Review: Final Fantasy XVI é o novo ápice de uma franquia extraordinária

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Review: Final Fantasy XVI é o novo ápice de uma franquia extraordinária

Por Márcio Jangarélli

Um novo competidor para Jogo do Ano de 2023 surge diretamente de Valisthea! Final Fantasy XVI, aguardado novo capítulo da franquia icônica da Square Enix, já está entre nós, lançado em 22 de Junho para PlayStation 5. Foram 7 anos de espera, desde o divisivo FFXV; será que esse tempo todo de ansiedade valeu à pena?

Graças à Square, a Legião teve acesso ao game para testar e contar para vocês se a grande jornada do Clive merece espaço entre as lendárias aventuras passadas da antologia Final Fantasy. O tom mais sombrio funciona? A “equipe dos sonhos” reunida na produção do jogo fez a diferença? Depois de quase 70 horas de gameplay, já tenho uma resposta pra vocês.

Que a grande Graegor nos ilumine nessa jornada!

Ficha Técnica

Título: Final Fantasy XVI

 

Data de lançamento inicial: 22 de junho de 2023

 

Desenvolvedora: Square Enix

 

Plataforma: PlayStation 5

 

Modo: Single player

 

Gêneros: RPG de Ação, RPG, Aventura

 

Tradução PT/BR: Sim, legendas e texto

De queixo caído e coração acelerado

A arte do logo de FFXVI retrata exatamente a primeira cena do jogo, uma batalha entre Fênix e Ifrit (Créditos: Divulgação)

Final Fantasy XVI não é um game para jogadores de coração fraco; da primeira à última hora, de novo e de novo, o impacto da história e os eventos absurdamente grandiosos se desenrolando em tela te farão perder o ar. Os riscos tomados pelos criadores e o investimento da Square no título se fizeram valer, resultando em um dos melhores capítulos da franquia.

É difícil dizer qual o maior acerto de Final Fantasy XVI; o game atinge níveis estelares em cada quesito, seja história, personagens, trilha sonora, ação, mundo, mecânicas, diálogos, gameplay, visuais, etc. A jornada é empolgante, simples o suficiente para ser acessível para um público mais amplo, mas com todos os detalhes, possibilidades e drama que fazem da franquia Final Fantasy um dos RPGs mais icônicos de todos os tempos.

Moogles, Black Mages, chocobos de todas as cores, cavaleiros dragoons e por aí vai. FFXVI traz todos os ícones da franquia, de uma forma ou de outra (Créditos: Gameplay)

Se você é fã da saga, provavelmente reconhecerá elementos de vários jogos passados em XVI. Só para citar algumas impressões iniciais, ele traz ecos da história do VII, do X e do XV, enquanto possui um mundo parecido com o do XII e do XIII e batalhas que lembram o Crisis Core e o VII Remake. Isso não é algo negativo, no entanto. O game consegue reunir todas essas referências e criar algo novo, único, uma celebração da franquia que abre alas para um futuro brilhante.

E, claro, XVI tem MUITA influência externa também. É impossível não ligar o jogo às Crônicas de Gelo e Fogo (Game of Thrones), por exemplo. As referências são óbvias em personagens, situações e até elementos visuais, como o mapa de Valisthea. Mas não pense que isso apaga a identidade do projeto. Pelo contrário: esse é o mais “Final Fantasy” que a franquia conseguiu ser em muitos, muitos anos, com exceção do XIV.

Não é porque o sistema de batalha é mais voltado para ação e combos ou porque as as coisas ficaram mais “gráficas” que o game perdeu sua essência. Batalhas por turnos já não são obrigatórias na saga há quase duas décadas ainda que, sim, XVI seja, de certa forma, mais sombrio e adulto, o núcleo da antologia Final Fantasy está ali: uma epopéia sobre livre arbítrio, usando o contexto mágico para analisar o que há de mais humano na humanidade.

Quando a Vivian te atualiza da situação política do continente, esse é modelo do mapa usado. As referências para As Crônicas de Gelo e Fogo, série ou livro, estão em todo canto de FFXVI (Créditos: Gameplay)

Ainda, o sistema de batalha do game é um dos pontos mais altos da experiência, permitindo um escape brutal e incrivelmente divertido para o jogador e para o Clive. As influências de Devil May Cry V estão presentes, os toques de hack N’ slash são claros, mas ainda é Final Fantasy da melhor maneira. É um combate dinâmico, magnético e viciante, entre os mais legais da saga até então. E estou falando apenas da forma base aqui. Quando você tem que lidar com as coisas como Eikon, como Ifrit, é aí que a experiência atinge outro nível.

Final Fantasy XVI me fez sentir como se eu fosse criança novamente, colado na frente do PlayStation, em uma TVzinha de tubo, absolutamente fascinado com alguma CG ou especial explodindo na tela. Olho esbugalhado, queixo caído. As batalhas com os Eikons nesse game são tão bombásticas que te fazem pensar “ah, era assim que um jogo deveria ser”. Não é só divertido, mas fascinante, brilhante. O conjunto de combate, trilha sonora e da própria situação insana que você está presenciando entregam uma experiência cinematográfica, mas que também é 100% videogame. É até difícil formular o quanto esses momentos são mágicos.

Aliás, a música eleva muito mais do que as batalhas com Eikons; em uma franquia conhecida por sua trilha sonora magnífica, Final Fantasy XVI conseguiu se estabelecer entre as melhores com uma identidade épica, tão grandiosa quando os momentos magnânimos e sensíveis presentes no jogo. A trilha é parte fundamental do todo que torna esse game incrível e vai te deixar cantarolando algumas de suas faixas por um bom tempo.

Uma das batalhas mais absurdas do game. Isso é durante uma das transições do combate, mas não é cutscene. Você realmente enfrenta esse colosso. (Créditos: Gameplay)

Valisthea é instigante, gigante, mas com seus devidos limites. O mapa e regiões de FFXVI lembram algo que você veria no PlayStation 2, com FFX ou FFXII, por exemplo: grandes áreas exploráveis, intercaladas por sessões mais lineares, com um “hub” no centro para o seu personagem se localizar, reabastecer itens, armas e missões e tudo mais. 

Você pode se teleportar de um ponto a outro e os espaços urbanos estão incorporados no todo do mapa, mas as regiões são delimitadas, você não consegue andar de uma ponta a outra do continente sem carregamento. Não é um mundo aberto e nem precisa ser. Talvez visitar grandes cidades, além das vilas e vilarejos disponíveis, pudesse adicionar à construção de mundo, mas o mundo como é faz sentido para a jornada do Clive como “exilado”.

Um encontro entre Clive e Odin, um dos Eikons do game (Créditos: Gameplay)

Talvez o fator que consegue unir e elevar todos esses elementos seja exatamente o protagonista, Clive Rosfield. Em um mundo fantástico, violento e amargo, mesmo com poderes praticamente divinos, ele é o que há de mais humano em Valisthea.

Exaltar a humanidade do Clive é algo irônico, visto que ele literalmente se transforma em um demônio flamejante gigante. Mesmo assim, ele é um tipo único de protagonista para a franquia: alguém verdadeiramente gentil. O Clive é complexo, possui e reconhece suas contradições e é isso que o torna crível, que te faz querer ver mais do personagem, que te faz torcer por ele até o fim.

A questão “humana” é muito importante para o Clive, já que a história do game faz questão de destilar, de uma forma bem crua, a ideia do que é ser “humano”, nossas qualidades e, principalmente, nosso lado mais podre. É um conto sobre preconceito, escravidão, desumanização e medo, usando magia e religião como os fatores que ditam as castas da sociedade. 

Clive Rosfield é o protagonista de FFXVI (Créditos: Gameplay)

O jogo não minimiza essas facetas, mesmo quando se torna extremamente desconfortável. Essa é uma de suas melhores cartadas, aliás. Como o Clive é alvo de toda essa violência em vários, vários, vários momentos e, mesmo assim, persiste, aceita missões e ajuda essas pessoas horrorosas, seu investimento nele, na causa dos Portadores e na mudança que eles buscam no mundo se torna algo quase pessoal. Você quer ver isso acontecer, mesmo quando a narrativa te mostra o preço que seus personagens mais queridos terão de pagar pela tentativa de um mundo melhor.

Cada personagem de Final Fantasy XVI é interessante em sua própria maneira, não apenas o Clive. Eles são muito bem estabelecidos, não importa seu tempo de tela, se são cativantes ou odiosos, e parecem “vivos” nesse mundo, não apenas ferramentas da história. Os dominantes, os governantes, os revolucionários e as forças ocultas; você quer ver sempre mais deles, das ótimas performances dos dubladores e onde a aventura vai levar personagem e facção.

Estamos quase no fim do texto e só agora vou falar dos visuais – para um game de última geração, isso é novidade, né? E não há dúvidas que FFXVI é um game de encher os olhos; o que os trailers mostram é o que você recebe e mais. É um jogo com enquadramentos, iluminação, modelos e cenários cinematográficos, mas que não esquece que é um videogame e adiciona toda loucura possível em tela sempre que pode.

As batalhas contra os Eikons podem virar um festival de luzes, às vezes. Não é o caso nessa contra Garuda, porém (Créditos: Gameplay)

Não vou mentir, às vezes, especialmente nas batalhas com Eikons, as coisas ficam brilhantes demais e isso gera alguma confusão em tela. Também, a captura facial pode ficar estranha em alguns momentos de diálogo. Mas, no fim, são coisas bem, bem pequenas e que realmente não afetam o gameplay ou imersão, só geram situações engraçadas.

Por fim, para suportar toda a megalomania das batalhas, da história, do drama, dos visuais e da música, o gameplay geral de Final Fantasy XVI é simples e sólido. Foi uma boa decisão deixar a base mais neutra, ou o jogo terminaria espalhafatoso demais. Suas ações são apenas com o Clive, com algumas interações com o Torgal, seu companheiro lobo, deixando as companhias ocasionais nas mãos da inteligência artificial.

Você pode viajar de chocobo, encontrar tesouros nos cenários, aceitar caçadas de monstros poderosos, seguir missões secundárias e tudo mais que é tradicional da franquia. As sidequests do XVI ajudam na imersão e expansão da história de Valisthea, informando o jogador sobre aquela área e sobre opiniões da população. Essas missões, surpreendentemente bem escritas e planejadas, enriquecem o mundo e te deixam mais apegado ao Clive e seus objetivos.

Nota: 10/10

Poucas produções conseguem transmitir um escopo tão monumental como Final Fantasy XVI. Divino, épico, mas também humano, sensível e dramático. É uma prova de que um videogame ainda pode ser tão surpreendente e surreal quanto foi há 20, 30 anos.

 

A jornada do Clive é um novo ápice para a franquia Final Fantasy e um marco para a indústria de jogos como um todo. O game testa os limites da megalomania em tela e eleva os níveis de direção e atuação que um jogo pode ter, sem deixar de lado que ainda é um videogame e precisa ser uma experiência divertida.

 

Por tudo isso, para a Legião, Final Fantasy XVI recebe nota máxima, 10/10. Viajar com o Clive por Valisthea é simplesmente glorioso!

E você, o que acha de Final Fantasy XVI? Não esqueça de comentar!

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