Crítica – Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania para o tempo com suas promessas para o futuro

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Crítica – Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania para o tempo com suas promessas para o futuro

Por Gus Fiaux

Em 2023, o Universo Cinematográfico da Marvel dá o pontapé em sua Fase 5 com Homem-Formiga e a Vespa: Quantumaniao mais novo filme estrelado pelos menores heróis da Casa das Ideias, que agora se envolvem numa jornada pelo Reino Quântico enquanto exploram os limites da realidade e do tempo ao enfrentarem o ameaçador Kang, o Conquistador.

Permeado por cenas de ação, CGI mal finalizado (para variar) e uma ausência completa de tudo que tornava a saga solo do Homem-Formiga minimamente envolvente, o novo filme de Peyton Reed vem como um alerta para os fãs de longa data do MCU: se preparem, porque daqui para frente a tendência é decair ainda mais. Aqui, você pode conferir a nossa crítica completa do filme.

Ficha Técnica

Título: Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania (Ant-Man and the Wasp: Quantumania)

 

Direção: Peyton Reed

 

Roteiro: Jeff Loveness

 

Data de lançamento: 16 de fevereiro 2022 (Brasil)

 

País de origem: Estados Unidos

 

Duração: 2h 05min

 

Sinopse: Scott Lang e Hope Van Dyne, com Hank Pym e Janet Van Dyne, exploram o Reino Quântico, onde interagem com criaturas estranhas e embarcam em uma aventura que vai além dos limites do que eles achavam possível.

Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania está em cartaz nos cinemas.

Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania – Promessas, promessas, promessas…

A essa altura do campeonato, falar em “saturação dos filmes de super-heróis” é chutar cachorro morto. Não é de hoje que artistas do ramo audiovisual falam sobre como a super exposição de histórias baseadas em quadrinhos é prejudicial para o cinema como um todo, mas permita-me discordar parcialmente dessa afirmação e adicionar: não é a saturação dos super-heróis que está matando o cinema, mas sim a saturação de um tipo específico de história.

Peguemos, por exemplo, The Batman, e como aquele filme foi capaz de traduzir a mítica do personagem das HQs para uma abordagem influenciada pelos filmes noir. Ou então como The Boys é uma sátira consciente da política e da sociedade norte-americana, idiotizada em seu clamor por “messias modernos”. Até mesmo no campo da Marvel não faltam exemplos, como Lobisomem na Noite e seu sofisticado experimento estético.

O problema começa quando falamos do Universo Cinematográfico da Marvel como um todo, e como seus filmes (e agora séries de TV, especiais festivos, quadrinhos tie-in e sabe-se lá o que mais Kevin Feige pode tirar da cartola – ou melhor, do boné – para ameaçar o mundo) não conseguem mais criar um senso de satisfação no público. Tudo é apenas uma preparação para algo que um dia pode vir. E Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania é a mais perfeita síntese desse sentimento.

Aqui, somos jogados junto com Scott Lang e cia. direto para o Reino Quântico, o “microverso” particular que já havia sido introduzido nos filmes anteriores da saga. Porém, se os quinze primeiros minutos do filme preparam um arco sólido para o Homem-Formiga, que agora precisa lidar com o peso de ser uma figura conhecida e admirada, o restante da duração se certifica em jogar qualquer traço de desenvolvimento de personagem pela janela.

Afinal de contas, o filme pode até ter “Homem-Formiga e a Vespa” no título, mas a história não é sobre eles. Não é sequer uma continuação dos filmes anteriores, que tentavam trazer a lógica das comédias familiares para o MCU e incorporar isso em personagens considerados “ridículos” por boa parcela dos fãs. Não se engane, Quantumania é, em essência, um trailer de duas horas para apresentar o perigo representado por Kang, o Conquistador. 

Nesse sentido, Jonathan Majors faz o melhor que pode com um material pobre e capenga. Ele passa a ameaça em seu olhar, na sua expressão corporal e nos seus monólogos sobre como veio do futuro, viu o fim, conquistou tudo e se viu exilado no Reino Quântico. É apenas penoso que isso fique restrito ao campo das falas e nunca tenhamos sequer o menor desenvolvimento para o personagem Kang, mas sim para a marca.

Não é surpresa que a Marvel gosta de trabalhar com blocos de histórias. Suas três primeiras fases são a construção para Vingadores: Guerra Infinita Ultimato, e apesar dos tropeços no meio do caminho, ainda havia, mesmo que mínima, uma tentativa de oferecer ao público experiências completas, para que todos saíssem da sala de cinema curiosos pelo futuro mas satisfeitos com o que haviam visto até então.

Porém, desde que essa galinha deu muitos ovos dourados, a Disney e sabe-se lá quem estiver por trás de tudo isso perceberam que o esforço para fazer qualquer coisa melhor que o medíocre é desnecessário. As pessoas ainda irão lotar as salas de cinema, independente da qualidade geral da obra. Afinal, eles não vendem mais filmes, mas sim promessas.

A promessa de que algo grande virá no futuro permeia toda a Fase 4 e tolo daquele que acredita que, com a Fase 5 e as novas declarações de Kevin Feige sobre focar em qualidade em vez de quantidade, algo irá mudar. Ainda estamos vivendo na era dos trailers de duas horas, e o que importa aqui é dar mais destaque ao futuro, ao que veremos só em Vingadores: Dinastia Kang Guerras Secretas.

A experiência que temos em tela com Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania não é diferente de uma relação abusiva ou um emprego exploratório, onde ouvimos mundos e fundos sobre como tudo vai melhorar, sobre como as coisas serão diferentes a partir de agora e tudo vai ficar certo se dermos mais uma chance. Spoiler: não vai melhorar e nem mudar. Na verdade, a tendência é só piorar.

Talentos esmagados pela corporação

É interessante, no entanto, analisar o discurso por trás de Quantumania. Aqui, vemos esses pequenos heróis se juntando à população local do Reino Quântico para tentar refrear a tirania de Kang, que desde que chegou a esse lugar, fez de tudo para se tornar um ditador completo, dizimando seus inimigos e calando qualquer um que tente se manifestar contra seu império.

Na base, temos uma trama genérica de rebelião que acompanha o cinema desde sempre, e que já serviu de fundação para obras atemporais como a trilogia original Star WarsDuna e, se você quiser retroceder um pouco mais no tempo, MetropolisMas chega a ser engraçado como isso quase soa como um grito de socorro por parte de quem está envolvido na produção.

Muitos não gostam dos filmes anteriores do Homem-Formiga, e tá tudo bem com isso. Mas Peyton Reed Jeff Loveness já mostraram mais de uma vez como são capazes de criar obras carismáticas, divertidas, emocionantes e que não precisam sucumbir às megalomanias abissais do MCU para transmitir suas mensagens. Contudo, o que vemos em Quantumania é a prova de que a tirania do estúdio também bateu à porta deles.

Desprovido de humor em comparação aos seus antecessores, esse terceiro filme tenta se vender como uma aventura grandiosa e histérica, quando na verdade entrega ao público migalhas. As sequências de ação dos anteriores, que ao menos exploravam as possibilidades por trás dos poderes de Scott Lang Hope Van Dyne, agora dão lugar a uma sequência de eventos desinteressados e desinteressantes, enquanto aturamos um CGI precário, fruto da exploração de trabalhadores dentro da Marvel Studios.

É até irônico que o filme bata no peito e diga com todas as letras que temos que “valorizar o cara pequeno“, por mais que isso não seja aplicado à prática na realidade, onde todo e qualquer esforço artístico é suprimido em prol de lembretes a cada cinco minutos que “algo maior está chegando, Kang é perigoso, Guerras Secretas vem aí” e todas as suas variantes.

Nesse sentido, qualquer tentativa de focar nesses personagens acaba indo pelo ralo e só não é pior porque os atores ao menos se esforçam. Paul Rudd injeta carisma e humor ao lado de Kathryn Newton, enquanto nomes como Michael Douglas Evangeline Lilly tentam dar algo aos seus personagens além do modo automático condicionado pelo roteiro. Michelle Pfeiffer pega uma trama genérica e boba e faz disso algo monumental.

E, no fim, o próprio Peyton Reed também injeta aqui e acolá momentos que lembram que ainda há um homem por trás do filme que parece ter sido cuspido por uma I.A. – basta ver as cenas com M.O.D.O.K., onde ele injeta todo o carisma que esperávamos de um filme do Homem-Formiga. É apenas uma pena que todo o resto seja conduzido de uma maneira tão apática e decadente.

Se você viu o filme, se divertiu horrores e caiu aqui nessa crítica, e já está com o dedo coçando para defender uma empresa multibilionária nos comentários ou me mandar mensagens raivosas nas redes sociais, poupe seu tempo. É possível sim que eu só não tenha me conectado com a obra. É possível que isso não seja mais “a minha praia” e que os filmes de super-heróis, como um todo, tenham perdido a graça e o brilho que os faziam tão atrativos em 2012.

Porém, acredito firmemente que o público devia esperar algo além de promessas vazias para o futuro, apenas para chegarmos nesse “futuro” e descobrirmos que há algo maior, mais grandioso e mais megalomaníaco adiante, e que para isso precisaremos passar por mais trinta filmes e séries de qualidade questionável apenas por uma ou outra cena pós-créditos que entrega uma migalha do que nos espera. E nisso, não falo apenas como crítico, mas sobretudo como consumidor e como quem já esteve muito animado para qualquer coisa que saísse do MCU.

Em dado momento do filme, enquanto explica sobre seus poderes, Kang diz que não vive em uma linha reta e tem acesso a todas as linhas do tempo e futuros possíveis, adicionando: “É difícil não querer pular para o final”. Pois bem, estamos no começo de mais uma fase do MCU, com mais promessas e pistas para o futuro, e tudo que eu mais queria era também poder chegar a esse tão prometido final, seja ele qual for.

Nota: 2 de 5.

Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania está em cartaz nos cinemas.

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