Crítica: Lobisomem na Noite é uma produção modesta, mas original e única no MCU

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Crítica: Lobisomem na Noite é uma produção modesta, mas original e única no MCU

Por Gus Fiaux

Este ano, o Universo Cinematográfico da Marvel continua sua expansão com força total. Depois das séries lançadas no Disney+, agora chegou a vez dos Especiais Temáticos, a começar por Lobisomem na Noite, que veio para capturar a atenção dos fãs de terror bem a tempo do Halloween.

Com um elenco interessantíssimo encabeçado por Gael García Bernal e Laura Donnelly, o especial de uma hora dirigido por Michael Giacchino desafia os fãs que buscam por conexões, easter-eggs e pistas para o futuro, além de entregar uma das obras mais originais da Marvel Studios desde 2008. E aqui, você pode conferir a nossa crítica!

Ficha técnica

Título: Lobisomem na Noite (Werewolf by Night)

 

Direção: Michael Giacchino

 

Roteiro: Heather Quinn e Peter Cameron

 

Data de lançamento: 07 de outubro (Brasil)

 

País de origem: Estados Unidos

 

Duração: 52 minutos

 

Sinopse: Quando um grupo de caçadores de monstros se reúnem na Mansão Bloodstone para uma caçada sinistra, eventos estranhos provam que há uma linha tênue separando presas e predadores.

Lobisomem na Noite já está disponível no Disney+.

Lobisomem na Noite mostra como a Marvel pode ser ousada… se quiser!

Há cinco anos, quando se dizia que o gênero dos super-heróis iria passar por uma grande saturação devido à imensa quantidade de produções sendo lançadas todos os anos, muitos fãs riam e achavam graça. Porém, isso se tornou uma realidade. O próprio Universo Cinematográfico da Marvel, mesmo com todos os seus méritos, se tornou um campo de batalha tão abarrotado de personagens que hoje é difícil se importar com qualquer um deles.

Por isso, quando foi anunciado que além dos vários filmes e séries lançados anualmente, a Marvel Studios também começaria a lançar especiais temáticos em datas comemorativas, minha primeira impressão foi a indiferença, ainda mais quando o primeiro projeto do tipo foi anunciado como sendo uma história do Lobisomem na Noite, anti-herói bem obscuro e mais ligado aos quadrinhos pulp de horror que surgiram em massa na editora nos anos 70.

Não que não houvesse potencial, pelo contrário. Mas após Cavaleiro da Lua, que desperdiça todo o clima sombrio das histórias do herói em prol de um mais do mesmo cansativo, era difícil levar fé em outra produção do Disney+. E se o lançamento de Lobisomem na Noite serviu para algo foi para mostrar como, às vezes, é bom estar enganado.

Aqui, temos uma história relativamente simples e sem rodeios: Na Mansão Bloodstone, é sediado um torneio com vários caçadores de monstros, para que eles possam caçar uma criatura bem querida dos quadrinhos. O prêmio para o vencedor é a lendária Pedra de Sangue, um artefato que imbui seu usuário de poderes espetaculares e o ajuda a encontrar e deter outros monstros.

Entre o ilustre rol de competidores, conhecemos Elsa Bloodstone, a filha do falecido detentor da Pedra de Sangue, que se afastou de sua família por não concordar com os métodos rígidos do pai. Mas ela não é a única que parece estar mais perdida que cego em tiroteio, já que Jack Russell também se junta à caçada, sem saber exatamente o que pode acontecer em uma noite regada a morte e violência.

Essa é a trama básica do especial e procurar por qualquer coisa além disso é colocar expectativas onde simplesmente não há, afinal, o especial dirigido por Michael Giacchino é, da maneira mais pura possível, uma experimentação estética e vibrante com o gênero do horror, que está muito mais preocupado em fazer algo bom e divertido do que apresentar personagens e figuras que serão importantes pelos próximos dez anos no MCU.

Sim! Se você teorizava que o Motoqueiro Fantasma ou o Blade dariam as caras, pode ir tirando seu cavalinho da chuva, pois essa não é a proposta. De muitas formas, Lobisomem na Noite é o projeto menos ambicioso de todo o MCU, e funciona justamente por isso. Em vez de uma trama grandiosa, com o mundo sendo ameaçado por alienígenas descompensados e um grande crossover de heróis, temos uma caçada simples.

E ainda assim, há muita coisa digna de nota aqui, a começar pelo elenco. Gael García Bernal faz um Jack Russell bem introvertido, mas sem deixar de lado o carisma impressionante que alavancou sua carreira – e isso acaba criando um contraponto muito bom com Laura Donnelly, que entrega uma Elsa Bloodstone um pouco mais sisuda que a sua contraparte das HQs, mas que tem uma postura digna de uma baita girlboss.

Porém, o destaque maior está na direção de Giacchino, que faz sua estreia nesse cargo. Vale lembrar, ele é conhecido por ser compositor e, até então, nunca havia comandado nenhuma produção, mas faz isso aqui de modo brilhante, sem sacrificar momentos de tensão em prol de piadas fora de hora. Muito pelo contrário: aqui, ele não tenta fazer um “filme da Marvel que casualmente tem monstros”, mas sim um filme de monstros que casualmente tem um ou outro personagem da Marvel

E só isso já seria o bastante para capturar a atenção de qualquer fã de horror, mas Giacchino impressiona ainda mais ao criar uma baita homenagem aos Monstros da Universal, uma franquia clássica do gênero que se popularizou a partir dos anos 30 e trouxe grandes seres para as telas, como Drácula e o Monstro de Frankenstein. A vibe até pode parecer “estranha” para quem é fã do Universo Cinematográfico da Marvel, mas logo conquista pelo charme “barato” da produção.

E isso é feito através de inúmeros componentes, seja a fotografia em preto-e-branco com toques envelhecidos ou pelo uso de efeitos práticos em vez do festival de CGI ruim que nos acostumamos a ver nos últimos anos. O tom também é outro, com direito a um grande derramamento de sangue e muita violência explícita, algo que pode chocar quem espera a “porradaria fofa” de Vingadores e Guardiões da Galáxia.

Pela primeira vez, me encontro diante de uma produção da Marvel Studios que se beneficiaria de uma duração um pouco maior. Com menos de uma hora, o especial passa voando, mas acaba deixando um gostinho de quero mais e infelizmente sacrifica o potencial de personagens intrigantes, como o próprio Lobisomem e o Homem-Coisa. Pelo menos, ele entende que o clima e a estética são o grande chamariz, e aposta fundo nesses elementos.

Ao fim, fico com a sensação de que ainda não sei se esses personagens retornarão ou se a história será um ponto importante para o “grande plano-mestre” do MCU… e isso é muito revigorante. Por mais que muitos fãs dediquem sua vida a isso, super-heróis são, acima de tudo, bobos e cafonas. E dá para abraçar esse lado bobo e cafona sem que tudo precise ser um grande evento, uma grande narrativa, um capítulo de uma história gigantesca.

Lobisomem na Noite mostra que não é preciso lotar uma produção de referências, easter-eggs e pistas para um futuro distante. Basta ser bom, criativo e ousado – coisas que estão em falta no Universo Cinematográfico da Marvel desde que a Fase 4 teve início. Com sorte, esse pequeno teste de experimentação pode ditar o tom de algumas das próximas produções do estúdio… resta saber se Kevin Feige e cia. terão coragem de manter o nível.

Nota: 4/5

Lobisomem na Noite já está disponível no Disney+.

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