Vikings Valhalla: Como o protagonista do derivado contradiz eventos da série original

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Vikings Valhalla: Como o protagonista do derivado contradiz eventos da série original

Por Arthur Eloi

Atenção: Alerta de Spoilers!

Vikings chegou ao fim em 2020 após seis temporadas. A série se iniciou em 2013 apresentando Ragnar Lothbrok, um fazendeiro que se torna um dos maiores exploradores nórdicos, e acaba mostrando todo um universo de figuras históricas da Escandinávia. A trama foi retomada agora em 2022 com Vikings: Valhalla, série derivada da Netflix.

Há um foco da produção em incorporar fatos e figuras reais à sua ficção, mas vez ou outra a série esbarra em inconsistências. Por mais que Valhalla tenha acabado de começar, o derivado já tropeçou na sua própria mitologia ao escolher Leif Eriksson (Sam Corlett) como seu protagonista.

Quem foi Leif Eriksson na vida real?

Leif Eriksson é conhecido como o primeiro europeu a pisar na América do Norte

Nascido na Groenlândia por volta de 975, Leif Eriksson se tornou um dos exploradores mais famosos dentre os nórdicos. Um exímio navegador, ele é considerado o primeiro europeu a pisar na América do Norte. Por volta da virada do primeiro milênio, liderou expedições para o território que hoje é conhecido como o Canadá, e por lá – ao lado de outros guerreiros e colonizadores – estabeleceu a primeira colônia nórdica no novo continente.

As terras eram muito diferentes de seu país de origem, com calor ao invés do frio impiedoso, e árvores carregadas de flores e frutos. Por conta disso, batizou o novo continente como Vinlândia, em alusão à enorme quantidade de árvores de uva que encontrou.

Um fato curioso é que o assentamento viking na América do Norte não combateu os povos indígenas que já habitavam o local antes. Muito pelo contrário, a colônia de Leif Eriksson coexistia pacificamente com os nativos, até mesmo participando de trocas de peles e recursos. Foi só quando Eriksson deixou o continente para voltar para a Groenlândia que as coisas desandaram.

De qualquer forma, sua presença nas Américas serviram para mostrar o enorme alcance dos exploradores vikings, e é reconhecido pelo Canadá e pelos Estados Unidos desde a década de 1960, quando mais evidências do assentamento nórdico foram encontradas. Desde então, os EUA celebram uma data especial em 6 de outubro, conhecida como o Dia de Leif Eriksson, que homenageia o legado do explorador.

Até agora, Vikings: Valhalla já estabeleceu a origem do groenlandês e sua excelente habilidade de navegação. Então onde está a incoerência?

Como Vikings introduziu o pai de Leif Eriksson antes da hora

Erik, o Ruivo já apareceu na temporada final de Vikings – que se passa mais de 100 anos antes de Valhalla

Pouco antes do derivado, a temporada final da série queimou a largada para dar uma conclusão emocionante para o seriado. Durante um arco após a morte de Bjorn Ironside (Alexander Ludwig), um guerreiro chamado Erik começa a almejar o trono norueguês. Acontece que o personagem, interpretado por Eric Johnson, é ninguém menos que o pai de Leif Eriksson.

Assim como é mencionado em Valhalla, o explorador é filho de Erik Thorvaldsson – também conhecido como Erik, o Ruivo – , um guerreiro berserker de tamanha violência que é banido tanto da Noruega quanto da Islândia, mas que também é parte do grupo de colonizadores do território que se tornou a Groenlândia. O personagem é baseado em uma figura histórica real de mesmo nome, mas a série original tomou liberdades criativas quanto ao seu desfecho.

O guerreiro foi retratado não só como alguém sedento por poder em um conflito com Gunhild (Ragga Ragnars) e Ingrid (Lucy Martin) pelo comando de Kattegat. No meio disso tudo, Erik é assassinado por uma escrava chamada Nissa (Victoire Dauxerre), atravessado por uma forquilha. Na vida real, estima-se que Erik conviveu no mesmo período que o filho, e que morreu pouco após a descoberta da Vinlândia, em acidente quando caiu do cavalo.

Mudar a causa da morte não é um problema, já que a série pode sim mudar o que melhor se encaixar em sua trama. O que é questionável é o fato de que ambas as séries supostamente se passam no mesmo universo, porém há um salto de mais de 100 anos entre elas, o que impediria que Erik tivesse tido o jovem que protagoniza a sucessora.

Erik Thorvaldsson morreu no universo de Vikings, mas seu suposto filho é protagonista do derivado que se passa mais de um século depois

Além disso, a temporada final de Vikings ainda mostrou o assentamento nórdico na América do Norte, só que sem a presença de Leif Eriksson. Nessa universo, quem é responsável por levar os vikings para o novo continente são Floki (Gustaf Skarsgaard) e Ubbe (Jordan Patrick Smith), filho de Ragnar Lothbrok que inclusive é o responsável por conduzir e manter a colônia. Nem mesmo as conquistas de seu pai acontecem aqui: Erik Thorvaldsson não é o colonizador da Groenlândia no seriado, mas sim Floki (de novo) e Kjetill (Adam Copeland). Sendo assim, o que resta para definir Leif e Erik no derivado?

Valhalla cita nomes como Ragnar, Bjorn e Harald Finehair (Peter Franzén), portanto há motivos para acreditar que a versão de Erik, o Ruivo mostrada na série original foi pensada para ser baseada na figura real. Assim, é bastante curioso que o derivado use como protagonista um personagem que logicamente sequer teria como existir dentro desse universo.

A única forma que o programa pode contornar essa inconsistência é apresentar uma nova versão de Erik Thorvaldsson no futuro, e desenvolver sua versão de Leif Eriksson muito além do feito pelo qual é conhecido na vida real. É bem provável que esse seja justamente o plano, visto que a série foi aprovada com 24 episódios, e que o criador Jeb Stuart planeja um total de cinco temporadas para o derivado. No fim das contas, a Netflix ainda pode surpreender com o seriado ao ponto de ofuscar essa pequena confusão temporal.

Vikings: Valhalla já está disponível no catálogo da Netflix. Ainda não há previsão de estreia para as próximas temporadas.

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