Quem é Michael Myers? Saiba tudo sobre o vilão da franquia Halloween

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Quem é Michael Myers? Saiba tudo sobre o vilão da franquia Halloween

Por Gus Fiaux

Quando Halloween: A Noite do Terror chegou aos cinemas em 1978, o mundo conheceu o mal em sua forma mais pura. Michael Myers se tornou um dos maiores assassinos do cinema de horror, sendo uma das peças fundamentais do slasher e aterrorizando dezenas de vítimas ao longo dos anos.

Sua máscara inexpressiva, seu macacão azul e sua completa incapacidade de se comunicar através da fala o tornaram um ser completamente assustador e pavoroso, seja enfrentando Laurie Strode ou diversos outros cidadãos da cidade de Haddonfield. Ele virou mais que um reles mortal, ganhando a alcunha de Bicho-Papão. Mas afinal, quem está por baixo da máscara?

O mal tem muitos nomes…

Quem é Michael Myers?

Introduzido no primeiro filme da franquia Halloween, Michael Myers tem uma história bem intrigante. Em 1963, na noite de Dia das Bruxas, Michael surta completamente e mata sua própria irmã mais velha, Judith Myers. Ele então é capturado e mandado para o reformatório, passando então para prisões de segurança máxima ao longo de sua juventude.

Quinze anos depois, Michael escapa do Sanatório Smith’s Grove e volta para sua cidade natal, onde faz novas vítimas e acaba entrando em contato com Laurie Strode, uma babá que estava cuidando de crianças na noite de Halloween. Com muito cuidado, ela consegue fugir e se torna a presa preferida do assassino, que retorna várias vezes para Haddonfield no dia 31 de outubro, sempre em busca de novos corpos para mutilar.

Considerado um mal implacável, Michael originalmente não tinha uma “história de origem” clássica. Parte disso se deve à vontade do criador da franquia, John Carpenter, em criar uma figura que personificava a crueldade definitiva, e cujos motivos não eram claros ou justificáveis. Ele mata apenas porque faz parte de sua natureza.

Claro que, com o passar dos anos, ele acabou ganhando novas interpretações no cinema, o que sempre desagradou boa parte da fanbase. Ao longo das diversas sequências, reboots e linhas cronológicas diferentes, Michael foi transformado no receptáculo de uma maldição celta, na personificação do trauma coletivo de Haddonfield e até mesmo em um garoto que “virou assassino” por culpa de sua família negligente e abusiva.

A Clássica Máscara

Para criar o assassino definitivo do cinema slasher, John Carpenter tentou desenvolver vários visuais até chegar na clássica figura mascarada que tanto nos assombra. Tommy Lee Wallace, produtor do primeiro filme (que retornaria para comandar a direção do terceiro, A Noite das Bruxas) chegou a oferecer quatro máscaras que combinariam com o personagem.

Comparação entre a máscara original de William Shatner e as modificações feitas para criar o visual definitivo de Michael Myers.

A primeira delas era uma máscara de palhaço, fazendo referência à cena de abertura, onde Michael – ainda criança, fantasiado como palhaço para o Halloween – mata sua própria irmã. Além dessa, ele ainda sugeriu uma máscara do Spock de Star Trek e outra de Richard Nixon, infame presidente norte-americano que acabou renunciando após o escândalo de Watergate.

Contudo, a máscara escolhida foi bem diferente: tratava-se de uma fantasia de William Shatner (sim, o Capitão Kirk de Star Trek), pintada inteiramente de branco e com os cabelos bagunçados, além de buracos maiores para os olhos. O motivo dessa decisão foi o modo como o personagem ficava completamente ameaçador em uma máscara que não trazia nenhuma expressão facial, tornando-o ainda mais sombrio e misterioso.

Os vários nomes de Michael Myers

Ao longo da franquia, Michael Myers é apelidado diversas vezes pela população de Haddonfield e por seus maiores inimigos, Laurie Strode e Sam Loomis, o doutor que o supervisionava no hospital psiquiátrico de onde fugiu. Aliás, embora seu nome de batismo já seja citado desde o primeiro filme, Michael é creditado de outras formas.

Seu apelido mais conhecido é The Shape (ou A Forma, em uma tradução livre). Isso se deve ao modo como ele sempre está escondido nas sombras e tem pouquíssimas interações humanas, quase sempre figurando como uma entidade amorfa. Esse nome é usado na maior parte dos filmes, ao longo dos créditos, para descrever o personagem.

Outro apelido muito famoso é Bicho-Papão. Através dos anos, Michael Myers se tornou uma verdadeira lenda urbana na cidade de Haddonfield, e alguns habitantes lembram de seus massacres como histórias de horror, que trouxeram caos e destruição para um pacato subúrbio norte-americano. Faz sentido então que ele receba o nome de uma entidade bem conhecida por causar medo em suas pobres vítimas.

Ao total, a franquia Halloween possui 5 linhas cronológicas diferentes.

As diferentes cronologias

Não muito diferente de boa parte das franquias de horror, Halloween sempre teve um cânone muito bagunçado e desconexo, em grande parte porque vários reboots e retcons foram feitos para “corrigir problemas” e resgatar o mote inicial da franquia a partir do primeiro filme de 1978.

Ao total, são cinco cronologias distintas, quase todas partindo do mesmo ponto. Mas para entender essa confusão, é preciso analisar mais de perto todos os capítulos lançados da saga.

A franquia original

Em Halloween: A Noite do Terror, conhecemos Michael Myers e seus primeiros crimes, seja a morte de sua irmã ou o massacre que cometeu quinze anos depois, deixando como única sobrevivente a destemida Laurie. O filme fez tanto sucesso que não só abriu as portas para o slasher nos cinemas, como também deu origem a várias continuações.

O segundo filme, Halloween II: O Pesadelo Continua se passa na mesma noite que Michael fugiu e atacou Haddonfield. O filme se passa quase que inteiramente em um hospital, onde Laurie é perseguida pelo seu algoz, que deseja “concluir aquilo que começou”. O filme acabou apresentando um dos elementos mais controversos de toda a franquia: a ideia de que Laurie e Michael eram, na verdade, irmãos.

O terceiro filme é um caso à parte que merece ser comentado com mais cautela, mas basta dizer que após seu fracasso crítico e comercial, a jornada de Michael voltou “aos eixos” em Halloween IV: O Retorno de Michael Myers. Esse filme inaugura um novo arco narrativo onde descobrimos mais das origens do assassino.

A trama se passa alguns anos após a morte de Laurie Strode e a grande protagonista passa a ser Jamie Lloyd, a filha de Laurie e sobrinha de Michael. Ao longo das sequências seguintes, A Vingança de Michael Myers e A Última Vingança, descobrimos que Michael é o receptáculo final de uma maldição celta, lançada pelo misterioso Culto de Thorn.

Embora cada uma das continuações recebesse avaliações ruins dos fãs, essa primeira saga acabou criando uma aura mística para o personagem, deixando de lado o conceito original de John Carpenter sobre o Bicho-Papão ser apenas uma versão do mal encarnado. E quando o sexto filme chegou aos cinemas, os produtores perceberam que era hora de mudar planejamento.

20 Anos Depois

Em 1998, a franquia teve seu primeiro grande retcon com o lançamento de Halloween H20: 20 Anos Depois, filme que ignorava todos os longas lançados até o momento, com exceção do primeiro e do segundo, já que esses tinham o maior envolvimento de John Carpenter e Debra Hill, os criadores da saga.

H20 traz de volta Laurie Strode, ignorando a morte da personagem na cronologia anterior. Após todo o massacre em Haddonfield, ela se tornou uma professora universitária e mudou de vida, adotando um novo nome e formando sua própria família. O primeiro filme inclusive apresenta um novo filho para a final girl, o insuportável John Tate.

O filme veio na esteira do sucesso de Pânico e funciona como um slasher convencional, porém cheio de comentários sarcásticos e ácidos a respeito do subgênero. Ele foi um sucesso de crítica e público, o que acabou fazendo com que a franquia retornasse para aquele que é considerado, até hoje, seu pior filme.

Halloween: Ressurreição, de 2002, é uma história cheia de decisões ruins. Eles matam Laurie já nos primeiros quinze minutos e o resto da trama acompanha um grupo de jovens insuportáveis em um reality show na casa onde Michael Myers cometeu seu primeiro assassinato. Tudo parece legal e divertido, mas as coisas mudam quando a Forma surge para massacrar os invasores.

Michael nos dias de Rob Zombie

Após o fracasso de Ressurreição e a popularização dos remakes de filmes de terror no começo dos anos 2000, uma nova abordagem para a franquia Halloween começou a ser desenvolvida por Rob Zombie, músico e cineasta que já tinha ficado bem famoso graças aos seus filmes mais perturbadores, como A Casa dos 1000 Corpos e Rejeitados pelo Diabo.

Halloween: O Início funciona como dois filmes em um só. A primeira metade se dedica a explorar mais do passado de Michael Myers, e como ele era uma criança “normal” que acabou sendo corrompida por uma criação cruel e injusta. O filme vai mostrando todos os elementos que o transformaram em um serial killer, até o momento em que ele acaba cometendo seu primeiro assassinato.

A segunda metade pula alguns anos e é quase que um remake tradicional do filme original, sem grandes mudanças na estrutura narrativa. Michael surge em Haddonfield e acaba em uma espiral de assassinatos e torturas, enquanto persegue Laurie Strode, que também é vista aqui como irmã do Bicho-Papão.

Em 2009, Zombie voltou para fazer Halloween II, que é um filme cheio de polêmicas até hoje. A trama se passa um pouco depois dos acontecimentos do primeiro longa e segue uma Laurie traumatizada e fragmentada, que tenta reconstruir sua vida após ter visto seus amigos e sua família adotiva morrerem pelas mãos do assassino.

Aqui, temos duas versões diferentes – mas é recomendável assistir ao corte do diretor, que aprofunda os paralelos entre Laurie e Michael e termina de uma forma brutal. Apesar de não serem muito bem-quistos pelos fãs, os dois filmes de Rob Zombie traziam uma violência e um gore extremos, coisa que nunca foi muito importante nos capítulos anteriores ao reboot.

De Volta às Origens

Em 2018, chegou aos cinemas Halloween – sim, sem nenhum subtítulo -, o primeiro de uma trilogia conduzida pelo diretor David Gordon Green. O filme ignora toda a bagunça que veio antes e retoma apenas os eventos do filme original de 1978. Ou seja, Michael e Laurie não são mais irmãos e a mulher não vê seu maior pesadelo há mais de quarenta anos.

Esses filmes partiram, em grande parte, das vontades da própria Jamie Lee Curtis, que queria ver uma história melhor para Laurie nos cinemas. Assim sendo, o filme de 2018 é um apelo à nostalgia, recriando a estrutura e a “fórmula” do filme original, mas com algumas atualizações para o terror contemporâneo.

Halloween Kills, de 2021, já segue uma rota diferente ao mostrar como o trauma provocado por Michael tomou conta de toda a população de Haddonfield – o que abre espaço para uma histeria coletiva total e um confronto absurdo entre dezenas de pessoas e o Bicho-Papão.

Já o encerramento da franquia, Halloween Ends, de 2022, se passa quatro anos após os eventos de Kills e mostra Laurie tentando seguir uma vida normal, longe do trauma e da carnificina. O filme também apresenta algumas decisões ousadas, mas se encerra com o confronto final do assassino e da final girl, fechando de vez toda a história da dupla.

Halloween sem Michael Myers?!

Anteriormente, falamos sobre o terceiro filme da franquia e como ele merecia um tópico à parte. Pois bem, quando John Carpenter e Debra Hill conceberam a franquia, eles tentaram encerrar a história no primeiro filme. Porém, o sucesso foi tão grande que os estúdios começaram a fazer pressão por uma sequência, o que resultou no lançamento de Halloween II: O Pesadelo Continua.

De muitas formas, Halloween II “encerra” a história de Laurie e Michael, encerrando inclusive com uma explosão que acaba de vez com o assassino – apenas para descobrirmos, posteriormente, que ele havia sobrevivido. Com esse final em mente, Carpenter tomou uma decisão ousada.

O cineasta queria que a franquia adotasse um modelo antológico, com cada filme trazendo histórias diferentes e cuja única conexão seria a ambientação: todas se passariam na noite de Halloween. E foi assim que surgiu Halloween III: A Noite das Bruxas, um dos capítulos mais controversos da série.

Gostosuras ou travessuras?

O filme se passa em uma cronologia à parte e não traz Michael Myers como antagonista. Em vez disso, seguimos a história de uma corporação bilionária, a Silver Shamrock, que desenvolve diversas máscaras para crianças usarem durante o Dia das Bruxas.

Porém, há uma pegadinha aqui: as máscaras são parte de um poderoso ritual místico, que faz com que seus usuários sejam mortos de forma brutal e agonizante. E o plano da empresa é fazer um sacrifício gigantesco para honrar os espíritos ancestrais na noite de Halloween.

Ainda que tenha sido um fracasso na época de lançamento, A Noite das Bruxas tem sido redescoberto pelos fãs e já alcançou o patamar de clássico cult. Até hoje, é o único filme da franquia Halloween que não traz Michael Myers – embora algumas cenas do filme original de 1978 passem em uma televisão, dando a entender que aquela história é um filme dentro desse universo.

David Gordon Green, o diretor da trilogia recente, é um grande admirador de A Noite das Bruxas e faz várias referências ao longo de seus filmes. Tanto no Halloween de 2018 quanto em Kills, podemos ver as máscaras da Silver Shamrock sendo usadas por crianças, enquanto Ends funciona como uma homenagem completa – tanto que Michael é uma ameaça secundária, já que o verdadeiro “vilão” do filme é outro…

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