Conheça NINJIN, a animação nacional que mistura cultura brasileira e oriental

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Conheça NINJIN, a animação nacional que mistura cultura brasileira e oriental

Por Camila Sousa

Não há dúvidas de que a cultura oriental faz parte do imaginário de muitos brasileiros, especialmente pela popularidade de obras como animes e mangás ao longo de décadas. Exatamente por isso é muito curioso assistir aos primeiros episódios de NINJIN, série brasileira disponível no HBO Max e transmitida no Cartoon.

Já nos primeiros minutos, o desenho deixa claro que é uma mistura de culturas, algo que desperta, ao mesmo tempo, nostalgia e reconhecimento. Em entrevista à Legião dos Heróis, Roger Keesse, um dos criadores da animação, falou sobre o processo de escolher seguir por esse caminho e como tudo virou uma “mistureba” criativa:

“NINJIN é um das séries estandartes do que chamamos de BRANIME, que alguns dizem ser um dos movimentos antropofágicos mais relevantes desde Manguebeat (ou até mesmo o Tropicália). Já outras pessoas automaticamente comparam a um belo Sushi com Goiabada. Deixamos a escolha da melhor definição para vocês. Porque, para nós, o divertido é descobrir o que sai dessa mistureba. Principalmente, pois vemos uma ligação muito clara do jeito brasileiro de ser com o mundo intenso, barulhento e plástico dos Animes que gostamos. Uma vez que decidimos seguir por esse caminho, as soluções não param de vir, quase que naturalmente. Pegamos esses recursos visuais/estilo narrativo e intensificamos com essa brasilidade, que vai desde o clássico HU3HU3 até um jeito tremendão dos anos 60, que vemos, ouvimos e vivenciamos no nosso dia-a-dia. O resultado é esse universo ‘moleque piranha’ cheio de malemolência que vocês encontram em NINJIN”.

E um dos recursos que ajuda a dar o tom de tudo isso são as vozes originais que, em diversos momentos, utilizam gírias e falas tipicamente brasileiras para contar a história do protagonista, um coelho que deseja se tornar um grande mestre ninja, assim como seus antepassados costumavam ser. Keesse ressalta a qualidade do trabalho da equipe e diz que algumas expressões foram até criadas para a produção:

“A galera consegue dar brilho e dinamismo até ao mais desafiador dos roteiros. Na nossa opinião, essa velocidade e intensidade que as atuações carregam trazem para NINJIN um verdadeiro ‘tchan’ brasileiro. As gírias e expressões são só confete extra de carinho, tanto que passa batido que várias delas foram inventadas para a série. Talvez falando assim até parece algo fácil, mas podemos dar (pelo menos 87,4% de) certeza que não é. (risos)”.

Quem comanda as vozes originais de NINJIN é Marina Santana, que também faz a voz do personagem Jejum. Além dela, Carol Valença é Ninjin, Luiza Porto faz a voz da raposa Akai e Vii Zedek é o sapo (preguiçoso) e mágico Flink.

Para adultos e crianças

NINJIN mistura culturas em um só desenho

Quem acompanha os desenhos da HBO Max e do Cartoon sabe que há uma mistura entre conteúdos focados para crianças, projetos 100% para adultos e outros que agradam a todos os públicos. NINJIN se encaixa na última categoria, misturando um humor rápido que faz sentido para as novas gerações, mas também funciona para o adulto que pode estar assistindo com elas. Para Keese, foi importante pensar numa série que pudesse falar de igual para igual com os espectadores do Cartoon, incluindo os adultos como parte das brincadeiras:

“No caso do NINJIN buscamos algo que realmente se conecte com a molecada dos dias de hoje. Algo que tente se comunicar olho no olho. Não de cima para baixo, como os adultos costumam fazer. Nossas aventuras não são histórias de amadurecimento ou repletas de referências dos anos 80 e 90. São crônicas da infância, que enaltecem esquisitices, relacionamento intenso com cultura pop, liberdades individuais, brincar de lutinha, poder da amizade e confronto com toda e qualquer autoridade (exceto nossas mães). Acreditamos que no nosso caso em especial, não pegamos os adultos ao trazer piadas para eles, mas fazendo deles a piada. Imaturos emocionalmente e problemáticos, nossos personagens não-crianças são verdadeiros motivo de chacota, como qualquer pessoa que já tenha carteira de trabalho”.

Além da mistura de elementos, NINJIN também é a adaptação de um jogo, e a escolha de contar essa história em uma animação permitiu trazer vários elementos que começaram a franquia. “O verdadeiro Combo-Breaker que a Animação nos permite é a oportunidade de absorver os elementos visuais de NINJIN: CLASH OF CARROTS, jogo que deu origem a série. Lutas frenéticas, brilho de dano, barras de energia e recursos gráficos de New Enemy deixam claro que ambas as obras compartilham do mesmo universo narrativo, mesmo sendo de linguagens completamente diferentes”, completa o criador.

Roger Keesse, um dos criadores de NINJIN

Animação em território nacional

NINJIN é também resultado de um investimento maior em produções locais, como explica Marina Filipe, Gerente Sr. de Produções Originais de Warner Media Kids & Family, ressaltando a importância de fazer isso para as novas gerações.

“Investir em conteúdo local não é só apresentar e fortalecer nossa cultura, mas também, do ponto de vista econômico, investir em um mercado de extrema relevância e que gera centenas de milhares de empregos no país. Dentro do universo infantil, investir em conteúdo é investir no futuro. A História da Humanidade se deu por meio da contação de histórias e as histórias que escolhemos contar hoje ajudam a moldar as futuras gerações e como elas lidam com temas tão urgentes quanto diversidade e representatividade racial, cultural, de gênero”.

Quem cresceu nos anos 80 e 90 sabe também que, por muito tempo, produções feitas no Brasil eram consideradas como materiais de menor qualidade em comparação com obras de outros países. Felizmente isso está mudando e Filipe ressalta a importância do streaming nesse processo: “Acredito que vivemos hoje o melhor momento para a produção de conteúdo dito “local”. Vivemos um contexto histórico de boom no volume de oferta de conteúdo – muito por conta do advento do streaming. Como audiência, estamos sempre em busca de boas histórias independentemente de onde elas venham. Hoje assistimos a séries de países que antes nem imaginávamos ser possível assistir”.

Marina Filipe: orgulho de levar animações brasileiras para outros países

O lançamento de produções nacionais em plataformas de streaming também permite o oposto: além dos brasileiros acompanharem mais do que é feito no país em termos de cultura pop, obras feitas aqui são disponibilizadas em diversos territórios, levando histórias com a cara brasileira para vários públicos ao redor do mundo, como já acontece com as animações Irmão do Jorel e Any Malu Show.

“Nosso objetivo é sempre trazer elementos da nossa cultura dentro de narrativas globais. Somos uma equipe brasileira trabalhando com criadores e produtores brasileiros; imprimir nossa cultura é um processo orgânico, natural. Não tem como negar o orgulho de podermos de alguma maneira impactar crianças que vivem em contextos completamente diferentes do nosso; e também de podermos apresentar os talentos locais para o mundo”, finaliza.

NINJIN tem cinco episódios disponíveis atualmente no HBO Max e a animação é exibida também todas as segundas-feiras, às 17h45, no Cartoon Network.

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