Quake: por que você deveria jogar o clássico dos jogos de tiro

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Quake: por que você deveria jogar o clássico dos jogos de tiro

Por Arthur Eloi

Quando se trata de clássicos dos FPS, Quake é um dos nomes obrigatórios, mas o clássico da id Software não tem mais tanta presença quanto Doom ou Wolfenstein. Felizmente, isso pode estar próximo de mudar, e o primeiro passo foi dado na forma de uma remasterização do game original, lançada para celebrar os 25 anos da franquia.

Agora é a hora perfeita para revisitar Quake, ou então se aventurar por dimensões sombrias pela primeira vez!

Como Quake mudou a indústria de games

O que torna Quake tão importante? Bom, é o FPS que simplesmente mudou tudo quando foi lançado em 1996. Na época, a id Software já era um dos estúdios mais conhecidos da indústria, por terem revolucionado com Wolfenstein 3D (1992) e Doom (1993), dois dos mais marcantes e impressionantes shooters. Acontece que nenhum dos dois era verdadeiramente renderizado em 3D, apenas utilizam truques para criar essa ilusão tridimensional, visto que a tecnologia da época ainda não era capaz de entregar esse tipo de visual. Na metade dos anos 90, após Doom se tornar um verdadeiro fenômeno cultural com dois jogos que eram sucesso de vendas, era a hora de dar o próximo passo.

Desde a sua concepção, Quake era ridiculamente ambicioso. Com a maestria de John Carmack, o lendário programador por trás do motor gráfico de Doom, a id Software queria arrastar a indústria dos games para a era 3D, com um shooter que não fosse só visualmente impressionante, mas também muito rápido e violento.

O processo, como é narrado no excelente livro Masters of Doom, de David Kushner, foi praticamente um ponto de ruptura entre os desenvolvedores, e criou uma intriga entre Carmack e John Romero, cofundador do estúdio e a mente por trás do design de fases e personalidade dos shooters anteriores da casa. Atingir a velocidade, a brutalidade e a qualidade que o projeto pedia no limitado hardware da época exigiu investimento emocional, de tempo e dinheiro de todos os participantes, com intensas brigas, sessões de programação madrugada adentro e adiamentos.

O desenvolvimento de Quake foi tão intenso que causou a ruptura entre o designer John Romero (esquerda) e o programador John Carmack (direita), duas das maiores personalidades da indústria de games

Tudo valeu a pena quando Quake foi mostrado ao mundo. Simplesmente não existia nada parecido em termos de fidelidade visual. A partir daquele momento, a indústria de games entrava na sua fase 3D, com avanços gráficos apenas aumentando a cada ano. O motor gráfico desenvolvido por John Romero era rápido, leve e fácil de programar, ao ponto de que foi licenciado para muitos outros projetos – e até hoje perdura, tendo sido usado como base para o motor de Half-Life (1998), e integrando o DNA de títulos modernos, como Titanfall (2014) e toda a franquia Call of Duty.

Quake forçou a indústria a se modernizar, abraçando também as partidas multiplayer online, algo que não era exatamente comum na época. Doom já havia mostrado o potencial de um modo mata-mata (ou Deathmatch), com muitas disputas em LAN. Seu sucessor, porém, queria criar competições sangrentas pelo mundo, e tirou isso de letra.

Mesmo com o hardware precário e as lerdas conexões da metade dos anos 1990, o shooter conectou jogadores de todas as partes do globo em intensas sessões virtuais. Inclusive, foi o sucesso do modo multiplayer de Quake que criou os eSports, visto que as primeiras competições de peso, com público e prêmios grandiosos, aconteceram dentro do jogo. Um dos torneios mais memoráveis do game aconteceu logo em 1997, quando um jogador norte-americano conhecido como Thresh voltou para casa com a Ferrari de John Carmack como prêmio.

Quake era tão grande nos Estados Unidos que até ganhou propagandas bizarras assim, com o título de “O jogo mais importante na história do PC”. Não era mentira!

Criaturas horrendas e tiroteios intensos: Por que você deveria jogar Quake

Não é só do passado que vive Quake. Até os dias de hoje, o clássico continua como um excelente shooter, cheio de personalidade. Muito disso se dá pela ambientação única e sombria, que acompanha um fuzileiro sem nome viajando entre portais interdimensionais – chamados de Slipgates – para combater todo tipo de criatura grotesca.

Pelo apego dos desenvolvedores por Dungeons & Dragons, Quake é uma mistura entre horror lovecraftiano com castelos góticos. Isso significa combater monstros horrendos em enormes ambientes medievais, com armamentos que variam entre armas humanas como escopetas e lança-foguetes, e também equipamentos bizarros, como um rifle que atira pregos.

Quake é marcado por corredores sombrios e criaturas grotescas

O game foi tão influente para o gênero que continua moderno e satisfatório até hoje, com fases curtas, repletas de monstros e segredos. A remasterização, feita pela Nightdive Studios em parceria com a MachineGames (Wolfenstein: The New Order), apenas dá o tapa necessário nas texturas e controles, que garantem que Quake possa ser aproveitado por quem não é tão chegado em experiências retrô.

Além de uma jogabilidade intensa, o jogo entrega boa atmosfera de terror, ressaltada pela marcante trilha sonora industrial por Trent Reznor, do Nine Inch Nails. O músico, que é fã assumido de Doom, cria uma paisagem sonora desconfortável a partir de ruídos metálicos e guitarras distorcidas, que contrasta muito bem com todo o frenesi da violência na tela, e dá a personalidade única que nenhum outro shooter – nem mesmo as sequências – conseguiu atingir até hoje.


A excelente trilha sonora de Quake por Trent Reznor (Nine Inch Nails) está disponível no Spotify, além de ter sido inclusa na remasterização do clássico

Com a remasterização tendo sido lançada para todas as plataformas, Quake se torna acessível não só para os jogadores de PC, mas sim essencial para todo entusiasta de FPS. É um prato cheio para quem quer entender uma das peças fundamentais do gênero, e também descobrir um dos shooters mais únicos, divertidos e influentes da história dos games.

Qual o futuro de Quake?

Último game da franquia, Quake Champions diverte, mas não conseguiu resgatar a saga – já a remasterização pode mudar isso

A remasterização também pode ser um ponto de retomada para a franquia. Diferente de Doom e Wolfenstein, que tiveram reboots de sucesso nos últimos anos, Quake anda em hiato – pelo menos o seu lado single-player. O último título foi Quake Champions, um shooter multiplayer free-to-play de 2017 bastante injustiçado, que não conseguiu reviver a saga, apesar de ser muito divertido. Antes disso, o último capítulo havia sido Quake 4, de 2005, que também não foi bem recebido.

Isso pode mudar em breve. A MachineGames, que trouxe Wolfenstein de volta a vida em The New Order (2014) e The New Colossus (2017), pode ser a responsável por um reboot, e já ensaia a ideia: além de terem colaborado na remasterização, o estúdio desenvolveu um capítulo inédito para o clássico. Assim, não será surpreendente se, daqui a uns anos, Quake voltar com um reboot de peso, feito com o carinho e a qualidade que o shooter merece.

A MachineGames já conseguiu reviver Wolfenstein com dois jogos muito bem recebidos – e agora o estúdio está de olho em Quake

Quake está disponível para PC (Windows) e para os consoles Xbox One e Series X | S, PlayStation 4 e PlayStation 5, e Nintendo Switch. A remasterização do clássico também integra o catálogo do Xbox Game Pass nos consoles e PC.

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