Crítica: Stranger Things – 4ª temporada, Volume 1

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Crítica: Stranger Things – 4ª temporada, Volume 1

Por Gus Fiaux

Após uma espera de quase três anos, Stranger Things finalmente retornou com uma nova leva de episódios, nos levando de volta a Hawkins para contar a história mais sombria na criação dos Irmãos Duffer. Aqui, nós vemos o grupo de amigos fragmentado em diversos núcleos, enquanto o temível Vecna traz uma ameaça de outro mundo e faz várias vítimas no processo.

Com sete episódios no ar (e mais dois a caminho), a série conquista os fãs de longa data mas também traz o que há de pior na construção desse universo, mostrando sinais de cansaço enquanto a produção entra em sua reta final. Na nossa crítica, comentamos um pouco do que achamos da primeira parte dessa temporada – e o que podemos esperar de sua resolução!

Ficha Técnica:

Título: Stranger Things

 

Criação: Irmãos Duffer

 

Ano: 2022 (Netflix)

 

Número de episódios: 7 (1º Volume da 4ª Temporada)

 

Sinopse: Enquanto se recuperam dos eventos do ano anterior, a gangue tenta seguir com suas próprias vidas. Entretanto, uma nova ameaça começa a surgir, mesclando os limites entre Hawkins e o Mundo Invertido.

O primeiro volume de Stranger Things 4 já está disponível na Netflix!

O bom, o mau e o feio em Stranger Things

Desde que sua primeira temporada foi lançada, lá em 2016, Stranger Things conseguiu um feito para poucos: se tornou uma das séries-fenômeno do momento, conquistando o público graças a uma narrativa milimetricamente construída através do algoritmo – mas também, graças a um elenco de peso e um coração pulsante incutido no drama e na comédia dos Irmãos Duffer.

A série sempre foi, em sua base, uma narrativa nostálgica e até certo ponto simples, com referências à cultura pop da década de 80 e um conjunto de personagens fascinantes, desde a misteriosa Eleven ao trágico Will, sem contar os adultos e jovens que povoam o imaginário da cidade de Hawkins. E nesse sentido, o quarto ano consegue resgatar muito do “coração pulsante” que faz com que isso funcione tão bem.

Após uma longa espera de mais de três anos, a quarta temporada finalmente deu as caras – ao menos, os 7 primeiros episódios, que começam a desenvolver o mistério por trás de uma nova ameaça do Mundo Invertido: o diabólico Vecna, que marca suas vítimas através de um vínculo psíquico e as mata das formas mais tenebrosas e brutais, para se alimentar.

Nova temporada se aprofunda em algo que já havia se destacado no último ano: Núcleos separados que eventualmente vão convergir!

Porém, as consequências do terceiro ano não passaram batidas: Eleven agora mora com Joyce, Will Jonathan na Califórnia, tentando se adequar a uma nova vida. O resto do grupo – DustinMikeLucasMax – tenta levar a vida depois de todos os acontecimentos traumáticos. E para a surpresa de absolutamente ninguém, Hopper está vivo e foi enviado para um gulag, onde é torturado e feito de prisioneiro.

Isso já ressalta a continuação de algo que o ano anterior tinha feito: a divisão em diferentes núcleos, cada qual com sua própria narrativa e mistério, enquanto nota-se a construção para uma convergência que só deve vir nos dois últimos capítulos. E embora isso traga o que há de melhor na série, há também um ponto muito negativo, já que os Duffer e o resto dos roteiristas não consegue conciliar muito bem essas várias tramas paralelas.

O destaque positivo, é claro, fica com o núcleo de Hawkins. Não apenas as “crianças” estão muito bem – com notório destaque para Max, que possui um arco muito complexo e cheio de momentos emocionantes – mas também para o elenco mais velho, uma vez que NancyRobin Steve não apenas adicionam camadas à narrativa, como também enchem o enredo de carisma e de momentos genuinamente divertidos.

Vecna é, sem dúvidas, a ameaça mais aterrorizante de Stranger Things até agora.

E em boa parte, o que faz desse núcleo o melhor da temporada até agora, é o grande mistério envolvendo Vecna, o vilão mais horripilante da série até o momento. Envolto em enigmas e segredos, o antagonista surpreende por estar bem mais próximo aos grandes inimigos de filmes e séries de horror. A influência de A Hora do Pesadelo é muito notável (especialmente graças à participação de Robert Englund), mas também há traços de IT: A Coisa aqui.

O sentimento que passa é de uma progressão natural, com cada antagonista mais poderoso, perigoso e assustador que o anterior. Vecna não só representa bem essa ameaça arrebatadora que as crianças vão ter que enfrentar, como também se liga de forma satisfatória a outro “núcleo” – o de Eleven, graças a uma reviravolta meticulosamente construída em tramas paralelas.

Tudo isso torna a temporada, de fato, mais sombria e mais voltada para o horror que suas antecessoras, de um modo que evolui não apenas o antagonista, mas também a complexidade dos perigos que os heróis terão que enfrentar. E há muitas saídas criativas nesse sentido, como o uso de música para livrar uma pessoa dos domínios do monstro. Mas é aí que as coisas boas são obstruídas por problemas…

Nem todos os núcleos são capazes de fisgar a atenção do público…

Nem tudo são flores…

Se o núcleo “principal”, por assim dizer, consegue injetar dinamismo e complexidade à trama da série, as subtramas secundárias são menos brilhantes. A começar pelo mistério envolvendo Hopper, que não apenas atrapalha todo o desenvolvimento narrativo da temporada, como também tem a proeza de ser igualmente previsível e desinteressante – na verdade, se fosse para isso, era melhor dar um fim digno ao personagem na terceira temporada.

Não ajuda muito que Joyce – agora aliada de Murray Bauman – foi de protagonista à coadjuvante de luxo. Mesmo com o carisma de Winona Ryder, a personagem não parece ter muito que fazer na primeira leva de capítulos, além de correr em círculos, com uma trama que vai de nada a lugar nenhum. Para piorar, isso é catastroficamente ressaltado na montagem dos episódios, já que as cenas do núcleo sempre desviam a atenção do que realmente queremos ver.

Aliás, falando em montagem, não há como negar que talvez a megalomania seja o principal problema de toda a temporada. Com episódios de uma hora e vinte, a série parece se arrastar em diversos pontos, enquanto o enredo exige uma narrativa mais ágil. Talvez em um modelo de lançamento semanal até funcionasse, mas no formato de maratona popularizado pela Netflix, as durações colossais são um entrave para o público ávido pelos mistérios.

Apesar dos excessos, os pontos positivos se destacam!

A “divisão” dos volumes também não é das melhores, já que teremos apenas dois capítulos lançados no dia 1º de julho, encerrando a quarta temporada. Talvez, se o primeiro volume acabasse no quarto ou no quinto episódio, nós teríamos um gosto maior pelo que está por vir, em vez da sensação de coito interrompido deixado após a reviravolta do sétimo.

Apesar dessas críticas, os pontos positivos de Stranger Things se destacam. Mesmo com problemas de ritmo e de desenvolvimento, a série ainda transborda carisma por cada poro, além de ter personagens genuinamente cativantes. Até mesmo tramas deixadas de lado – como o núcleo de MikeJonathan Will – se sustentam graças ao carisma dos atores e suas interações em tela.

Porém, a série está entrando em sua reta final, com apenas mais uma temporada a caminho. E após uma temporada tão sólida quanto a terceira, o quarto ano carece de uma agilidade que parece nunca vir. Felizmente, os dois últimos capítulos devem fazer aquilo que esperamos – unir todos os núcleos em uma trama maior e mais eloquente. Mas por enquanto, o que temos é um compilado do que há de melhor e pior na série – e embora o lado bom se destaque, os problemas parecem ficar cada vez mais evidentes…

Nota: 3,5 de 5.

O primeiro volume de Stranger Things 4 já está disponível na Netflix. Os dois últimos episódios da temporada serão lançados no dia 1º de julho.

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