Crítica: Guardiões da Galáxia dá um presente de Natal perfeito em seu Especial de Festas

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Crítica: Guardiões da Galáxia dá um presente de Natal perfeito em seu Especial de Festas

Por Gus Fiaux

Esse ano, o Universo Cinematográfico da Marvel começou a investir em produções menores, mais contidas (e mais baratas, obviamente). Se no Dia das Bruxas fomos presenteados com o excelente Lobisomem na Noite, agora é a hora de voltarmos para uma nova aventura paralela com Guardiões da Galáxia: Especial de Festas.

Aqui, James Gunn mostra como ainda é possível contar histórias de super-heróis que fujam de um lugar comum e desenvolver as particularidades de seus personagens no processo, sem depender de pistas e dicas para o que virá nas próximas cinco fases da franquia. Nós já conferimos o especial e você pode ler nossa crítica logo abaixo!

Ficha técnica

Título: Guardiões da Galáxia: Especial de Festas (The Guardians of the Galaxy Holiday Special)

 

Direção e Roteiro: James Gunn

 

Data de lançamento: 25 de novembro (Brasil)

 

País de origem: Estados Unidos

 

Duração: 44 minutos

 

Sinopse: Drax e Mantis tentam salvar o Natal enquanto procuram o presente perfeito para o Senhor das Estrelas.

Guardiões da Galáxia: Especial de Festas já está disponível no DIsney+.

Guardiões da Galáxia: Especial de Festas é mais uma ótima aventura da equipe espacial

Existe algo de muito bonito e tocante na forma como James Gunn aborda o conceito de família ao longo de toda a saga dos Guardiões da Galáxia. No primeiro filme, vemos um grupo de desajustados se unindo para tentar salvar o mundo, enquanto o segundo já estreita os laços entre essas pessoas e mostra como cada um deles tem um papel a desempenhar dentro da dinâmica total.

Já Vingadores: Guerra Infinita Ultimato, apesar de não serem filmes de Gunn, mostra um abalo sísmico na família devido à perda e o luto, algo que terá consequências severas até que o capítulo final da trilogia dos Guardiões esteja entre nós, no ano que vem. Porém, com Guardiões da Galáxia: Especial de Festas, o diretor oferece um leve respiro que nos lembra porque esses personagens são tão queridos.

Aqui, em vez de vermos explosões multicoloridas e personagens correndo contra o tempo para impedir a aniquilação de todo o Multiverso, temos uma trama muito mais contida e reservada, que aposta fundo no que acontece com esses mesmos personagens durante as batalhas icônicas.

Nos últimos anos, o gênero de super-heróis ficou saturado, seja pela massiva insistência dos estúdios em lançar mais de três filmes por ano ou pela enchente de produções do “gênero” dominando os streamings. É quase impossível que essa superlotação não traga algum tipo de problema, seja pela quantidade ou pela qualidade dos produtos. No caso do Universo Cinematográfico da Marvel, o que vimos foi uma total exaustão criativa.

Fase 4 deu sinais de que, talvez, seja melhor frear um pouco a quantidade de conteúdos e apostar no refinamento dos mesmos. Porém, isso não é o que está acontecendo – pelo contrário, no ano que vem teremos filmes e séries até dizer chega. E uma das consequências disso, se analisarmos a estruturação dessa franquia, é o uso cada vez mais presente de fórmulas repetitivas e cansadas.

Felizmente, 2022 trouxe um bom respiro com duas produções bem intrigantes. Lobisomem na Noite, o aclamado especial de Halloween da Marvel Studios, tenta ser um experimento estético e livre das necessidades constantes de alardear o que vem no futuro. E agora, o especial de natal dos Guardiões da Galáxia nos fornece a típica trama boba, pueril e descompromissada que você só encontra nesse tipo de produção.

Na trama, Drax Mantis precisam visitar a Terra em busca de um presente perfeito para alegrar o natal de Peter Quill, que tem sofrido constantemente com a perda de Gamora em Guerra Infinita. E eles então bolam um plano pra lá de brilhante: sequestrar Kevin Bacon, o ídolo terráqueo do Senhor das Estrelas, e levá-lo como se fosse uma mera recordação.

Só isso já torna esse especial bem diferente de tudo que temos aos montes no MCU. Não há ameaças vis que querem acabar com a vida no universo, não há pistas e easter-eggs para o que vem a seguir, sequer há aquela enxurrada de fan service – a expressão mais amaldiçoada de todos os tempos. Claro, Gunn não deixa de fazer acenos aos fãs e até traz alguns de seus colaboradores frequentes, mas tudo é feito de uma forma ingênua e doce.

Como já é típico do diretor, a intenção é humanizar ainda mais esses personagens, transformando-os em mais do que meros bonecos de CGI em cenas de ação mal finalizadas. E nesse sentido, ele consegue dar espaço e destaque até mesmo para as figuras mais “apagadas” da trama, como Nebulosa Rocky Racum, tudo porque seu roteiro esbanja personalidade e carisma através dessa família que aprendemos a amar.

Sempre que alguém usa “brega” como adjetivo, seja para elogiar ou criticar algo, costumo ficar com um pé atrás. De certa forma, o que é “brega” para alguns pode ser “péssimo” para outros, mas Gunn é um dos poucos que consegue usar esse exagero de forma consciente, livre de cinismo e entranhado na estética de suas histórias, sem que isso se torne apenas mais ruído em meio ao barulho.

E é por isso que sim, Guardiões da Galáxia: Especial de Festas é brega. Mas em momento algum ele usa essa breguice como razão de ser, coisa que tem ficado cada vez mais frequente nas produções da Marvel Studios (lembra das cabras gritando em Thor: Amor e Trovão? Pois é…). Aqui, ele usa esse repertório camp para celebrar a época mais camp do ano, usando bem do artifício de uma “história isolada” para preencher lacunas que ajudam a compor complexidades em seus personagens.

Vemos como a relação de Mantis e Drax se desenvolve enquanto companheiros e comparsas, vemos um Peter Quill cabisbaixo e mais silencioso que o normal. Vemos até a forma como vários dos personagens extraterrestres, como a Nebulosa e Kraglin, tentando entender as peculiaridades da humanidade, apenas porque sabem que um humano faz parte de sua família. É o tipo de profundidade que, às vezes, fica perdida em filmes de duas horas com orçamentos multimilionários.

E se você não liga para esse tipo de complexidade, não fique temeroso: ainda é tudo aquilo que nós já esperávamos de uma aventura com os Guardiões da Galáxia – é divertido, insano, fora da caixinha e deliciosamente excêntrico. Há uma pequena cena no final envolvendo Nebulosa que me arrancou uma gargalhada genuína, algo que não via acontecendo há uns bons anos dentro da franquia. E o mais curioso é como se trata de uma cena que sequer possui diálogos.

Claro que ajuda ter um elenco tão carismático. Pom Klementieff Dave Bautista dão a alma aqui, mas até uma breve participação de Maria Bakalova (ou melhor, de sua voz) é capaz de inspirar sorrisos. E Kevin Bacon está completamente hilário, o que torna toda a experiência ainda mais divertida e acalentadora.

Após um ano sofrível para as produções de super-heróis, Guardiões da Galáxia: Especial de Natal fecha tudo com uma nota positiva e nos faz lembrar que ainda é possível ter histórias no gênero que fogem da mesmice. Não só isso, é um lembrete de como James Gunn cravou alguns dos personagens mais humanos de todo o MCU – o que só fica mais engraçado se pensarmos que quase todos na equipe são extraterrestres.

Nota: 5/5

Guardiões da Galáxia: Especial de Festas já está disponível no Disney+.

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