1899: Quadrinista brasileira acusa série da Netflix de plágio

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1899: Quadrinista brasileira acusa série da Netflix de plágio

Por Chris Rantin

1899, a nova série dos criadores de Dark, chegou na Netflix na última semana trazendo uma nova trama de mistérios e reviravoltas. Contudo, segundo Mary Cagnin, ilustradora e quadrinista brasileira, diversos elementos do seriado foram plagiados da sua HQ Black Silence, publicada em 2016.

Trazendo imagens comparando seu trabalho com 1899, a quadrinista exemplifica como algumas cenas da série parecem ter saído diretamente das páginas da sua HQ:

“Estou em choque,” disse Cagnin em seu Twitter. “Descobri que a série 1899 é simplesmente idêntico ao meu quadrinho Black Silence, publicado em 2016 […] Está tudo lá: A pirâmide negra. As mortes dentro do navio/nave. A tripulação multinacional. As coisas aparentemente estranhas e sem explicação. Os símbolos nos olhos e quando eles aparecem. As escritas em códigos. As vozes chamando por eles. Detalhes sutis da trama, como dramas pessoais dos personagens, incluindo as mortes misteriosas.” 

Comparação entra Black Silence e 1899.

Segundo Cagnin, o plágio seria possível porque Black Silence foi exposta (e disponibilizada em inglês) em uma feira internacional bastante popular na Europa.

“Você deve estar se perguntando: como isso é possível? Pois bem, em 2017 fui convidada pela embaixada brasileira a participar da Feira do Livro de Gotemburgo, uma feira internacional muito famosa e influente na Europa,” disse. “Participei de painéis e distribuí o quadrinho Black Silence para inúmeros editores e pessoas do ramo. Não é difícil de imaginar o meu trabalho chegando neles. Eu não só entreguei o quadrinho físico como disponibilizei a versão traduzida para o inglês.” 

Mary Cagnin na Feira do Livro de Gotemburgo, imagem disponibilizada pela autora.

Para ela, a situação é bastante desesperadora, especialmente por ser um grande sonho ter seu trabalho reconhecido internacionalmente:

“Já chorei horrores. Meu sonho sempre foi ser reconhecida pela meu trabalho nacionalmente e internacionalmente. E ver uma coisa dessas acontecendo realmente parte meu coração. Sabemos que no Brasil temos poucas oportunidades para mostrar nosso trabalho e ser reconhecido por ele. Tive a oportunidade que muitos quadrinistas nunca tiveram: de poder mostrar meu trabalho para o público internacional. Gente. Eu dei palestras. Falei sobre o plot. Apresentei para pessoas influentes da área. O negócio é sério.” 

Bastante utilizado no material promocional, o triângulo nos olhos os protagonistas era um elemento presente em Black Silence.

“Obviamente, Black Silence é uma obra curta, quase um conto. É muito fácil, em 12h de projeção da série, diluir todas essas ‘referências’, mas a essência do que eu criei está lá,” reforça Cagnin. “A gente não pode achar que só porque somos brasileiros devemos aceitar esse tipo de menosprezo e indiferença. Temos inúmeros casos de gringos copiando a gente, em filmes, séries e músicas. Como o caso do filme “As aventuras de Pi” que foi copiado de um livro brasileiro.”

Algumas cenas da série parecem ter saído diretamente das páginas de Black Silence.

Até o momento, nem a Netflix e nem os envolvidos em 1899 se manifestaram sobre o assunto.

Mariana Cagnin, mais conhecida como Mary Cagnin, já ilustrou livros e revistas para editoras Globo, Abril e Mol. Seu trabalho como quadrinista inclui Vidas Imperfeitas e os premiados Black Silence e Bittersweet.

1899 é uma série alemã, mas seu elenco é bastante diversificado e terá atores de diferentes nacionalidades, como Andreas Pietschmann, Lucas Lynggaard Tønnesen, Miguel Bernardeau, Aneurin Barnard, Mathilde Ollivier, Emily Beecham e Alexandre Willaume.

Black Silence está disponível para leitura online gratuita no site da artista. A primeira temporada de 1899 está disponível na Netflix.

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