All Of Us Are Dead: Como a epidemia da série começou
All Of Us Are Dead: Como a epidemia da série começou
Entre tantas produções de zumbis, All of Us are Dead traz um pouco de novidade para o tema
Poucos monstros são tão reproduzidos como zumbis. Às vezes como uma inteligente apropriação para construir uma crítica social, como em A Noite dos Mortos Vivos e, na maioria das vezes, como uma farofa de qualidade duvidosa, como em Army of Dead, já vimos de zumbis coreanos a nazistas. Enquanto o clássico estilo zumbi foi sendo deixado no passado com o boom e eventual expansão do universo de The Walking Dead, algumas novas produções tentam renovar o gênero — ou, pelo menos, movimentar as coisas, como é o caso do novo dorama da Netflix, All of Us are Dead.
Inspirada e baseada em um webtoon de mesmo nome lançado em 2009, a produção segue um grupo de estudantes presos em uma escola enquanto vêem a cidade de Hyosan ser tomada por um vírus zumbi. E nessa pequena sinopse, todos os elementos clichês parecem pipocar na nossa frente: um grupo improvável de sobreviventes, mortes indesejadas, locais perigosos, escassez de comida, um perigo a cada curva.
Uma proposta simples, uma execução curiosa
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Alguns dos alunos da trama principal de All of Us are Dead.
Mas, fugindo do seu material fonte e de tantas outras produções sobre o assunto, All of Us are Dead consegue fazer o que Fear of The Walking Dead prometeu e não conseguiu: nos situar sobre como o governo lidaria com uma epidemia como essa.
E essa proposta se torna um desafio, uma vez que já experimentamos algo similar. Com o surgimento do COVID-19, a ignorância de grande parte da população e o medo do contágio tornando o isolamento social necessário, qualquer trama zumbi parece clichê e surreal demais. All of Us are Dead tenta reverter o assunto fazendo o mesmo que o dorama Happiness, lançado em 2021: abraçar o caos e aceitar que essa sociedade já sofreu com uma pandemia.
Para isso, adentramos em um mundo despreparado para a situação, mas que entende, ou tenta compreender, quais são as medidas de contenção, quarentena e segurança diante de um novo vírus. Mas, se o alerta – e até mesmo a menção ao COVID-19 –, não bastam como uma novidade no gênero, o motivo e a propagação do vírus já trazem um novo olhar sobre zumbis.
O paciente zero
Começando pela causa. Diferente de tantas outras obras ao redor dos temidos mortos-vivos, All of Us are Dead deixa os mistérios de lado. Enquanto o webtoon, sua fonte original, deixa a origem do HS Virus (nomeado devido a cidade, Hyosan) um mistério, dizendo que ela pode ter sido originada no Oceano Pacífico, na produção as respostas são dadas logo no início ao espectador.
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Lee Beyong-Chan encontra seu filho como um zumbi.
“Nós vivemos em um sistema violento. Um ‘ninguém’ como eu não pode mudar o sistema. Então eu decidi mudar o meu filho”, diz o cientista, Lee Beyong-Chan.
Essa escolha de roteiro tira um peso do famoso “Mas de onde isso saiu?” e passa a focar no que importa: caos. Como foi dito anteriormente, a série abraça essa característica e a extrapola ao máximo. Para isso, ela começa com um problema recorrente na Coréia, o bullying. Como já visto em outras produções, como Garota de Fora, e até mesmo os noticiários ao redor de idols que praticavam bullying, os colégios coreanos têm enfrentado um desafio com o assunto.
O que não é diferente para Lee Jin Su, filho do professor de biologia e cientista, Lee Beyong-Chan. Após ver o filho perder a vontade de viver devido ao intenso bullying que tem sofrido de seus colegas de classe, Beyong-Chan decide mudar o filho, pois o sistema virou as costas para ele. Para isso, ele investiga como ratos encontram coragem para se defender em momentos de perigo, como, por exemplo, quando são encurralados por uma cobra.
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Poster da série
Com a ideia de transformar o medo em raiva e assim, reação, Beyong-Chan isola esse componente e passa a fazer experimentos com o filho. A atitude do homem parece baixa, mas aos poucos entendemos que é o desespero de alguém incapacitado. O componente, ao entrar em contato com o corpo de Jin Su, se transforma em um vírus, tornando o rapaz uma máquina de ódio, sedenta por sangue.
Mesmo que existam algumas incongruências no assunto, a história do paciente zero somado ao ambiente tóxico que vai sendo revelado no decorrer da trama, tornam toda a criação de mundo satisfatória e até mesmo, instigante. É nesse ponto que conhecemos o antigo farmacêutico e professor de biologia. Quebrado, sem respostas para o que criou, ele passa a testar o vírus em ratos. O que o homem não esperava era que uma aluna entrasse em sua sala sem permissão e encontrasse o pequeno rato de laboratório. Com apenas uma simples mordida, o apocalipse estava formado.
Só um deslize para o apocalipse
A partir daí, webtoon e série convergem em acontecimentos. O professor se vê na necessidade de aprisionar a garota. Sem conseguir matar qualquer uma de suas criações, Beyong-Chan, tenta conseguir tempo para encontrar respostas para suas preocupações. Como uma fila de dominós enfileirados, vários eventos dão lugar a garota escapando, o professor de biologia sendo preso, uma mordida na escola, a transferência da nova contaminada para o hospital e assim vai.
Aos poucos, o vírus começa a se espalhar, tornando o colégio um pequeno inferno. Já do lado de fora, entre pessoas tentando ajudar e outras sem entender, é como ver por outro ângulo a humanidade se deparando com uma nova onda de um vírus. Mas, no caso, uma nova epidemia.
E, entre tantos pontos positivos, como atuações, personagens e construção de mundo, o que parece se destacar são alguns dos elementos presentes no webtoon, como a falta de esperança nas autoridades e a forma como elas mesmas tratam a situação. Isso inclui as medidas de segurança e contenção, elementos que costumam faltar nessas histórias, que geralmente se apoiam na ideia: “Quando acordei, o mundo acabou”.
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O foco do apocalipse é o Hyosan High.
“Para os que não gostam de filmes de zumbi, tentamos incorporar diversas ferramentas para tornar a experiência divertida”, disse Jae-kyoo, diretor da série.
Mesmo que esse novo e velho mundo criado por All of Us are Dead pareça um pouco do mesmo, ele traz um novo vírus para a equação. O Jonas Virus, nomeado em homenagem ao filósofo Hans Jonas, não apenas replica a velocidade e a audição preocupante dos zumbis vistos no filme Train to Busan, mas traz também uma evolução rápida, munida de um curioso, mas interessante, objeto de estudo: bullying, adolescentes e caos — que parece ser a fórmula perfeita para um apocalipse zumbi.
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