[Crítica] O Céu da Meia-Noite: Ficção Científica da Netflix é tão vazia quanto a imensidão do espaço

Capa da Publicação

[Crítica] O Céu da Meia-Noite: Ficção Científica da Netflix é tão vazia quanto a imensidão do espaço

Por Gabriel Mattos

Talvez o título misterioso e o protagonismo de George Clooney chamem sua atenção para O Céu da Meia-Noite, novo longa da Netflix.

A produção tenta seguir a receita para um bom filme de ficção científica, trazendo muitos dos ingredientes mais adorados pelos fãs. Infelizmente, parece que esqueceram essa receita no forno. O resultado pode ter uma aparência agradável, mas a evidente falta de sabor deixa muito a desejar.

Ficha Técnica

Título: O Céu da Meia-Noite

 

Direção: George Clooney

 

Roteiro: Mark L. Smith

 

Ano: 2020

 

Data de lançamento: 11 de dezembro (Netflix)

 

Duração: 118 minutos

 

Sinopse: Um homem na Terra tenta impedir que astronautas retornem para um planeta morto.

A última esperança da Terra

A premissa do filme é bem interessante. George Clooney é Augustine — um cientista de meia-idade que descobriu uma lua habitável de Júpiter. Há uma expedição voltando desse planeta, mas ele quer impedir urgentemente seu retorno. Isso porque alguma coisa está se espalhando pelo ar do planeta que causou uma extinção em massa da raça humana.

Preso na Antártida em um dos últimos laboratórios ainda funcionais na Terra, Augustine precisa encontrar algum meio de se comunicar com a tripulação ainda no espaço. O problema é que ele encontra uma menina que ficou para trás na evacuação do prédio. A visão da garota faz com que ele repense todas as decisões de sua vida.

A princípio parece que o roteiro deixa muitos ganchos para desenvolver relacionamentos bastante emotivos. Ainda mais se considerarmos que a tripulação espacial é bem restrita, o que daria mais oportunidade para vermos interações curiosas. Infelizmente o filme acaba se enrolando por dois grandes motivos.

Coração de gelo

O primeiro é que não há muitos pontos de virada na narrativa para gerar expectativa no público. Os poucos momentos em que o filme tenta impressionar são telegrafados com tanta antecedência que não há surpresa ou ansiedade alguma pelo que está por vir. Pelo contrário, o que fica é um questionamento de quando a história vai decidir engrenar.

A premissa do filme é estendida até o final, sem grandes desenvolvimentos. É como se os roteiristas fizessem uma pergunta com muita margem para explicação e respondessem apenas com “sim” ou “não”.

Para piorar, grande parte dos personagens tem motivos razoáveis para esconder suas emoções. É até interessante tentar decifrar o que eles estão de fato sentindo, mas o filme passa tanto tempo tentando esconder os sentimentos dos personagens que o público não tem muitas oportunidades para criar vínculos com eles.

Isso é mais acentuado entre a relação de Augustine e a criança perdida. A criança não fala e o Augustine não sabe se expressar. No final, você tem apenas duas pessoas se encarando e nem o enredo, nem sua relação vão para a frente.

O Céu da Meia Noite tenta segurar suas cartas por tempo demais, esperando a hora certa de jogar. Mas quando ele decide jogar, já não importa mais. O jogo já foi perdido.

Salve George Clooney!

Apesar disso, preciso elogiar a atuação de todo o elenco, mas principalmente de George Clooney. Seu trabalho como ator e diretor do longa são excepcionais. Ele consegue extrair muito e entregar verdadeiro conflito mesmo quando o roteiro falha em entregar algo substancial. E seu trabalho como diretor, mesmo que por vezes passe despercebido, resulta em cenas espaciais muito bem coreografadas. Lindas de se ver.

Gostaria de ter tido mais oportunidades para me encantar pelo elenco espacial. Todos os atores parecem bem comprometidos com seu papel, mas não há muito que possam oferecer com personagens tão fechados. Alguns passam mais tempo interagindo com hologramas de seu passado do que contracenando com os demais tripulantes da estação.

O tempo de tela não ajuda. Passamos tanto tempo tentando nos conectar com Augustine e a garota que os poucos minutos de interlúdio com o elenco espacial parecem uma distração. Especialmente quando eles gastam a maior parte desse tempo com atividades rotineiras de um astronauta entediado.

Ainda assim, Felicity Jones merece aplausos pela cientista Sullivan. Sua personagem é a mais apaixonada pelo que faz e tenta manter algum nível de relação com todos tripulantes, então temos várias chances de vê-la brilhando. Não é o seu melhor papel, mas ainda assim se destaca.

Conclusão

Nem a reviravolta final, que consegue ressignificar praticamente toda narrativa, foi o suficiente para tirar o gosto amargo de quase duas horas sem muita emoção. O filme é competente em trazer uma fotografia de cair o queixo, tem uma atuação interessante, traz uma premissa cativante, mas nada disso adianta quando a história em um nível primordial não tem alma.

Filmes podem evocar os mais diversos tipos de sentimentos, mas O Céu da Meia-Noite acaba sendo tão vazio quanto o vasto espaço que ele representa. Essa é uma produção que sabe onde quer chegar, mas chega do jeito mais sem graça possível. A mensagem de esperança que George Clooney tenta explorar nesse filme é passada de maneira muito mais eficiente em títulos mais humildes como Soul, que não perdem seu tempo numa tentativa fútil de ser pretensioso.

Fique com curiosidades sobre o filme: