[Indie+#2] Review combo de metroidvanias: O brasileiro Unsighted e o chinês F.I.S.T.

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[Indie+#2] Review combo de metroidvanias: O brasileiro Unsighted e o chinês F.I.S.T.

Por Márcio Jangarélli

Que tal começar o mês com dois metroidvanias vindos de fora do eixo EUA-UK-Japão? Em setembro, duas produções do gênero roubaram nossa atenção: o brasileiro Unsighted, da Pixel Punk, e o chinês F.I.S.T.: Forged In Shadow Torch, da TiGames.

Na INDIE+ desta semana, nossa equipe fez uma análise destes dois jogos; será que eles são tão bons quanto os mais “tradicionais”? E trouxemos também algumas indi(e)cações para aumentar sua biblioteca de jogos com qualidade!

UNSIGHTED

POR Arthur Eloi

Ao longo da última década, a cena indie brasileira mostrou sua força e se estabeleceu com títulos como Chroma Squad, Aritana e a Pena da Harpia, Horizon Chase, entre muitos outros. Espalhados por todo o país, os desenvolvedores daqui não ficam devendo em nada aos games gringos, e o recém-lançado Unsighted é mais uma prova disso.

A obra do Studio Pixel Punk, da dupla Fernanda Dias e Tiani Pixel, é um metroidvania impressionante em todos os sentidos, especialmente por unir uma jogabilidade sempre variada e divertida, com uma trama sobre a inevitabilidade do fim e catástrofe ecológica.

Unsighted é ambientado em um mundo marcado pela vitória das máquinas na guerra contra os humanos. O problema é que a batalha deixou suas cicatrizes, e os robôs lentamente passam a perder sua consciência quando o Anima – elemento que lhes garante autonomia – se torna escasso após ser monopolizado por uma corporação. Na cidade de Arcadia, a guerreira Alma desperta sem memória, e precisa correr contra o tempo para reverter a situação e salvar os androides da insanidade.

Unsighted pede que você corra contra o inevitável

O que consagra o game é saber manifestar essa ansiedade apocalíptica além da temática, transformando em parte fundamental das mecânicas. Arcadia é um lugar impiedoso, e Alma – assim como o jogador – precisa aprender como sobreviver e se aperfeiçoar para melhorar. O problema é a constante ameaça do fim, tanto dos demais quanto da própria jornada.

A aventura começa com quase 300 horas restantes antes da protagonista perder a consciência e se tornar uma criatura Unsighted, como são chamadas as máquinas que operam em surtos cegos de violência. Esse tempo pode ser artificial (ao invés de 300 horas reais), mas a pressão de lutar contra o relógio é bastante real.

Cada confronto perdido, cada área mal explorada, cada puzzle com soluções complicadas te rouba minutos preciosos na corrida pela salvação, e a ansiedade se torna cada vez mais palpável, já que toda nova área – ou mesmo a tela de pause – te lembra que seu tempo está prestes a acabar.

Alma ainda tem sorte: muitos dos NPCs não têm uma fração das horas de vida que ela. Toda interação traz o relógio “biológico” dos coloridos e amigáveis robôs que a protagonista encontra pela jornada. Alguns vão viver por mais centenas de horas, mas outros já estão perto de bater suas botas metálicas. Há recursos para ganhar mais tempo para eles, através de preciosos restos de Anima escondidos pelo mundo, mas dificilmente será possível salvar a todos de primeira – e essa é justamente a ideia.

A jornada de Alma também é motivada por questões pessoais, como encontrar Raquel, figura importante de seu passado esquecido

Entre batalhas e explorações, o game questiona a todo minuto o que – e quem – é mais importante ao jogador. Considerando que o elenco é bastante memorável e único, com robôs dos mais diferentes visuais, gêneros e expressões, é complicado não criar uma conexão com alguns dos NPCs, o que apenas aumenta os riscos de deixar o relógio se esvair. Buscar formas de aumentar essa duração têm consequências, como explorar mais a fundo os mapas, com tempo precioso que pode custar a vida de uma ou outra máquina inocente.

Até há um modo de exploração, que retira o limite de tempo e é excelente para saborear tudo que o game oferece, mas é esse soco emocional que engrandece a obra. Unsighted quer que o jogador lide com a iminência do fim, tanto a próprio quanto daqueles ao seu redor.

Não é só de uma narrativa trágica, melancólica e frequentemente romântica que o indie vive. A jogabilidade é um espetáculo à parte. Para redistribuir Anima para os demais robôs, Alma precisa forjar uma poderosa arma a partir de cinco fragmentos de meteoro, espalhados pelo mapa e guardados por chefões poderosos. Ao melhor estilo The Legend of Zelda: Breath of the Wild, você viaja por cada canto desse universo em busca de colecionar todas as partes do item que pode mudar o destino do mundo.

Com visão isométrica, o game é repleto de combates intensos contra máquinas que abraçaram a insanidade. Alma ataca com armas corpo-a-corpo e também à distância, além de contar com esquivas e a habilidade de bloquear ataques inimigos, que pode criar aberturas para revidar com golpes críticos.

Unsighted enche os olhos com cenários maravilhosos!

São mecânicas simples, sem pedir que o jogador memorize comandos complexos, mas complicadas o bastante para oferecer certo desafio na jornada para dominá-las. Muito disso se dá pela grande variedade de rivais, com diferentes padrões de ataque para testar sua eficiência nos bloqueios, e boa administração da barra de vigor. Cada golpe, defesa e esquiva come um pouco de energia, então é preciso ficar atento para não baixar a guarda.

De início, o combate de Unsighted é levemente repetitivo, mas cresce ao decorrer da jornada quando o jogador passa a descobrir novas habilidades, como um peão gigante, ou então uma pistola-gancho. Em todo caso, isso não impede que as lutas sejam desafiadoras, intensas e muito divertidas, especialmente contra chefões, que pedem dedicação redobrada na esquiva e nos bloqueios. Claro, você vai morrer muitas vezes, mas raramente se tornará uma experiência frustrante, com opções para contornar momentos complicados, e também dicas para garantir que você esteja usando seus preciosos minutos de vida na direção correta.

Nota: 9/10

Unsighted é movido pela empatia, tanto na narrativa, que pede que você corra contra o inevitável para resgatar um mundo devastado e os carismáticos personagens que lá habitam, quanto na mecânica, que é receptiva para novatos sem abrir mão dos desafios ou se tornar condescendente com os veteranos.

 

Isso faz com que seja a introdução perfeita aos metroidvania, entregando todo o sabor da exploração, da evolução gradual e dos chefões memoráveis, ao mesmo tempo que alerta sobre crises ambientais e o mal da ganância e do ódio, pedindo que o jogador aprecie aqueles ao seu redor enquanto ainda há tempo.

Unsighted está disponível para os consoles Xbox One, Series S | X, PlayStation 4, Nintendo Switch, e PC. O game também integra o catálogo do Xbox Game Pass e pode ser jogado em aparelhos Android e iOS graças ao xCloud.

F.I.S.T.: FORGED IN SHADOW TORCH

POR Márcio Jangarélli

F.I.S.T. é um daqueles títulos que, mesmo sendo indie, rouba a atenção em eventos lotados de AAA. Esse game faz parte do China Hero Project – programa de incentivo da Sony e várias outras empresas para impulsionar a produção dos estúdios chineses. Ele é um metroidvania puro, sem seguir o soulslike de Hollow Knight, mas ainda desafiador com seus puzzles e plataforma. 

Esse game tem tudo o que um metroidvania precisa para ser incrível: um mundo enorme, encantador e conectado, personagens carismáticos, trilha sonora de primeira e uma direção de arte absurda, apostando no urbano e “dieselpunk”.

A temática noir, de histórias de detetives e veteranos de guerra aposentados, é o motor desse universo, mas tudo isso vivido por animais. Tem um quê do icônico Blacksad, mas os personagens são mais animalescos (ou robóticos) e menos humanizados. Além disso, o game bebe muito das raízes do gênero – Metroid e Castlevania – e traz sim algumas inspirações e até referências diretas a Hollow Knight.

Mesmo com tanta mistura, F.I.S.T. ainda consegue ser original. Seu sistema de batalha é mais baseado no corpo-a-corpo pesado e lento do que em tiros e rapidez. Não há uma variedade tão grande de armas e skills, mas as que estão ali são suficientes para te envolver no combate e te fazer querer dominar todos os combos.

Os pontos altos de F.I.S.T. são, sem dúvida, a direção de arte, a ambientação e o combate. Lutar com um coelho veterano de guerra, usando um braço mecânico gigante, nas entranhas de uma cidade neon. é maravilhoso. Tudo isso com um pouco de jazz tocando aqui e ali.

Porém, falta um pouco de pluralidade nos cenários. Por se passar em uma cidade e seu subterrâneo, não há grandes mudanças entre as áreas. Além disso, os inimigos são quase todos bucha de canhão apenas e o roteiro é mediano, seguro demais para um universo tão rico. 

Nota: 7,5/10

Não se engane: ainda que as críticas pareçam pesadas, nada disso tira o charme e a qualidade do game. A jornada do Rayton em Torch City vale ser jogada por qualquer fã de metroidvanias e é bem amigável para iniciantes nesse estilo.

 

F.I.S.T.: Forged In Shadow Torch é divertido, viciante e absolutamente envolvente.

F.I.S.T.: Forged In Shadow Torch foi lançado no dia 7 de Setembro e está disponível para PS4, PS5 e PC. E enquanto o game fica baixando aí, que tal conferir algumas indicações da nossa equipe?

LEGIÃO RECOMENDA

Entre lançamentos, títulos novos no Xbox Game Pass, e festivais com demos gratuitas, há muitos indies bons para explorar! Dessa vez, além de duas reviews carregadas, reunimos apenas alguns que merecem a sua atenção:

CONSCRIPT

POR Arthur Eloi

Jogos de terror podem vir em toda forma, tipo e tema. No caso de Conscript, que ganhou demo durante o evento virtual Steam Next Fest, seus horrores são moldados pela vida real. Obra de um único desenvolvedor – o australiano Jordan, de 24 anos -, é um game sobre a luta para sobreviver na trincheiras da Primeira Guerra Mundial.

Apesar de ser em visão isométrica, Conscript é um survival horror aos moldes de Resident Evil. Não espere sair atirando por aí: cada bala vale ouro, e o combate é travado e assustador. Além disso, é preciso encontrar itens especiais como chaves, e explorar cada canto dos bunkers e trincheiras repletas de todo tipo de desgraça do confronto.

Se não bastasse a experiência aterrorizante de ouvir respiração de máscaras de gás e ser atacado de surpresa por soldados inimigos, o game – em seu visual altamente pixelado e bruto – conta com cutscenes que evocam uma mistura da estranheza de Silent Hill com a tecnologia precária dos primeiros jogos de PC em 3D.

Conscript só chega em 2022, mas com certeza merece ficar no radar de todo fã de horror, Resident Evil ou histórias de guerra!

DELTARUNE

POR Gabriel Mattos

Quem adorou a jogabilidade subversiva de Undertale vai amar ainda mais Deltarune. A nova criação de Toby Fox se passa em um universo paralelo ao clássico moderno, trazendo velhos conhecidos de um jeito diferente que vai reconquistar os fãs mais fervorosos.

Como um RPG de turnos, você ainda precisa batalhar para avançar na aventura. Desta vez, além de controlar a protagonista, você ainda escolhe os golpes diversificados de sua equipe. Isto é, se eles escolherem te dar ouvidos.

Mas é claro, há sempre a opção de poupar seus inimigos e deixar surgir improváveis amizades. Quem sabem eles não retornam no futuro para ajudar quando você menos esperar?

Agora que a história recebeu seu segundo capítulo, gratuitamente, é o melhor momento para conhecer o universo de Deltarune! Se você não conhecia, dê uma chance: você não tem nada perder além da sua alma.

Deltarune está disponível gratuitamente para PC, Nintendo Switch e PlayStation 4.

Gostou dos jogos dessa semana? Tem algum indie que você gostaria de ver nesta coluna? Não deixe de comentar!

Tem algo vindo aí, mas é um segredo para todo mundo…

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