Como a Marvel driblou a censura que proibia uso de vampiros e lobisomens nos quadrinhos

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Como a Marvel driblou a censura que proibia uso de vampiros e lobisomens nos quadrinhos

Por Pedro Carrijo

Embora a Marvel apresentasse personagens vampiros em suas primeiras publicações, como Timely Comics e Atlas Comics, a implementação da Comics Code Authority proibiu a representação de mortos-vivos em quadrinhos, incluindo zumbis e vampiros. Mas como a editora conseguiu escapar da censura para utilizar os monstros clássicos em suas histórias?

No início dos anos 50, o mundo dos quadrinhos passou por um período de reformulação quando psicólogos populares começaram a analisar e culpar as histórias por um aumento dos males sociais que iam contra os ideais da época. Dessa forma, em 1954, aconteceu a implementação do Comics Code Authority (CCA), um órgão governamental que analisava e censurava HQs de todos os gêneros para dar seu selo de aprovação àqueles que cumpriam seu rigoroso padrão (via Gamesradar).

Como recorda o CBR, os regulamentos do CCA incluíam a proibição da representação de violência explícita, sexualidade, uso de drogas e vários elementos de fantasia e ficção científica que considerava inapropriados, incluindo representação de monstros de terror comuns, como vampiros e lobisomens.

Mas, no final dos anos 60, a Marvel Comics encontrou uma maneira de explorar algumas dessas ideias proibidas, sem perder o selo CCA, com o uso de dinossauros.

Em alguns títulos de Uncanny X-Men, por exemplo, o escritor Roy Thomas e o artista Neal Adams adicionaram novos personagens no cânone da equipe mutante, como o vilão Sauron, que tinha o poder vampírico de drenar a força vital de suas vítimas para se sustentar, mas apresentava um design semelhante a um pteranodonte, um dinossauro alado, algo que driblou a censura do CCA.

Wolverine lutando contra Sauron, o mutante vampiro em forma pterossauro.

O personagem apareceu pela primeira vez em Uncanny X-Men # 60, ainda em 1969, e acabou se tornando um vilão recorrente dos X-Men com aparições em desenhos animados e videogames e até mesmo um lugar de honra como uma das primeiras figuras lançadas na amada linha de figuras de ação Toy Biz X-Men dos anos 90.

Em 1970, apenas um ano após a criação de Sauron, a DC também conseguiu emplacar um monstro sem violar o CCA: o Morcego Humano, um vilão do Batman que tinha a aterrorizante aparência de um grande morcego. Sua presença nas páginas das HQs foi um indicativo de mudanças que viriam nas regras do CCA sobre personagens de terror.

Morbius, personagem interpretado por Jared Leto no filme lançado em 2022.

De volta ao mundo da Marvel, naquela época, as histórias do Homem-Aranha seguiam tomado um rumo mais científico, como em Amazing Spider-Man # 100, onde Peter Parker tomou um soro especial destinado a eliminar seus poderes de aranha e, consequentemente, viu quatro braços extras crescendo em seu torso — fato que o fez procurar o geneticista Dr. Michael Morbius.

Morbius, inclusive, foi o primeiro personagem a ser anunciado diretamente como um vampiro na Marvel, 17 anos após a implementação do CCA. A ressalva do personagem era ser um vampiro “vivo”, com a origem de seus poderes vinda da ciência e com o fato dele se alimentar da força vital dos seus adversários. Tudo isso ajudou a driblar a censura da época.

Não muito tempo depois da criação de Morbius, a Marvel se inclinou ainda mais para o terror, graças ao relaxamento das restrições do CCA com a passagem dos anos (até ser totalmente abolido em 2011). De lá pra cá, a empresa anunciou alguns personagens bem focados no horror, incluindo sua própria versão do Drácula de Bram Stoker e do Lobisomem.

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