Star Trek: Picard 2×01 – The Star Gazer

Capa da Publicação

Star Trek: Picard 2×01 – The Star Gazer

Por Gabriel Mattos

Star Trek: Picard está de volta para a sua segunda temporada na Amazon Prime Video. A continuação póstuma de A Nova Geração continua seu estudo minucioso sobre uma das figuras mais carismáticas da franquia — o Almirante Picard, de Sir Patrick Stewart. E em seu primeiro episódio, “The Star Gazer”, o grande tema motor da narrativa são as motivações deste personagem tão complexo.

Para quem está curioso, mas quer se surpreender com o episódio, este texto não contém grandes revelações da trama além do futuro dos personagens após a primeira temporada. Participações especiais estarão entre parênteses. De resto, apenas os temas e suas repercussões serão discutidas. Quem ficou interessado, chegue mais e vamos embarcar nesta jornada nas estrelas.

Picard reflete sobre o tempo

Como de costume, este primeiro capítulo da nova aventura estelar de Picard é bastante calmo e introspectivo. A calmaria antes da tempestade. Ao invés de se preocupar com ação e urgência, o objetivo é começar a colocar as peças cuidadosamente no tabuleiro para criar uma nova história cheia de surpresas e suspense.

Antes de tudo começar, somos apresentados a um breve vislumbre do futuro — uma sequência picotada que consegue capturar a urgência da ameaça desta temporada. Fica a promessa de que, até o fim do episódio, uma força poderosa irá reunir a equipe da primeira temporada para um confronto direto. E com a certeza de que veremos todos juntos, o episódio volta umas horas no tempo para contar o que aconteceu com cada um entre as temporadas.

De modo geral, cada um seguiu o curso esperado, conquistando mais destaque em sua própria área. Sete de Nove, a ex-borg amiga de Jean-Luc, continua a patrulhar as estrelas, a despeito de Raffi, que começou a desenvolver sentimentos pela colega. Soji, que não deve retornar nesta temporada, despontou como uma diplomata de seu povo, acompanhada por Agnes, que é atormentada por seus erros do passado.

Passagem de tempo traz mudanças a Frota Estelar

A Frota Estelar foi obrigada a repensar suas maneiras. Os eventos da primeira temporada expuseram não só a corrupção do sistema, como a inocência das formas de vida sintéticas. Assim, o banimento de sua existência foi revogado e aqueles que lutaram por esta causa acabaram sendo readmitidos pela organização — Picard como almirante, Raffi na posição de comandante, Elnor se torna cadete e Rios no posto de capitão da Stargazer.

A nave original de A Nova Geração assume uma importância narrativa para carregar o início desta história. Sua presença é como um martelo reforçando a passagem do legado entre Jean-Luc e Rios. Mas indo além, seu nome é destrinchado no próprio título do episódio: The Star Gazer, ou em português, aquele que observa as estrelas. Sob esta lente, o roteiro se propõe a analisar o emocional de Jean-Luc Picard.

A primeira cena, na vinícola de sua família, mostra na prática sua relutância em se apegar romanticamente a alguém. Esta questão acaba sendo reforçada por uma velha amiga, em um momento posterior do episódio, que alerta ao almirante que todo tempo que ele gastou procurando respostas nas estrelas, ele estava fugindo de olhar para seu próprio coração. Mas Freud explica…

Traumas do passado assombram Picard

Assim como propõe o filósofo Sigmund Freud, a explicação para os problemas de Jean-Luc estão na figura de sua mãe. Há uma memória muito doce neste episódio mostrando a profunda conexão entre o almirante e sua mãe, que foi quem deu o pontapé para o fascínio do almirante com o espaço. Mas algo traumático aconteceu que cortou bruscamente esta relação. E este trauma mal cicatrizado sintetiza toda a construção emocional do personagem, tanto seu medo de compromisso quanto seu fascínio nada saudável pelo espaço.

Este certo apego pelo passado também esbarra em outro tema forte no roteiro, que pode respingar no resto da temporada — o tempo. A produção fez um ótimo trabalho em conciliar a idade avançada de Sir Patrick Stewart com os conflitos internos de Picard. E esta temporada aproveita para continuar a refletir sobre a finitude da vida de uma maneira que apenas um protagonista idoso poderia permitir.

No fim de sua vida, Jean-Luc parece não ter feito as pazes com o tempo e a história promete colocar o almirante em situações que lhe forçarão a repensar tudo o que ele acredita sobre este conceito tão abstrato. Romance na terceira idade, por exemplo, é algo que o almirante não julgava possível, mas é incentivado a reconsiderar por uma velha amiga (vou revelar quem é para quem não liga para spoilers — — Guinan de Whoopi Goldberg).

Velhos aliados e inimigos retornam na nova temporada

Outra questão paralela ao tempo que emerge no episódio é a relação entre legado e paternidade. Enquanto discursa diante da próxima geração da Frota Estelar, Jean-Luc reflete sobre a jornada da sua família e como ele decidiu continuar este legado não com um filho biológico, mas abraçando o romulano Elnor como se fosse um filho.

Ele garante que o jovem tenha ferramentas para entender o seu lugar nesta sociedade, tendo a humildade de não projetar sua jornada como a classe hegemônica sob seu tutelado e deixando uma forte mensagem pró-imigração. É um momento singelo que define como o personagem gostaria de ser enxergado após sua partida de um modo que espelha questões do mundo real que o próprio Patrick Stewart defende — uma mensagem de acolhimento frente a crise de refugiados que se intensificou com o “Brexit” em seu país de origem.

Por fim, o episódio apresenta o que aparenta ser a grande ameaça desta temporada— uma força alienígena que pode viajar no tempo, retomando mais uma vez este assunto. A natureza desta ameaça chega a ser revelada, mas não é tão simbólica quanto a proposta de viagem temporal que deve perdurar até a season finale.

Com essa possibilidade, Jean-Luc poderia mudar arrependimentos do passado. Para alguém que acredita em segundas chances, esta seria uma oportunidade valiosa. Colocando esta carta na mesa de uma forma ligeiramente ameaçadora, um velho conhecido revela a sua presença, já anunciada no trailer, fechando um episódio cheio de nuances emocionais (spoilers para quem gosta: é o Q).

De modo geral, não foi um episódio movimentado, mas foi um episódio que faz refletir. Um começo interessante.

A segunda temporada de Star Trek: Picard estreia em 4 de março na Prime Video. Novos episódios chegam toda sexta-feira ao serviço.

Fique com: