Invocação do Mal 3: Entenda o caso real por trás do filme

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Invocação do Mal 3: Entenda o caso real por trás do filme

Por Gus Fiaux

O terceiro filme da saga principal de Invocação do Mal acaba de chegar aos cinemas do mundo todo. Com o título de A Ordem do Demônio, o longa tenta adaptar uma das histórias mais macabras e insólitas envolvendo o casal de investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren. E é claro que, assim como outros filmes da saga, o longa usa apenas partes da história real para construir sua própria narrativa fantástica de horror, mas ainda vale a pena conhecer um pouco sobre o caso por trás do filme.

A história é centrada em Arne Cheyenne Johnson, um jovem morador da cidade de Brookfield, no Connecticut, que em 1981 foi declarado culpado de ter matado o proprietário do local onde morava com sua namorada. Porém, o caso ganhou grande repercussão mundial, por ter sido a primeira vez na história dos Estados Unidos que a defesa de um réu tentou alegar possessão demoníaca para garantir a inocência. Aqui, você vai conhecer um pouco mais sobre o caso real que inspirou esse novo capítulo do “Invocaverso“:

O caso real

O caso judicial começou oficialmente no dia 16 de fevereiro de 1981. O jovem Arne Cheyenne Johnson estava em casa junto com sua namorada, Debbie Glatzel, acompanhados pela irmã e prima de Debbie, Wanda e Mary Glatzel, respectivamente. Alan Bono, que era amigo próximo do casal e proprietário da casa onde os dois moravam, trouxe comida e passou a tarde com o grupo, bebendo muito e ficando cada vez mais descontrolado.

Bono administrava um canil na casa onde Arne e Debbie moravam e, durante o dia, todos os cinco foram até o local para conversar. Porém, o comportamento de Alan se tornou cada vez mais errático. Quando Debbie retirou sua irmã do local, Bono tentou agarrar Mary Glatzel, o que gerou uma discussão e um tumulto ainda maior entre todos. Foi ali que Arne Johnson sacou um canivete de bolso e assassinou Alan Bono, com cinco lacerações profundas.

Após o crime, Johnson foi encontrado em uma ponte, a três quilômetros de distância da casa onde morava, coberto de sangue. Esse foi o primeiro assassinato da história da cidade de Brookfield, Connecticut. No dia do homicídio, Arne se declarou culpado e foi levado ao Centro Correcional de Bridgeport. Porém, no dia seguinte, após uma visita de Ed e Lorraine Warren, ele declarou inocência com uma nova história.

O papel de Ed e Lorraine Warren

A participação de Ed e Lorraine Warren no caso deriva de antes mesmo do assassinato. O irmão mais jovem de Debbie, David Glatzel, supostamente teria sido possuído por um demônio quando ele e sua família se mudaram para uma nova casa em Brookfield. David alegava ver um homem que estava sempre o atormentando e perseguindo. Como último recurso, os pais de David contataram os Warren, que realizaram múltiplas sessões de exorcismo.

Em uma dessas sessões, Arne Johnson estava presente e seria ali que, de acordo com ele e os Warren, o demônio de David teria “largado” o menino e se alojado em seu corpo. A história é muito nebulosa e rodeada de controvérsias, já que o irmão de David e Debbie, Carl Glatzel contou ao Associated Press em 2017 que toda a história havia sido manipulada e fabricada por Ed e Lorraine, que pretendiam ganhar fama em cima de sua família.

Carl, inclusive, chegou a processar o casal e o autor Gerald Brittle (responsável por uma extensa biografia sobre a vida do casal) em 2006. O livro de Brittle, que tinha sido republicado naquele ano, foi tirado de circulação por conter detalhes sobre a história de David Glatzel. Carl afirmava que o irmão sofria com alucinações e distúrbios psicológicos severos desde que era criança.

No dia seguinte à prisão de Arne, Lorraine Warren contatou a mídia e a polícia para declarar que o homem havia cometido um crime por estar sob a influência de um demônio. Ela e seu marido foram as principais testemunhas da defesa, no caso que ficou conhecido como “Julgamento do Assassinato Demoníaco”, ou também “The Devil Made Me Do It” (“O Diabo me Mandou”), nome que acabou sendo usado no título do terceiro filme.

A derrota nos tribunais

Ao longo dos meses seguintes, o caso ganhou uma repercussão intensa na mídia norte-americana, principalmente por conta da participação de Ed e Lorraine, que na época já eram bem reconhecidos. Os agentes do casal, aliás, estavam ativos durante todo o julgamento. Matérias da época comprovam que eles prometiam palestras, livros e até mesmo a produção de um filme trazendo detalhes dos “bastidores” do caso.

Por outro lado, Martin Minnella continuava atuando como o principal advogado de Arne Cheyenne Johnson e fazia o trabalho pesado para sustentar a tese da defesa. Ele chegou a se encontrar com exorcistas para conseguir novas testemunhas para o caso, além de ter conversado com advogados ingleses que estiveram em casos similares no país europeu. Várias vezes, ele foi advertido de como seria difícil convencer o júri a respeito da possessão.

O julgamento começou no dia 28 de outubro de 1981. Inicialmente, Arne Johnson se declarou culpado sobre a justificativa de possessão demoníaca, o que teoricamente funcionaria como uma confissão de inocência. Contudo, o juiz responsável pelo caso, Robert Callahan, negou a declaração dizendo que não havia provas concretas e reais que poderiam atestar a possessão.

Assim, a defesa mudou o argumento e decidiu atestar legítima defesa. Os jurados passaram três dias deliberando com base nas provas e argumentos e chegaram com a conclusão de que Arne era culpado. Em 24 de novembro de 1981, Arne Cheyenne Johnson foi sentenciado de dez a vinte anos de prisão por homicídio culposo. Contudo, ele só passou cinco anos na prisão e foi solto por bom comportamento.

Consequências

Tudo isso levou a uma série de consequências positivas e negativas, tanto para Arne quanto para os Warren. Para começo de conversa, o casal de demonologistas foi destaque de um filme televisivo chamado The Demon Murder Case, lançado em 1983 pela NBC. O longa trazia entrevistas e histórias do caso real, ao mesmo tempo em que fazia reconstruções dramatizadas do crime e da possessão demoníaca de Arne.

Foi por conta desse caso que Gerald Brittle lançou o livro The Devil in Connecticut, que tornou os Warren ainda mais famosos do que já eram. O livro foi rodeado de polêmicas desde o início, já que o próprio pai de David, Carl Glatzel Sr., chegou a dizer que nunca sequer falou sobre o filho estar possuído pelo demônio – e isso acabou gerando mais polêmica durante a republicação da obra, em 2006.

Em sua defesa, Lorraine Warren passou a vida alegando a veracidade da história. Ela chegou a citar os seis padres chamados para as sessões de exorcismo com David Glatzel, todos confirmando a suposta possessão e contribuindo com a versão dos Warren. Arne Johnson e a irmã de David, Debbie Glatzel, se casaram e até hoje são conhecidos por defender a participação dos Warren no evento.

O que é fato e o que é ficção

Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio pega boa parte da história e adiciona uma camada especial de novidade para fazer um filme de terror com sustos e momentos de tensão. O começo do longa tenta recriar a trama do exorcismo de David Glatzel – embora aqui só vejamos ele, sua irmã Debbie e seus pais, sem a presença de outros familiares como Carl, Mary e Wanda.

A cena do assassinato em si também deixa de lado a presença das parentes de Debbie. No longa, Arne Cheyenne Johnson mata Bruno Sauls (que é inspirado em Alan Bono, mas teve seu nome modificado provavelmente para que o filme não tivesse problemas legais com a família da vítima) após ter alucinações que mostravam o demônio o perseguindo, após já ter sido possuído.

Até mesmo a história da suposta possessão passa por grandes modificações. No caso real, o demônio seria uma entidade presente na casa recém-alugada pelos Glatzel em Brookfield, que vivia em um poço abandonado. Já no filme, trata-se de uma maldição criada por uma feiticeira ocultista que havia feito um pacto com um demônio e precisava oferecer três almas em troca da sua.

Assim sendo, toda a investigação dos Warren no filme se torna parte da ficção estabelecida pelo roteirista David Leslie Johnson-McGoldrick e o diretor Michael Chaves. O filme só volta “aos fatos” em seus últimos segundos, quando Arne é declarado culpado e sentenciado à prisão. Como todos os outros filmes da franquia, é válido lembrar que o rótulo “baseado em fatos” não vale para a história completa…

Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio está em cartaz nos cinemas brasileiros.

Abaixo, confira tudo o que você precisa notar no primeiro trailer do filme: