Crítica: O Telefone Preto é um conto cautelar marcado pela tensão
Crítica: O Telefone Preto é um conto cautelar marcado pela tensão
Scott Derrickson entrega seu terror mais refinado até agora!
Com data de estreia prevista para 21 de julho (mas com sessões especiais disponíveis desde agora), o mais novo filme de terror da Blumhouse, O Telefone Preto finalmente está nos cinemas brasileiros. No longa, seguimos a história de um jovem menino que é abduzido por um notório serial killer de crianças, o Sequestrador. Aos poucos, o garoto começa a receber ajuda das vítimas anteriores do assassino.
Trazendo Ethan Hawke em um de seus papéis mais assustadores, o longa é baseado em um conto homônimo de Joe Hill e já recebeu muitos elogios desde que foi lançado no exterior. Agora, ele finalmente pode ser assistido pelo público brasileiro. Nós já conferimos ao filme e aqui, você pode ver a nossa crítica sobre uma das obras mais tensas e medonhas lançadas em 2022!
Ficha técnica
Título: O Telefone Preto (The Black Phone)
Direção: Scott Derrickson
Roteiro: C. Robert Cargill e Scott Derrickson
Data de lançamento: 21 de julho (Brasil)
País de origem: Estados Unidos
Duração: 1h 43m
Sinopse: Após ser raptado por um assassino de crianças e trancado em um porão à prova de som, um menino de 13 anos começa a receber chamadas das vítimas anteriores do psicopata, em um telefone desligado.
O Telefone Preto
Não converse com estranhos. Não coma coisas das quais você não sabe as origens. Jamais entre no carro de pessoas desconhecidas. Quando criança, você certamente deve ter ouvido uma ou mais dessas lições de seus pais, familiares ou responsáveis. Isso tudo porque um dos maiores medos que afetou a geração anterior à nossa foram os inúmeros casos de sequestro de crianças, tanto no Brasil quanto no resto do mundo.
O Telefone Preto, novo filme de Scott Derrickson (Doutor Estranho, A Entidade, O Exorcismo de Emily Rose) parte de um medo tão primal e básico para entregar um festival de tensão acumulada, que explode em seu ato final com todo o surto que se espera de um filme de terror – e de uma forma muito charmosa, diga-se de passagem, que até lembra os grandes thrillers da década de 90.
A trama é simples e o filme não tenta desviar do percurso, indo bem direto ao ponto: Finney é um jovem garoto que vive com sua irmã, Gwen, e seu pai abusivo. Na sua vizinhança, vários garotos têm desaparecido nos últimos dias, vítimas do Sequestrador (como a mídia o apelidou). Eventualmente, Finney acaba sendo pego pelo assassino e precisa encontrar uma forma de fugir – ele só não esperava que iria contar com a ajuda das vítimas de seu captor.
A trama, escrita por Derrickson ao lado de seu maior colaborador, C. Robert Cargill (A Entidade, No Man of God, Doutor Estranho) é baseada em um conto homônimo de Joe Hill, e talvez seja o melhor caso de uma adaptação do autor para as telas, após obras um tanto quanto questionáveis como Amaldiçoado, de 2013 – o filme com o Daniel Radcliffe chifrudo – e a série NOS4A2 – que traz um igualmente bizarro Zachary Quinto como Nosferatu.
Derrickson aqui tenta “emular” um pouco do que fez anteriormente em A Entidade, de 2012, ao menos no que diz respeito à estética e à tensão. Ele até consegue inserir alguns elementos bem identificáveis do seu projeto anterior, como fitas de vídeo caseiro, jump scares milimetricamente arquitetados para te dar o susto da sua vida e, é claro, a colaboração sempre bem-vinda de Ethan Hawke.
Ainda que seja o último nome listado nos créditos do filme, ele é quem dá alma ao negócio. Embora nunca saibamos muito sobre seu personagem, suas motivações ou até mesmo a forma como ele interage com outras pessoas, o que definitivamente temos é um vilão tenebroso, daqueles que nos fazem cobrir o rosto e dar gritinhos finos toda vez que entra em cena. E tudo isso sem nenhum recurso além de uma boa atuação e um conjunto de máscaras aterrorizantes.
Hawke brilha durante boa parte do filme, e é muito interessante como sua presença é demarcada mesmo quando ele não está na cena. Desde o começo, ouvimos sobre o Sequestrador como uma lenda urbana, um conto de advertência para que crianças não se deixem ser seduzidas por estranhos. Depois, quando somos transportados para o porão do assassino, ele mostra sua imponência e perversidade a todos os momentos – mesmo quando não aparece fisicamente.
Aliás, é impressionante como Derrickson aqui consegue socar uma miríade de referências sem perder o garbo. Por exemplo, em sua primeira aparição – onde sequestra Finney -, o vilão vivido por Hawke possui um visual que remete diretamente ao personagem de Lon Chaney em London After Midnight, um filme perdido de 1927 que já virou uma lenda urbana, um mito homérico entre os fãs do cinema de horror.
Mas claro que ele não é o único destaque do filme. Mason Thames e Madeleine McGraw são escolhas certeiras para os papéis de Finney e Gwen Blake, respectivamente. Mesmo crianças, os dois conseguem passar uma variedade de emoções que não estamos acostumados a ver nem mesmo em adultos, quando o assunto é cinema de horror. O nosso protagonista, por exemplo, consegue passar o desespero de seu personagem de uma forma brutalmente real.
Madeleine, por outro lado, é quem brilha como alívio cômico – embora sua personagem não se reduza a isso. Ela é a irmã bem-intencionada de Finney, que possui sonhos premonitórios e que tenta encontrá-lo de alguma forma. Ainda que sua trama seja triste, ela adiciona leveza ao longa com sacadas ácidas e ágeis, ao mesmo tempo em que traz uma das cenas mais angustiantes do ano, envolvendo o pai de Gwen e Finney, interpretado por Jeremy Davies.
Talvez, o único ponto fraco do filme seja Max, um personagem interpretado por James Ransone, que aparece lá pelas tantas. Ransone, que também é um colaborador frequente de Derrickson, até está bem no papel, ainda que a sua presença pudesse ser retirada do filme sem grandes perturbações. Ao menos, uma certa reviravolta que envolve seu personagem serve para adicionar camadas de urgência e tensão à trama.
Aliás, tensão é a palavra-chave. Embora tente trazer algumas referências estéticas de A Entidade, o diretor em momento algum quer recriar o mesmo sentimento que esse filme. Ele não está em busca do “filme mais assustador de todos os tempos”, mas consegue entregar algo muito parecido ao se aprofundar na tensão, no suspense e em todo o senso de urgência que parece ter se evaporado do cinema mainstream contemporâneo.
Essa tensão é abundante em toda a duração do filme, do começo ao fim. Ele constrói isso na paranoia de Finney com o Sequestrador, depois que ele é pego pelo assassino, no encontro do garoto com as vítimas anteriores… cada cena é articulada de forma a aumentar o sentimento de que “algo muito errado vai acontecer”. É por conta disso que seu ato final, mesmo que muito rápido e contido, consegue trazer um sentimento catártico de imediato.
Mais uma vez, Derrickson se prova como um dos nomes mais curiosos do cenário atual de terror. Aqui, ele não só faz um bom uso dos recursos que tem em mãos, como também mostra seu repertório de referências, que vão desde O Sexto Sentido a O Silêncio dos Inocentes, sem nunca soar derivativo dessas obras – na verdade, ele mostra que é capaz de fazer um terror original e eletrizante, sem cair em fórmulas batidas ou entrar no terreno pedante do “pós-horror”.
O Telefone Preto é uma obra que converte tensão em medo, mas que também consegue encapsular bem o talento de todos os envolvidos. É um ótimo filme para apresentar o gênero para aquele seu amiguinho que “não vê filme de terror”, mas também é um presente para quem já se considera fã de longa data do medo cinematográfico. Vá aos cinemas. Assista. Só não fale com estranhos durante a sessão…
O Telefone Preto estreia no dia 21 de julho, mas já possui sessões especiais disponíveis em diversos cinemas.
Abaixo, veja também: