[lodestar] Análise de One Piece, Capítulo 1054: Entei (Imperador das Chamas)

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[lodestar] Análise de One Piece, Capítulo 1054: Entei (Imperador das Chamas)

Por Márcio Jangarélli

Vinte e cinco anos. Um quarto de século. 1054 capítulos. 1025 episódios. A jornada foi longa, mas acompanhar One Piece até aqui é a experiência de uma vida – literalmente. E, enfim, Eiichiro Oda nos colocou na rota final da grande aventura do Luffy. Todos os caminhos apontam para Laugh Tale, para o maior tesouro do mundo!

Celebrando o início da parte final da história dos Chapéu de Palha, a Legião inaugura nossa coluna semanal de análise e discussão do mangá de One Piece: lodestar. Acompanho o pirata biruta de borracha viajando pela Grand Line por mais ou menos 15 anos, então será um prazer e uma honra assistir o clímax dessa epopeia com todos vocês!

Vamos lá?

lodestar: O termo pode significar “estrela polar” ou “estrela guia”. É uma estrela, visível apenas no hemisfério norte do planeta, localizada em um ponto especial que a faz permanecer “parada” no céu. Ela indica o norte geográfico e foi fundamental por muito tempo para a localização de viajantes, especialmente em jornadas marítimas.

 

Em One Piece, Lodestar é a última ilha conhecida da Grand Line, antes dos navegantes encontrarem a segunda parte da Red Line, marcando uma volta completa no mundo. É para ela que os loguepose indicam e é onde a tripulação de Gol D. Roger descobriu sobre a existência dos Lode Poneglyphs e da lendária ilha perdida, batizada posteriormente de Laugh Tale.

 

Na Legião dos Heróis, é nossa coluna semanal para acompanhar o ato final de One Piece, capítulo a capítulo, começando pelo c.1054.

Capítulo Anterior: Os Novos Imperadores (c.1053)

Os novos Yonko (Créditos: Shueisha/One Piece)

Antes de entrar em hiato por 1 mês, Oda-sensei balançou as estruturas de One Piece, em preparação para o ato final da história.

Nesse capítulo, descobrimos as novas recompensa de Luffy, Law e Kid (3 bilhões de berries cada), vimos a celebração de Wano pós-Kaido, descobrimos que Tenguyama na verdade é Kouzuki Sukiyaki, avô de Momonosuke, e que a Arma Lendária Pluton, que foi peça central para os plots de Arabasta e Water 7, está no país de Wano.

Também, conhecemos, enfim, o Almirante Green Bull, Aramaki, que está em busca da cabeça do Luffy. Encerrando o capítulo, é revelado os quem são os novos Yonko, após a guerra em Onigashima: Buggy, o Palhaço Bombástico; Shanks, o Ruivo; Barba Negra, Marshall D. Teach e Monkey D. Luffy do Chapéu de Palha.

Capítulo 1054: Entei 炎帝 (Imperador das Chamas)

Sabo, o Imperador das Chamas (Créditos: Toei Animation/One Piece)

Um dos motivos pelo qual eu amo One Piece é a capacidade que essa história tem de fazer seu cérebro entrar em curto circuito com apenas 20 páginas. É um caos milimetricamente organizado onde você mergulha fundo tentando entender conexões, o que cada um desses movimentos pode significar para o futuro e como essa loucura toda faz sentido.

É como assistir um jogo de xadrez, onde as peças são cartoons e elas possuem poderes bizarros, mas estranhamente divinos. Talvez, o melhor resumo do capítulo 1054, nomeado “Imperador das Chamas” seja: um movimento ousado nas principais frentes desse tabuleiro insano. A melhor forma de iniciar a parte final de One Piece.

Como esse é um capítulo sobrecarregado de informações, vindas de pontos distantes no grande esquema das coisas, vamos dividir essa discussão em partes.

Parte 1: Wano

Aramaki (C: @Jarlax/Shueisha)

Nos arredores da Capital das Flores, um confronto surpreendente. Nem mesmo os melhores teoristas de One Piece imaginaram que o primeiro obstáculo do Almirante Green Bull seria os Bainhas Vermelhas, Yamato e Momo!

O capítulo começa exatamente onde o 1053 parou, com o marinheiro caminhando em direção à capital de Wano, enquanto deixa um “rastro de natureza” por onde passa. Pensando em seu alvo, ele comenta sobre o poder de “atrair aliados” do Luffy, algo citado algumas vezes ao longo da história, fala mais famosa vinda do Mihawk, durante Marineford.

Pouco antes de chegar à cidade, Aramaki é, então, parado pelos Bainhas Vermelha, que detectaram o invasor e resolveram cuidar do assunto antes dos Chapéus de Palha sequer se incomodarem com o caso. Porém, estamos lidando com um Almirante e… talvez o mais distorcido deles até então.

É aqui que Oda-sensei mostra sua maestria em incorporar crítica política na narrativa. Pegando todos de surpresa, o Ryokugyu se mostra um grandioso fascista, guiado por uma “justiça” onde, parafraseando o próprio, “discriminação gera estabilidade”. Ele almeja manter o estado social atual, com os “deuses do mundo”, os Tenryuubito, protegidos no topo, enquanto o Governo Mundial se sustenta na exploração das classes e raças mais pobres, especialmente as raças não-humanas.

O impressionante aqui é como Aramaki declara sua visão com clareza. Não tem subentendido ou mistério. Para ele, países não filiados ao Governo Mundial não possuem direitos e os habitantes desses lugares são nada e podem ser usados e mortos aos montes pelo bem da “estabilidade”. Afinal de contas, se Wano não faz parte do GM, nenhuma de suas ações ali são crime. E é importante lembrarmos disso, porque o contrário também é realidade.

Todo o discurso do Aramaki é nojento e praticamente o completo oposto do que os fãs esperavam desse personagem. E se você sentiu alguma estranheza lendo, é intencional. Ele pode falar e fazer tudo isso, pois não vê valor nos habitantes de Wano. Na verdade, considerando o capítulo anterior, com a derrota de King e Queen em Udon, é possível dizer até que o Almirante está irritado por alguém “inferior” sequer pensar em pará-lo.

Descobrimos também que Aramaki comeu a Mori Mori no Mi, a logia da floresta, gerando um contraste interessante entre a ideologia sangrenta do Almirante e o poder de criar vida. É uma habilidade absurda onde ele é e pode criar todo tipo de vegetação. Mais uma logia especial, baseada em um “bioma” e não em um “elemento” em si. 

Sem tempo para conversar, Aramaki parte para o ataque contra os samurais. Eles não parecem levar muito dano, mas fica óbvio em um quadro apenas que essa não é uma batalha que eles podem vencer. Ainda bem que o Yamato chega, com um golpe coberto de haki, direto na cabeça do Almirante.

Com Yamato em cena, temos uma confirmação interessante. Quando ele se apresenta como “filho do Kaidou”, Green Bull fica chocado, mostrando que o ex-Yonko escondeu sua existência do Governo Mundial. Outra surpresa para o Almirante é quando Momonosuke, em sua forma de dragão, surge. Ele fica impressionado com a existência de um “dragão rosa”, logo entendendo que não se trata do Kaidou.

Momonosuke entrando na batalha torna as coisas mais preocupantes e surpreendentes. É óbvio o desejo do shogun recém-nomeado de se provar e ajudar seus amigos piratas. Sua jornada, desde Punk Hazard, é a de se tornar um guerreiro poderoso o suficiente para proteger Wano e seus aliados. Ele deu tudo por isso, até 20 anos de sua vida! Esse confronto significa o mundo para o Momo.

Claro, é difícil imaginar um cenário onde ele vença um Almirante. Esses marinheiros têm poderes equiparáveis aos dos Yonko – ou mais. Nunca vimos um deles lutando realmente a sério. Além disso, Momo ainda não treinou o suficiente sua forma de dragão – vide a cena do Boro Breath falho.

Mas antes de descobrirmos como Momonosuke vai lidar com isso, é hora de visitarmos um velho conhecido.

Parte 2: Red Force

“Já não é hora de irmos tomá-lo?” (Créditos: @Greiish e Shueisha/One Piece)

Se algum de vocês ainda não estava convencido de que a reta final de One Piece estava chegando, Shanks, o Ruivo, a Lenda, o Homem, veio confirmar que visitaremos Laugh Tale em breve. Saindo da batalha contra o Almirante Green Bull, vamos parar no lendário Red Force, o navio dos Piratas do Ruivo, que está navegando pelas redondezas de Wano.

Sempre que o Shanks aparece na história, é um evento, não? É incrível como esse personagem é um ícone de One Piece, mas apareceu em uma miséria de páginas e o público conhece muito pouco sobre ele. Muita gente até teoriza sobre ele se revelar um vilão no final, mas… seria tão surpreendente assim? Considerando que nem sabemos como ele vê o mundo, quem ele é ou o que ele faz de verdade?

A bordo do Red Force, Shanks está admirando o novo cartaz de procurado do Luffy, agora mostrando sua gloriosa forma de Nika. Toda essa sequência reforça que o Ruivo sabia a verdade sobre a Gomu Gomu no Mi. Ele olha a foto com uma mistura de alívio e certeza, seguindo um flashback sobre o dia em que ele roubou a Akuma no Mi do navio da CP9.

Shanks (C: @Greeish e Shueisha)

Esse flashback é bem simples, trazendo mais nostalgia do que respostas. Uma coisa, porém, é que vemos o Who’s Who jovem e ele possui chifres. É interessante notar que todos os Tobiroppo do Kaidou, com exceção do Drake, possuem chifres reais. Mais um mistério sobre os Piratas das Feras que ainda paira no ar.

De volta ao presente, esse momento serve também para lembrar que o Luffy era querido por TODOS os Piratas do Ruivo, não só o Shanks. Vemos que a tripulação está muito animada para reencontrá-lo, depois de mais de uma década, especialmente o Lucky Roo. Sem contar o Yassop, pai ausente, que aparece falando sobre o Usopp pela primeira vez fora de um flashback e está nervoso. Somos obrigados a ter empatia?

Óbvio, o surgimento da Red Force não seria só festa. Shanks diz que ainda não pretende encontrar o Luffy, para tristeza de geral. Ele afirma que os Piratas do Ruivo tem urgências para resolver, incluindo um incidente onde Bartolomeo, o Canibal, membro da Grande Frota do Chapéu de Palha, queimou uma bandeira do Ruivo, em uma ilha protegida, e a substituiu pela jolly roger do Luffy. Pois é. É um problema? Sim, com certeza. Parece uma desculpa ou, no mínimo, uma tentativa de desviar a atenção da tripulação? Também.

(Se você não se lembra, essa aventura do Bartolomeo foi mostrada na história de capa do capítulo 875, durante o arco da ilha Whole Cake).

Definindo a rota para um possível papo com o Barto Club, Shanks, então, resolve matar todos os fãs de One Piece do coração. Sentando ao lado de Benn Beckman, o imediato da tripulação, o Ruivo se serve com um copo de saquê e diz, “Hey, Beck. Será que já não é hora de irmos tomá-lo? O One Piece”. Ele nunca disse que não seria competição para o Luffy, certo? E como um bom pirata faria, agora que dois grandes rivais caíram, o momento não poderia ser melhor. Mas será que é isso mesmo?

A parte mais curiosa — e… sinistra? arrepiante? — dessa sequência é a calma nas ações do Shanks. Pela construção da cena, Oda-sensei indica que essa é uma decisão calculada. O que ele estava fazendo perto de Wano? Não faço ideia. Mas ele vê o despertar da fruta do Luffy no cartaz e esse parece ser o gatilho de todo o resto.

Bom, não é esse capítulo que trará mais respostas. Temos coisas importantíssimas a tratar no quartel-general da Marinha.

Parte 3: Revolução!

A face da Revolução! (Créditos: Shueisha/One Piece; Tradução: OPEX)

Há quanto tempo estamos definhando com o mistério do Reverie? Sabíamos apenas que a reunião dos líderes mundiais terminou em assassinato e alguma loucura relacionada ao Sabo e à Vivi. Enfim, a resposta chegou… parcialmente.

No quartel-general da Marinha, acompanhamos uma conversa entre Sakazuki, Kizaru e um novo personagem: Kurouma (Cavalo Preto), cujo nome real é Tensei, o Chefe de Serviço Criminal dos marinheiros – uma divisão de investigação, aparentemente. Por si só, esse novo oficial é curioso, especialmente pelo título e cargo, mas, por ora, não temos mais detalhes sobre.

Kurouma, então, detalha o desastre do Reverie. A notícia que abalou o mundo era que Sabo, agora conhecido pelo mundo como “Imperador das Chamas”, assassinou Nefertari Cobra, o Rei de Arabasta, durante a reunião. Além disso, a Princesa Vivi está desaparecida desde o incidente.

Os três marinheiros reforçam como o ataque foi um golpe brutal dos Revolucionários; mesmo que os Nefertari tenham recusado viver em Mariejois, a família real de Arabasta fez parte dos 20 reinos fundadores do Governo Mundial. Assim, assassinar Cobra é simbólico para a propaganda da revolução, ele sendo um bom governante ou não. 

Vivi (C: Toei Animation)

Importa apenas o que o mundo pensa e, mesmo que acabe não sendo Sabo quem matou o Rei, isso fez a ideologia dos Revolucionários se espalhar ao ponto de considerarem o rapaz mais influente que o próprio Dragon, líder do exército. Sabo é o rosto da revolução e, desde então, oito países entraram em processo para depor seus governantes enquanto eles ainda estavam no Reverie.

Outro ponto importante é que, durante o ataque a Mariejois, os líderes revolucionários queimaram a Garra do Tenryuubito, símbolo do poder dos nobres, em declaração de guerra ao Governo Mundial. Sem contar que eles conseguiram resgatar Bartholomew Kuma da escravidão e escaparam de um confronto contra os Almirantes Ryokugyu e Fujitora. Insano, certo?

Não dá nem para imaginar o que é falso ou real nessa história toda. Me lembrou um pouco de Water 7, quando a Robin é acusada de assassinar o Iceburg. Porém, Oda-sensei adora inverter situações e papéis. 

É possível que o Sabo seja o responsável, assim como também é possível que ele tenha sido incriminado. Para onde a Vivi foi? O máximo que dá para especular é que Kuma pode ter usado seus poderes para mandá-la longe. Ou ela pode ter sido capturada por Imu. Ou está com os Revolucionários. Isso sem contar o próprio Kuma, que estava literalmente aos cacos na última vez que o vimos. Ele foi resgatado, mas adianta de algo?

Uma última coisa me chamou atenção nessa sequência dos marinheiros, antes da declaração final do Akainu. Durante a discussão, Kizaru pergunta sobre a “tentativa de assassinato” contra St. Charlos – provavelmente se referindo ao ataque de Mjosgard. A resposta do Sakazuki é que os “Cavaleiros Divinos” cuidariam disso, que já não era mais jurisdição da Marinha.

É curioso ouvir sobre uma possível instituição de julgamento e defesa pessoal dos Tenryuubito. Quem são essas pessoas? O quão poderosas elas são? Será que vamos encontrá-los em algum momento? Possivelmente. Ou não. Pode ser apenas um detalhe de construção de mundo, mas considerando que temos uma parada marcada em Mariejois, é mais provável que conheçamos esses cavaleiros.

Por fim, o capítulo encerra com Sakazuki fazendo o que ele sabe fazer de melhor: declarar guerra. As palavras finais do Almirante da Frota indicam um único caminho para o futuro da história, uma batalha de proporções inigualáveis.

O que você achou do retorno de One Piece? E o que mais você quer ver aqui na Legião sobre os Chapéu de Palha? Sugestões para a lodestar? Não esqueça de comentar!

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