Review: Burning Shores oferece um olhar intimista do futuro pós Horizon Forbidden West

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Review: Burning Shores oferece um olhar intimista do futuro pós Horizon Forbidden West

Por Gabriel Mattos

Lançado no último ano para PlayStation, Horizon: Forbidden West terminou com uma revelação bombástica. Esta descoberta pode ter consequências tão gigantescas que, assim como os jogadores, a própria Aloy ficou angustiada para descobrir os rumos de sua próxima aventura. Ainda falta muito para um possível Horizon 3, mas enquanto a Guerrilla Games se prepara para explorar o futuro deste cenário pós-apocalíptico, a nova expansão Burning Shores chega como garantia de que estamos no caminho certo: evoluindo gradualmente a jogabilidade e os visuais deste mundo aberto de uma forma um tanto promissora.

Ficha Técnica

Título: Horizon Forbidden West: Burning Shores

 

Desenvolvedora: Guerilla Games

 

Distribuidora: PlayStation

 

Plataforma: PlayStation 5

 

Lançamento: 19 de abril de 2023

 

Gênero: RPG, ação e aventura

Umas merecidas férias para Aloy

Ao lado de Seika, Aloy encontra um refúgio no Litoral Ardente (C. PlayStation)

A expansão assume a difícil tarefa de continuar a desenvolver a ameaça do próximo game sem entregar demais a história. Seguindo por um caminho paralelo, Burning Shores cria um microcosmos isolado e independente, onde é possível testar novidades sem afetar drasticamente a franquia original. Aponta para o futuro com mais clareza mantendo o encanto do mistério. Um grande acerto para evitar que a expansão caísse na mesmice ou na irrelevância.

No roteiro, isto significa também priorizar o desenvolvimento pessoal de Aloy como personagem, aproveitando que o destino da humanidade não corre um risco tão urgente — algo praticamente inédito desde que a garota deixou a sua tribo Nora em Zero Dawn. O que começa como uma caçada a um inimigo perdido rapidamente se transforma em uma trama intimista e introspectiva, em que a garota confronta a sua evolução como pessoa ao se ver refletida nos conflitos de sua nova companheira de jornada: Seika, da tribo Quen.

A guerreira, também rejeitada por seu povo, vira um ponto rápido de introdução para os jogadores na trama de Burning Shores. Além de sua personalidade magnética, as semelhanças de seus embates pessoais com os de Aloy tornam mais simples entender o que está em jogo no Litoral Ardente e ainda conecta diretamente com o enredo da história principal, que introduziu a sua intrigante tribo pela primeira vez. Seika ainda prova ser uma confiável aliada em combate, pelo menos na maior parte do tempo.

Novos oponentes empolgam (C. PlayStation)

Seja prendendo os adversários com cordas ou investindo pesado com ataques físicos, a novata marca presença nas lutas comuns contra robôs e humanos. Porém não espere o mesmo desempenho em lutas contra chefes. Nestes casos, a inteligência artificial capenga, se tornando mais um obstáculo do que uma ajuda. Um rebelde em particular acabou se tornando um desafio maior que os próprios chefes finais exatamente pela presença de Seika em batalha, que exigia tanta atenção com suas mortes estúpidas que roubava o foco do perigo principal.

Além dos humanos, que não são muito interessantes, poucos inimigos completamente novos são introduzidos na expansão. O destaque fica para o Biliático, um sapo robótico gigantesco que ataca com ácido e cria moscas-drones para atrapalhar o jogador. Fazia falta um inimigo capaz de gerar capangas dessa forma no ecossistema robótico de Horizon, aumentando exponencialmente o perigo em campo quanto mais tempo o jogador leva para derrotá-lo. Parece uma adição tão natural ao leque de criaturas do game que levanta dúvidas se não teria sido cortado do jogo base apenas para compor a expansão.

Outras novidades à jogabilidade soam como um prelúdio do que está por vir no futuro, como as manoplas de tecnologia Zenith — um novo tipo de arma poderoso que promete ser expandido em uma possível sequência. Devastador e divertido, transforma os combates em um espetáculo à parte. Explorar os céus e os mares também ganha um merecido destaque na expansão, o que não foi possível no jogo principal por receio de quebrar o ritmo de exploração.

O Litoral Ardente foi feito para ser explorado pelos ares (C. PlayStation)

Em um cenário cuidadosamente criado para aproveitar esta movimentação expandida, voar se torna uma segunda natureza. Fica difícil imaginar um Horizon 3 sem esta habilidade disponível desde o início. Afinal, a mobilidade travada sempre foi uma crítica que assombra a franquia desde Zero Dawn, principalmente por seu lançamento próximo a outros gigantes do mundo aberto como The Legend of Zelda: Breath of the Wild e Elden Ring. Burning Shores mostra que a Guerilla Games aprendeu com os erros e refinou a experiência para algo orgânico e divertido — um novo padrão de excelência para a franquia que não pode ser ignorado.

Manobrar entre os céus e oceanos nas costas de um Asa-Marinha, uma nova espécie de pterodáctilo, é uma experiência intuitiva. Em Forbidden West, a habilidade só esteve disponível nos momentos finais, quando todo o mapa já havia sido visitado por terra. Parecia mais um atalho para facilitar a exploração sem quebrar o ritmo da conclusão da trama, mas na expansão está no centro da experiência.

O Litoral Ardente é cheio de prédios altos, desfiladeiros e uma verticalidade que não esteve tão presente até então, aproveitando ao máximo as ruínas distópicas de uma Los Angeles destruída. E poder alcançar qualquer canto do mapa sem muito esforço incentiva ainda mais o jogador a conhecer novos caminhos e se deparar com atividades secretas deste cenário rico e detalhado, quase tão abundantes quanto em Breath of the Wild, da Nintendo.

Há muito o que se descobrir no Litoral Ardente (C. PlayStation)

Restringir a expansão ao PlayStation 5, apesar de limitar o acesso de grande parte do público, se mostra uma decisão acertada. A garantia de um hardware mais robusto resultou em uma exuberância visual notável. Horizon nunca foi tão lindo. E até mesmo o novo console da Sony sofre um bocado para processar toda a magnitude desta aventura. Houveram alguns poucos trechos em que era possível perceber a vegetação no horizonte, como blocos inteiros de árvores, carregando conforme a personagem avançava no mapa. Nada que atrapalhasse a experiência a longo prazo, mas acarretava em uma breve quebra de imersão, inevitavelmente.

No fim, Burning Shores consegue alcançar um equilíbrio interessante. Por um lado, não é uma experiência indispensável para quem não é tão fã da franquia: explica melhor as consequências do desfecho de Forbidden West sem deixar no escuro quem escolher pular direto para um Horizon 3. Serve exatamente como um complemento da trama original e não um ingrediente essencial para curtir o prato principal, o que é um tanto positivo.

Ao mesmo tempo, quem decidir encarar essa aventura vai ter uma pequena amostra de como a franquia pode amadurecer de uma forma espetacular em um futuro próximo. Em cerca de 8 horas, Burning Shores cria uma experiência tão agradável quanto uns dias de férias em um refúgio tropical. É um presente para os fãs de Aloy, que acerta em quase tudo o que se propõe, entregando suspense, ação, mistério e romance na dose certa e deixando um gostinho viciante de “quero mais”.

Nota: 9/10

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