagens e facções da campanha principal são, de uma forma ou de outra, inspirados em pessoas lendárias da história do Japão. E não, o game não tenta fazer um revisionismo histórico para dizer que os absurdos que está mostrando são reais. Este conflito entre história, ficção e idealismo, porém, faz com que o tom da campanha fique um pouco desconfortável em alguns momentos.

É difícil falar sem dar spoilers e realmente recomendo que você jogue para tirar suas próprias conclusões, mas foram os últimos capítulos da história que me deixaram com um gosto amargo na boca. Ainda que, durante todo o jogo, existam alguns momentos de estranheza, Ishin! consegue balancear seu humor, drama e ideais muito bem, fazendo jus ao nome Yakuza. Mas quando você está para encerrar a aventura, essa balança quebra e fica difícil dizer o que você deve levar a sério ou não nos momentos finais.

Claro, isso não compromete o jogo todo; Ishin! é muito mais que isso. É um game extremamente divertido, viciante e, de certa forma, relaxante, perfeito para os fãs de longa data da franquia e até para quem quer embarcar pela primeira vez nessa maluquice (dado o contexto do jogo antes, por favor). Só é um tantinho frustrante ver o título perder sua consistência no fim, mas nada que apostar nas corridas de galinha ou cantar no karaokê não te façam esquecer.

Like a Dragon: Ishin! não é perfeito, mas ainda impressiona. Dificilmente você vai encontrar outro game que consiga fazer funcionar a mistura de drama de época com humor pastelão. Ou que te deixe ver o lado mais engraçado das coisas, mesmo em um período brutal e incerto de transição política.

 

Correr por Kyo é maravilhoso, acompanhar como o jogo encaixa velhos conhecidos da franquia Yakuza em papéis históricos é épico e uma fazendinha onde você também pode adotar cães e gatos é sempre um acerto. Na verdade, esqueçam minha crítica sobre o final, Ishin! vale seu gameplay só pelas missões de adoção dos bichinhos.

 

Por tudo isso, Like a Dragon: Ishin! leva nota 8/10 da Legião!

E aí, já conhece a franquia Yakuza? Não esqueça de comentar!

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