Loki 1×01: Glorioso Propósito

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Loki 1×01: Glorioso Propósito

Por Gus Fiaux

Depois de WandaVision Falcão e o Soldado Invernal, a Marvel Studios precisava mostrar serviço com uma nova série do Disney+, e felizmente Loki não é apenas uma sucessora à altura dessas produções, como também traz o melhor episódio piloto dessa iniciativa até agora. Nesta quarta (09), a série estreou com “Glorioso Propósito“, onde vemos exatamente o que aconteceu com essa versão do Deus da Trapaça após ter fugido de sua prisão em 2012.

O capítulo não perde tempo e serve mais como uma “retrospectiva” da vida de Loki, deixando claro para quem ainda estava confuso a respeito dessas duas versões do personagem quem é quem. O Loki que havia começado sua jornada de redenção morreu em Guerra Infinita, pelas mãos do Titã Louco. Esse “novo” Loki que seguimos é, na verdade, a versão mais antiga do personagem, removido do tempo logo depois dos eventos de Os Vingadores.

E a série já faz um ótimo trabalho de ambientação para situar o público em um novo mundo que até então não havia sido apresentado: o da Agência de Variação Temporal. Trata-se de uma organização dedicada a monitorar, lidar com as linhas temporais e punir todos aqueles que se desviam do percurso natural do tempo. Loki, tendo escapulido de sua prisão, é um desses desordeiros e é isso que faz com que ele entre na mira da organização.

Porém, mais do que isso, a série já começa a lidar com aquele que será seu conceito principal. Se WandaVision tinha apostado no tema do luto e do trauma e Falcão e o Soldado Invernal discutiu racismo e legado, Loki vai falar sobre algo muito mais abrangente: destino e a fragilidade (ou seria inexistência?) do livre-arbítrio. Isso fica bem claro desde o começo, quando o vilão percebe que tudo aquilo que almejou, a liberdade, não passa de uma ilusão.

E se a trama básica pode abrir margem para alguns furos de roteiro, ela mesma faz questão de fechá-los. A exemplo disso, desde o começo do episódio eu me perguntava: “tá, mas e por que os Vingadores não foram punidos pelo que fizeram em Ultimato?” A resposta é simples: porque eles estavam destinados a fazer isso. Até mesmo sua corrupção do tempo fazia parte dos planos maiores da AVT e dos Guardiões do Tempo, entidades misteriosas.

Claro que isso tudo é falando de um âmbito geral, mas quando prestamos atenção ao cerne da série – ou seja, Loki Laufeyson, a coisa muda de figura e temos em mãos uma das produções mais delicadas da Marvel Studios, por ser uma exploração muito profunda e complexa de um personagem que sempre foi deixado no posto de coadjuvante – e que ainda assim, sempre roubou a cena em cada aparição.

Se o Deus da Trapaça já havia sido muito bem desenvolvido em filmes como Thor: O Mundo Sombrio e o hilário Thor: Ragnarok, aqui nós temos uma versão condensada em uma hora de todo o seu desenvolvimento ao longo da história do Universo Cinematográfico da Marvel – e eu não falo apenas num contexto ilustrativo. No episódio, o vilão assiste ao seu passado e “futuro”, vendo tudo que aconteceria caso tivesse seguido o fluxo natural do tempo.

Essa decisão de mostrar cenas de outros filmes é, até certo ponto, bem expositiva e serve mais como um memorando para os fãs que não viram a todas as produções anteriores, mas seu propósito narrativo é evidente, o que faz com que não seja uma sequência de cenas desnecessárias apenas para atribuir contexto. Aqui, podemos ver um Loki imaturo e maligno vendo o seu próprio destino, reagindo a tudo que já perdeu por ter “se desviado do caminho”.

A epítome disso acontece ao final do episódio, quando ele finalmente pode testemunhar a morte de sua própria mãe adotiva, Frigga, bem como a de seu pai, Odin. E Tom Hiddleston se prova novamente um excelente ator, não só por conferir um peso marcante à sequência, mas também por trazer um traço do personagem que pode ser esquecido facilmente sob as camadas de humor e carisma: a melancolia.

Loki, tanto nos quadrinhos como no MCU, é um personagem trágico por tudo que ele representa. Ele está sempre preso a uma missão, a um destino: ser o Príncipe das Mentiras e o grande traidor de Asgard. Várias foram as vezes em que ele tentou se livrar dessa sina, mas tudo o joga de volta no caminho da maldade e da humilhação. Ao ver tudo o que aconteceria consigo no futuro, ele finalmente tem a chance de quebrar o ciclo e reiniciar sua própria história.

Nesse sentido, eu fico muito feliz que a série realmente consegue balancear seu humor com os momentos dramáticos – ainda mais levando em conta que a Marvel Studios tem um sério problema com isso, vide produções como Doutor EstranhoHomem de Ferro 3. Hiddleston – que também atua como produtor executivo da série – tem aqui a chance de transformar seu personagem em algo mais que um vilão carismático e divertido.

De muitas formas, esse é o maior trunfo para Loki e seus fãs. E é muito interessante que essa seja a primeira série da Marvel Studios no Disney+ que não tenha dois ou mais protagonistas. Alguns coadjuvantes se destacam (falaremos deles adiante), mas o foco está em Loki – e isso vai ser muito importante a partir dos próximos capítulos, uma vez que teremos a apresentação de novas versões do Deus da Trapaça.

Isso corrobora para mostrar como ele pode até estar preso a um destino consolidado, mas não há limites para as suas várias formas e ilusões. E se uma trapaça ou mentira é apenas uma nova história, ele pode usar essas histórias para mudar a sua própria, moldando-a e se esquivando de tudo que já foi pré-planejado para ele. É a hora perfeita para ele se transformar no Deus das Histórias, descobrindo um poder maior que seu próprio irmão trovejante.

Um dos grandes destaques do episódio também é Mobius M. Mobius, o personagem vivido por Owen Wilson e que será a principal conexão entre o vilão e o AVT. Já no primeiro episódio, ele tem uma presença significativa ao demonstrar grande interesse pelo Deus da Trapaça – afinal de contas, está investigando um caso associado a uma versão da divindade que está à deriva no tempo.

Wilson não apenas é muito carismático como também tem uma química imediata com Hiddleston. Os dois fornecem uma dupla dinâmica que será bem interessante de acompanhar nos próximos episódios. Destaque também vai para Eugene Cordero, o recepcionista Casey, que oferece uma boa dose de alívio cômico quando aparece. A série ainda traz nomes de peso como Wunmi Mosaku Gugu Mbatha-Raw, mas que ainda não tiveram muito foco.

No geral, Loki encantou demais nesse primeiro episódio. Reitero o comentário sobre ser o melhor piloto de todas as produções do Universo Cinematográfico da Marvel – é um episódio focado, comedido e até mesmo emocionante, já mostrando toda a força do Deus da Trapaça e como isso deverá ser ainda melhor explorado nos próximos capítulos – que serão cinco, contando a partir da próxima quarta-feira.

A série já estabeleceu muito bem seu próprio caminho, justamente por apresentar essa ideia de livre-arbítrio como o tema principal. Loki não está apenas lutando para se ver livre das amarras do AVT, ele também está tentando criar sua própria jornada longe de um destino pré-estabelecido. E a julgar pelas informações dadas no episódio, essa sua libertação vai trazer grandes consequências para o MCU como um todo.

De acordo com o comercial do AVT, há um único universo, a “Linha Temporal Sagrada“. Porém, nós já sabemos que próximas produções da Marvel Studios, como What If…? Doutor Estranho no Multiverso da Loucura vão explorar mais do conceito de Multiverso. Ou seja, o que quer que Loki vá fazer na Agência de Variação Temporal, certamente não será nada bonito para essa “ordem perfeita” do universo e do tempo.

Loki está disponível no Disney+, com episódios novos saindo todas as quartas-feiras. Caso você ainda não assine o serviço, pode fazer isso aqui.

Abaixo, confira também os easter-eggs e referências do episódio: