Conheça Tome of Order & Chaos: um RPG prático criado por uma dupla de brasileiros

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Conheça Tome of Order & Chaos: um RPG prático criado por uma dupla de brasileiros

Por Gabriel Mattos

Quando os videogames ainda estavam pensando em se estabelecer, os RPGs de mesa reinavam como o jeito mais democrático de viver a sua própria história. Agora, décadas depois, estamos vivendo um verdadeiro ressurgimento dos RPGs — presente até mesmo nos discursos de eliminação do Big Brother Brasil.

Todo final de semana, sites de streaming são invadidos por partidas de RPG interpretadas por influencers, cativando um público cada vez mais apaixonado. Mas depois de assistir horas e mais horas de Critical Role, O Segredo na Floresta ou A Guilda dos Goblins, você pode estar morrendo de vontade de viver suas próprias aventuras.

O problema é que os sistemas mais conhecidos não são nada amigáveis para iniciantes. Mas existe um sistema pensado exatamente para simplificar o aprendizado de quem está começando — Tome of Order & Chaos.

Idealizado pelo game designer Felipe Caravelli e pelo compositor de jogos Filipe Silva da Rosa, esse sistema brasileiro te deixa preparado para jogar em apenas 25 páginas. Nunca foi tão fácil aprender RPG! A Legião dos Heróis decidiu conversar com eles para entender mais a fundo como foi o processo de tornar essa experiência tão mais acessível.

Um sistema prático

Os criadores de Order and Chaos, Filipe Rosa (esq.) e Felipe Caravelli (dir.).

No início, Order & Chaos — ou O&C como foi apelidado pelos jogadores — surgiu da simples vontade da dupla de retomar o hábito de jogar RPG. Os livros tradicionais que explicam a jogabilidade são muito longos, então eles decidiram aproveitar sua extensa bagagem como jogadores para criar algo mais prático.

Essa bagagem começou desde a infância. Caravelli começou a jogar próximo aos seus 6 anos de idade, incentivado por um vizinho que conhecia um RPG de Pokémon. “Ele tinha lá o próprio mapa dele, tinha as pecinhas e os dados. Foi o primeiro contato que eu tive, […] não entendia tanto assim, mas aquilo ali já me deixou… “Pô, isso aqui é legal, cara. É diferente do videogame. É diferente de jogos de tabuleiro, apesar de ser parecido…”

Esse interesse permaneceu dormente até conhecer o Filipe Rosa, em um fórum na internet. Filipe era mais velho e introduziu o amigo a sistemas mais complexos que ele conhecia. “Por volta dos 13 anos de idade, o primeiro RPG que eu comecei a jogar foi Vampiro: A Máscara, [depois] 3D&T do Pokémon, Tormenta, D&D 3.0…”.

Naquela época, eles acabaram se aproximando ainda mais quando começaram a criar RPGs digitais — parecidos com Final Fantasy e Dragon Quest. Esse conhecimento acabou se provando útil mais recentemente quando a dupla se reuniu para desenvolver um RPG de Mesa que exigisse pouca preparação.

A princípio era algo que eles fariam para eles mesmo jogarem, apenas por diversão. Eles começaram analisando sistemas que eles já tinham familiaridade para entender quais elementos eram essenciais em um RPG. “A gente estava conseguindo desconstruir certas coisas que antes eram um pouco complicadas, ou que demoravam muito tempo, e a gente fez uma sinergia muito boa daqueles recursos que a gente estava criando.” explica Caravelli.

Depois de jogar partidas com amigos de um protótipo do sistema, eles perceberam que tinham algo valioso nas mãos. As críticas dos amigos ajudaram a refinar ainda mais o livro, entendendo o que poderia continuar e o que precisava sair. Depois de muito trabalho, o resultado final pode ser encontrado gratuitamente no site de O&C.

Simples, mas profundo

Todos são bem-vindos em O&C.

Na sociedade atual onde somos treinados a absorver informação cada vez mais rápido, Tome of Order and Chaos pretende atualizar os RPGs de mesa para um público que tem cada vez menos tempo. “No processo, a gente começou a pensar que tipo de jogador a gente poderia incluir dentro do tipo de jogo que a gente estava desenvolvendo. […] Dava para atender uma fatia da comunidade [nova] RPG, principalmente inciantes…” disse Rosa.

A chave para conquistar ao mesmo tempo um público com conhecimentos limitados no assunto RPG e os jogadores mais veteranos foi aliar simplicidade com flexibilidade. O&C mantém apenas os elementos mais imprescindíveis, que todo iniciante precisa saber, mas traz ferramentas que permitem que um mestre experiente possa criar novas regras que funcionem melhor para o seu cenário.

“A gente colocou como valores fundamentais um balanceamento, principalmente na parte do combate, que pudesse ser justo e que a interpretação do personagem fosse o que guiasse a campanha, né — a sessão de jogo de RPG — e não as capacidades do personagem, como é no D&D por exemplo.” acrescentou Rosa.

Dungeons & Dragons é o grande pai dos jogos de interpretação modernos, mas por ser o mais antigo acaba sendo complexo demais para jogadores iniciantes e demanda muita preparação para pessoas com uma rotina mais complicada. “Hoje em dia os livros do D&D […] facilitaram bastantes sistemas para tornar a fluidez do jogo[…], mas ainda é muito engessado, ainda exige um certo estudo em cima do sistema. O nosso… A gente tentou simplificar mais ainda, de uma forma que funcionasse bem dentro das regras.” disse Caravelli.

O&C foi pensado para abrigar diferentes universos fictícios, de acordo com a vontade dos jogadores. Ao invés de limitar suas regras a um cenário medieval, como Tormenta, ou apocalíptico, como Mutant Chronicles, esse sistema pode funcionar facilmente em diversos contextos — sejam campanhas futuristas, de seu filme favorito ou até mesmo com super-heróis. “Se você quiser criar uma história que mistura Cavaleiros dos Zodíacos, com Star Wars e Dragon Ball… Se você quiser botar isso ali, de uma forma ou outra vai dar certo. A interpretação é o pilar primordial do sistema.”

Criatividade é sua arma

Uma orquisa pode enfrentar um robô, se sua criatividade mandar.

Outro posto que costuma confundir e afastar novos jogadores são os sistemas complexos de magia. Inevitavelmente, é necessário descrever os limites do que poderes mágicos podem alcançar no seu sistema, mas O&C conseguiu condensar centenas de páginas de grimório categorizando magia em meia dúzia de tipos.

Há uma liberdade maior para os jogadores combinarem com os mestres certos acordos que regem as propriedades mágicas de cada jogo, deixando a criatividade como o único limite para um exímio feiticeiro. “O pilar principal do sistema de magia foi acreditar que os jogadores e mestres vão ter a capacidade de descrever bem a magia e que ela seja compatível com a sessão em que ela seja jogada.” explicou Rosa.

Assim, ao invés de se preocupar em decorar e selecionar com antecedência uma série de feitiços específicos, além de lembrar as situações exatas em que eles funcionam, O&C permite que os jogadores criem magias únicas seguindo os guias do que é permitido no jogo. “A gente inseriu vários modelos e disse de maneira geral como funciona para testes, mas a gente não limitou que tipo de efeito visual, físico aquele evento vai causar no jogo.”

Mas não se preocupe caso esteja mais interessado em personagens físicos, pois o sistema de combate foi pensado para acomodar a todos. Um dos maiores desafios foi encaixar o combate na filosofia simplista de O&C, especialmente devido ao comprometimento em utilizar apenas um d20 para tornar o jogo mais acessível.

Muito balanceamento foi exigido para chegar nas regras eficientes que regem as batalhas, mas valeu a pena. Hoje o sistema comporta bem até mesmo jogadores que decidem se enfrentar entre si. “Quando a gente fala de jogador contra jogador, a gente precisa que os dados transcrevam bem as ações do personagem. O desafio de usar um único dado foi traduzir [o resultado] às vezes em porcentagem (calcular acerto) e às vezes soma (calcular dano).”

Comece sua aventura

Prepare-se para uma jornada lendária.

Depois de ler as 25 páginas do livro base, tudo que você precisa para começar a jogar é preencher a ficha de jogador.

Cinco atributos foram escolhidos a dedo para reger as capacidades do personagem — vigor, habilidade, inteligência, percepção e domínio. É fácil deduzir o que cada um significa no contexto do jogo, o que facilita na hora de ajustá-los para construir seu personagem.

Pode parecer uma escolha difícil, intimidadora até. Geralmente, os atributos definem o quão capaz é o seu personagem em qualquer situação, mas houve um cuidado em garantir que eles reflitam com exatidão as características do personagem. “Os atributos escolhidos dizem algo sobre o personagem, mas eles não necessariamente definem tanto o quão bom ou ruim o personagem acaba sendo.” Seus números podem ajudar, mas a interpretação é sempre a prioridade.

Os valores médios representam um ser humano comum, logo é de se esperar que a maioria dos personagens comecem beirando os valores iniciais, com o mínimo de discrepância possível. Afinal, ninguém começa sendo muito bom no que faz. Isso surge com o tempo.

Já é possível criar todo tipo de aventura com o livro base disponível no site do Order & Chaos, mas há ainda mais coisa por vir. A dupla pretende criar novos cenários e expansões para explorar com mais clareza temas populares na comunidade, mas ainda não foi revelado qual é o próximo passo dessa aventura.

O jeito é continuar acompanhando o projeto aqui na Legião dos Heróis, assim como no Instagram, Twitter ou Facebook de O&C, para continuar sempre atualizado das novidades.

Enquanto ainda não podemos nos reunir presencialmente, aprenda as regras de Order & Chaos, reúna seus amigos em uma sala virtual e prepare-se para viver aventuras lendárias nesse sistema de RPG acessível a todos os públicos.