Crítica – A Lenda de Vox Machina: Segunda temporada acerta mais uma vez

Capa da Publicação

Crítica – A Lenda de Vox Machina: Segunda temporada acerta mais uma vez

Por Chris Rantin

Critical Role é um sucesso colossal no mundo do RPG, trazendo campanhas emocionantes e personagens interessantes em uma aventura de Dungeons & Dragons pra ninguém botar defeito. Chegando com muita expectativa, a adaptação da primeira campanha do grupo na série animada A Lenda de Vox Machina foi um grande presente para os fãs, mas será que a segunda temporada consegue repetir essa árdua tarefa? A resposta simples é um sonoro sim. 

A Legião dos Heróis recebeu a segunda temporada completa de A Lenda de Vox Machina e, ainda que peque em alguns pontos, o projeto do Amazon Prime Video consegue ficar ainda melhor em seu segundo ano. 

Os fãs de Critical Role já conhecem a importância do elogiado arco Chroma Conclave, que totalizou 44 episódios de aproximadamente quatro horas cada. Como adaptar essa história em apenas 12 episódios de 30 minutos de duração parecia impossível para os criadores da série — os próprios dubladores envolvidos em CR — a melhor opção foi dividir essa história em duas temporadas, motivo pelo qual a terceira temporada já foi anunciada

Mesmo assim, a impressão que fica é que a segunda temporada de A Lenda de Vox Machina está correndo o mais rápido que pode para conseguir cobrir o máximo possível do arco Chroma Conclave. E, por mais que isso signifique que nenhum momento possa ser classificado de “filler” por parte dos fãs, isso resulta em doze episódios carregados de acontecimentos importantes com poucos momentos tranquilos para que o espectador consiga “recuperar o fôlego”. 

A segunda temporada opta por começar exatamente de onde a primeira temporada acabou, ou seja, com os dragões chegando para destruir tudo. Com isso, logo de cara somos jogados no caos e na ação frenética que surge da calamidade. Começar a segunda temporada assim é um grande acerto, não apenas por já estabelecer quem são os novos vilões e qual será a trama deste novo arco narrativo, mas também pela falta de contexto na qual nos deparamos, fazendo com que o público se sinta tão perdido quanto os protagonistas, sentindo na pele a confusão e desamparo que eles enfrentam.

Contudo, ainda que pairem no horizonte como uma grande sombra agourenta, os dragões não são necessariamente o destaque da segunda temporada. Ao colocar os heróis em busca das armas capazes de derrotar os dragões, A Lenda de Vox Machina mostra que o que faz a série brilhar são seus protagonistas que, neste ano, recebem um desenvolvimento muito interessante que enriquece ainda mais a animação. 

Ainda que continuem engraçados, Scanlan e Grog deixam de ser apenas o alívio cômico do grupo.

Enquanto que a primeira temporada focou quase que exclusivamente em Percy — pontuando o arco do personagem com a jornada pessoal de Pike — a segunda dá a oportunidade para que Vex, Vax, Keyleth, Grog e Scanlan consigam o desenvolvimento que tanto merecem. Algo que, na prática, resulta na sensação de que agora finalmente conhecemos todo o grupo de personagens. 

Deixando de ser personagens caricatos que, muitas vezes, atuavam quase que exclusivamente como alívio cômico, Scanlan e Grog passam por uma série de provações que explora suas vulnerabilidades e temores. O amadurecimento dos dois resulta em figuras que, ainda que permaneçam bem humoradas, são tridimensionais com camadas e nuances. 

O mesmo pode ser dito de Vex e Vax, cujo passado é bem apresentado através de flashbacks bem colocados. A dinâmica da relação interpessoal dos gêmeos ganha um novo contexto através disso, assim como traços de personalidade dos dois. Ou de Keyleth que finalmente encara suas inseguranças para conseguir seguir em frente com sua missão pessoal. 

Os heróis ficam ainda mais coesos em seu segundo ano

Além de enriquecer os arcos pessoais de cada um deles, esse desenvolvimento melhora ainda mais a dinâmica do grupo — já fortalecida após os eventos do arco Briarwood — fazendo com que seja ainda mais divertido acompanhar a maneira que eles interagem e como novos laços são formados. 

É uma pena, porém, que por vezes surja a sensação de que estamos correndo contra o tempo e que é preciso ignorar a intensidade de alguns acontecimentos pessoais importantes em detrimento da ação desenfreada que aparece na sequência. 

Por mais que isso seja compreensível, uma vez que a quantidade de tempo disponível em uma série animada é muito menor do que as inúmeras horas decorridas nas sessões de RPG, alguns episódios apresentam um problema de ritmo por conta dessa intensidade. Seguimos do ponto A ao ponto D em um único episódio, sem nenhuma pausa para digerirmos o que acabamos de assistir ou dos próprios personagens conversarem sobre isso, o que acaba sendo um tanto incômodo. 

Desenvolvimento dos personagens é o maior acerto da série

Apesar de ter sido uma primeira temporada incrível, mostrando que a ambiciosa ideia de adaptar uma campanha de RPG para uma série animada era algo que funcionava, alguns pontos do começo de A Lenda de Vox Machina deixaram a desejar. A segunda temporada, porém, corrige estes deslizes e, com isso, consegue ser ainda melhor que a primeira. 

Um dos exemplos disso é o uso mais moderado das cenas gore. Se na primeira temporada víamos figurantes que estavam lá apenas para morrer de formas mirabolantes, reforçando assim a ideia de que Vox Machina era um “desenho de adulto”, a segunda temporada encontra o equilíbrio nesses momentos grotescos

Seria um exagero dizer que toda morte violenta contribui de alguma forma para o desenvolvimento da narrativa, mas este é um recurso que surge mais conectado com a trama, seja para mostrar o desespero que cerca os heróis ou para reforçar a escala absurda do poder dos vilões. Diante disso, a impressão que fica é que o gore não é tão “gratuito” quanto antes

Animação da segunda temporada de Vox Machina está mais harmoniosa

Outro ponto que mostra a evolução da série está na animação, que surge bem mais fluída e agradável aos olhos neste segundo ano. Ainda que alguns componentes de cena sigam uma estética mais próxima do 3D em nome do dinamismo — neste ano algo visto principalmente nos dragões — esse contraste com a animação em 2D está bem mais suave. 

Com isso, não há componentes que destoam drasticamente do traço clássico da série, fazendo com que a imersão na narrativa fique mais fácil e, neste processo, tudo pareça mais conectado e harmonioso. Dessa forma, o incômodo que se fez presente em diversos momentos da primeira temporada, é quase imperceptível agora. 

A segunda temporada de A Lenda de Vox Machina teve o difícil desafio de adaptar um dos arcos mais aclamados de Critical Role para uma quantidade limitada de episódios, tudo isso enquanto ajustava os problemas apontados da primeira temporada e se esforçava para continuar agradando os fãs — tanto os Critters quanto os que só acompanham a série animada. 

Para a nossa sorte, a série animada consegue cumprir essa missão e, apesar de um deslize ou outro, A Lenda de Vox Machina entrega uma temporada ainda melhor que a primeira. Com uma história ainda mais grandiosa, personagens que são melhor desenvolvidos e uma animação mais fluída, a série ainda luta para encontrar o seu próprio ritmo diante da adaptação das sessões de Critical Role, mas continua entregando entretenimento de altíssima qualidade. 

Segunda temporada de A Lenda de Vox Machina leva 4 estrelas da LH!

E que venha a terceira temporada!

A segunda temporada de The Legend of Vox Machina estreia 20 de janeiro de 2023.

Veja também: