Paciente 63: Tudo o que você precisa saber sobre a série original do Spotify

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Paciente 63: Tudo o que você precisa saber sobre a série original do Spotify

Por Junno Sena

Atenção: Alerta de Spoilers!

DeLorean. TARDIS. Cabines telefônicas. Na cultura pop, existe uma miríade de máquinas no tempo. É preciso apenas um piscar de olhos e novas realidades são criadas. A escolha de terminar de ler esse parágrafo, assistir mais um episódio de Doctor Who ou, quem sabe, escutar a nova temporada de Paciente 63 é o que pode, ou não, colocar o mundo em um efeito cascata capaz de começar um verdadeiro apocalipse.

Exageros à parte, não é de hoje que estamos elaborando narrativas sobre pequenos eventos repercutindo por todo o universo. E isso não é nada diferente do universo apocalíptico do podcast de ficção nacional Paciente 63. Nele, o mundo não acaba com uma estrondosa explosão, muito menos com o medo ignorante dos personagens de Não Olhe para Cima. De acordo com Pedro, vivido por Seu Jorge, aos poucos a sociedade foi se desgastando, até virar pó.

Pode parecer confuso ou misterioso, por isso preparamos uma matéria explicando tudo sobre o podcast mais surpreendente do momento. Prepara um café e vem comigo nessa viagem.

O enredo de Paciente 63

Seu Jorge nos estúdios Spotify

“Desgaste” é a palavra chave para o trabalho de Julio Rojas. Todos os personagens parecem cansados. Até mesmo os mais insignificantes disfarçam todo o peso de conviver com uma pandemia — não muito diferente da realidade atual. Chegando em sua segunda temporada, a produção original do Spotify se tornou o mais popular podcast de ficção do streaming.

Como um alerta aos riscos da pandemia para a sociedade contemporânea, o criador constrói uma narrativa intensa em que Pedro Roiter precisa convencer a sua terapeuta Beatriz Eliza Amaral, vivida por Mel Lisboa, que ele é um viajante do tempo, enviado ao passado para impedir o desenvolvimento e disseminação do vírus Pégaso.

Adaptação do Caso 63, do escritor e roteirista chileno, esse foi o primeiro conteúdo original do streaming de música de língua não-inglesa a ser adaptado em diversos idiomas.

“A Grande Remoção derrubou o mundo digital. O Pégaso, o real. A sociedade virou pó”, explica Pedro no episódio 4 da primeira temporada, Efeito Garnier Malet.

Nele, como em um jogo de gato e rato, o ouvinte é um espião, uma mosca enxerida, conferindo cada uma das peculiares sessões entre Pedro e Beatriz. Mas, ao invés das típicas conversas em terapia, que podem incluir problemas com os pais e relacionamentos amorosos, o foco é o delírio (ou realidade) de Pedro. Em diversos momentos, Beatriz e o ouvinte duvidam da palavra do viajante. Em outros, esperamos, pelo bem de Beatriz — e o nosso — que tudo não passe de uma brincadeira elaborada e de mal gosto.

Pôster alternativo exclusivo de Paciente 63

Como funciona as viagens no tempo em Paciente 63?

E a forma como o ouvinte se coloca no lugar do personagem é um dos destaques da série. É fácil entender o lado da terapeuta, mas também não é difícil compreender a lógica confusa de Pedro. Para isso, Julio utiliza do científico em busca de criar o ficcional. Entre referências a 12 Macacos, Homem Olhando o Sudeste e De Volta para o Futuro, o roteirista insere a Teoria de Múltiplos Mundos de Hugh Evett, mas também o Efeito Garnier Malet e, até mesmo, dá uma cara nova às viagens do tempo.

Capa de Paciente 63

Isso feito com uma máquina que encontra na “velocidade” a resposta para viagem ao futuro e na “gravidade”, uma forma de viajar ao passado. Pedro explica rapidamente sobre o mecanismo que envolve feixes de luz circulantes e alteração da gravidade. Todos os argumentos, mesmo longe de nossa realidade, ganham vida em nossa mente pela sua verossimilhança, respeitando a Teoria da Relatividade de Einstein.

Qual é a relação dos sonhos e vórtices em Paciente 63?

Porém, a teoria Garnier Malet cria uma forma de burlar o espaço e o tempo através dos sonhos, dando mais uma camada para essa história. Nela, o tempo é visto como contínuo, como tal, as pessoas. Entidades conscientes no presente e no futuro.

Desta forma, ecos de seus atos no futuro podem ser registrados e transmitidos ao passado por meio de sonhos. Servindo como um alerta para impedir ou criar um vórtice, momento em que escolhas criam uma linha alternativa de eventos, esses sonhos são a prova da sanidade de Pedro e de uma possível insanidade de Beatriz.

“Eu gostaria de estar equivocado sobre o vírus, mas há cada vez mais notícias de novas mutações. Tudo o que eu escrevi tem um pé na realidade. Não há nada que poderia ser facilmente buscado ou investigado no Google, tudo é muito científico”, explicou Rojas em entrevista para a B9.

Nada é certo em Paciente 63, mas o que parece o tornar tão real e palpável é, também, a elaboração da mutação do vírus. No futuro de 2062, conhecido por Pedro, conviver com o vírus que parou o mundo desde 2020 é comum. Nascido e criado como a Geração EP, ou Entre Pandemias, Pedro conta como em um dia comum, 22 de outubro de 2022, Maria Cristina Borges, embarcou em um vôo para Madrid e assim, propagou a nova mutação do vírus Pégaso.

Na boca de Seu Jorge e na reação incrédula da personagem Beatriz isso ganha ainda mais força. É como se a atuação dos dois conseguisse tornar o vírus tão real a ponto de ser uma realidade e não apenas um simples e curto entretenimento. Dessa forma, adentramos cada vez mais em um futuro alternativo — que possui uma Colônia em Marte desde 2050, que sofreu apagões virtuais, como a Grande Remoção, e passou por um período ditatorial a la 1984, com a Egrégora.

O que são vórtices?

Todos esses eventos são variáveis e respostas dentro desses “vórtices”. Para o autor, o termo serve para explicar um ponto no tempo em que todas as realidades ainda podem acontecer. A decisão tomada nesse evento é determinante para a linha temporal que irá ser construída posteriormente. Nesse caso, Maria estar no vôo para Madrid cria o vírus Pégaso que, por sua vez, produz eventos como a Grande Remoção e a criação da Egrégora. Diferente de Doctor Who, que existem pontos fixos no tempo, aqui, o que dita a ordem é a variável.

“Ele se explica pela teoria dos universos múltiplos que especula que, toda vez que se toma uma decisão, o universo se divide e a pessoa segue uma linha e outro “ela” continua em outra linha lidando com a outra alternativa. Uma espécie de clonagem do universo. Mas justo antes dessa decisão ser tomada, antes que as linhas se abram, há um ponto zero, cheio de potencial: o vórtice.”

Ilustração de Paciente 63 com foco no vírus Pégaso

O que são melodias?

O maior problema se torna entrar em contato com as memórias dessas linhas. Como evitar algo que você nem sabe que irá acontecer? Na primeira temporada, Pedro diz a Beatriz que, quando se viaja no tempo, você não está preocupado em provar sua existência, em estudar e pesquisar eventos adjacentes, mas em seu objetivo. Para dar um norte à Beatriz, na segunda temporada, mais alguns conceitos científicos vão ganhando espaço e junto, algumas respostas vão sendo dadas.

Anteriormente, Pedro dizia ter conhecimentos de eventos que ainda não havia acontecido. A resposta para isso não é só o efeito Garnier Malet, mas também as melodias. Após viajar para 2012, a terapeuta precisa “recuperar” as memórias de sua vida na outra linha do tempo.

Para isso, o autor inseriu um fato científico comprovado sobre como a música reage nos cérebros de pacientes com Alzheimer. Desta forma, som se torna ainda mais importante na trama, uma vez que não apenas consumimos a história a partir dele, mas como as gravações das sessões são uma fonte de memória e informação.

Entenda a Linha do Tempo de Paciente 63

Com tantos eventos, a vontade é fazer o mesmo que Beatriz: pedir para Pedro ir devagar por que é preciso anotar algumas coisas. Papéis, canetas ou blocos de nota do celular à parte, isso não será necessário, pois o Spotify fez uma linha do tempo para — pelo menos tentar — desfazer o nó que é feito ao fim dos créditos da primeira temporada de Paciente 63.

Linha do tempo da primeira temporada de Paciente 63

2022 – Paciente 0

2022 é o ano em que a Paciente 0, Maria Cristina Borges, viaja para encontrar a sua amiga em Madri, espalhando o vírus Pégaso e causando um desastre internacional. Acontece esta amiga é a irmã da Elisa, a terapeuta da primeira temporada, o que complica ainda mais as coisas.

2012 alternativo

Na segunda temporada, os protagonistas decidem alterar os acontecimentos de 2012 para evitar que Maria se torne amiga da irmã de Elisa, fazendo com que ela não tenha motivos para fazer a temida viagem que dá início a pandemia. Só que, neste mundo alternativo, Pedro se torna Vincente Correa, o pai da Paciente 0, cabendo a Elisa, que responde por Beatriz, impedir a catástrofe de acontecer.

2062 – O fim do mundo

2062 acaba sendo um ponto crítico, sem retorno para a humanidade: o fim do mundo. Por este motivo que Pedro está tão empenhado em encontrar uma maneira de impedir todo este colapso — voltar ao passado se torna sinônimo de cumprir a missão de salvar o futuro da raça humana.

Um gancho para sua segunda temporada

Nesse final, Beatriz Elisa Amaral finalmente parece entender o que se passa na mente de Pedro. Entre verdades, mentiras e lembranças há muito esquecidas, a terapeuta decide fazer o que ele pediu. “Se jogar” nessa confusão, como ela mesma explica. O único empecilho é que a mudança no corpo de Maria, capaz de desenvolver o vírus Pégaso, também é a única esperança da irmã de Beatriz para se curar de uma doença rara.

O conflito de interesses faz com que a mulher desistisse do plano, deixando Maria ir embora e concluir o seu papel nessa história: disseminar um vírus que irá desgastar o mundo. Ao final, se percebe que, na verdade, tudo isso é o início e que há muito ainda até encontrar, afinal, aquele futuro idílico narrado por Pedro, um que não há vírus, em que se dar e permitir é normal e não um ato de fé, carregado pelo medo de um vírus invisível.

Mel Lisboa no estúdio Spotify

Em sua segunda temporada, Beatriz precisa se colocar no lugar de seu antigo paciente e convencer Pedro do que está por vir. Explicando como receber informações do futuro com ruído branco, o white noise, e mencionando testes criptográficos enigmáticos e reais, o autor desenvolve mais um arco para essa história, juntando real e fictício na série do Spotify. Tudo se torna um quebra-cabeça que o ouvinte é convidado a montar junto de Seu Jorge e Mel Lisboa.

A segunda temporada de Paciente 63 está disponível agora exclusivamente no Spotify.

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