Homem-Aranha: Entenda por que o herói da Marvel é um dos maiores fracassos da Broadway

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Homem-Aranha: Entenda por que o herói da Marvel é um dos maiores fracassos da Broadway

Por Jaqueline Sousa

Você iria a um musical do Homem-Aranha? Não, você não leu errado. Pode até parecer brincadeira, mas o Homem-Aranha já teve um musical da Broadway para chamar de seu. Mas, apesar de ser um dos heróis mais queridos da Marvel, o amigão da vizinhança não se deu bem no teatro. Spider-Man: Turn Off the Dark (Homem-Aranha: Apague a Escuridão, em tradução livre) se consagrou como um dos maiores fracassos da cultura pop e entrou para a história da Broadway como um grande fiasco. 

O musical tinha tudo para dar certo: grandes nomes da indústria estavam envolvidos e o filme Homem-Aranha (2002), de Sam Raimi, tinha acabado de ser lançado. Então o que fez o musical da Broadway ser um fracasso? Vem com a gente que vamos te contar por que o herói da Marvel não conseguiu ser bem-sucedido nos palcos.

Onde tudo começou

Outdoor de divulgação de Spider-Man: Turn Off the Dark, em Nova York.

Foi em meados de 2002 que o musical Spider-Man: Turn Off the Dark começou a tomar forma. O anúncio aconteceu logo após o sucesso do longa-metragem Homem-Aranha, início da trilogia do herói nas telonas, dirigido por Sam Raimi. As expectativas estavam altas, já que a popularidade do herói na época poderia levar o grande público ao teatro, fazendo com que o musical da Broadway também conquistasse o coração dos fãs.

Além disso, as mentes por trás do musical eram nomes renomados na indústria: Julie Taymor, responsável pela prestigiada adaptação de O Rei Leão para os palcos, seria a diretora, o dramaturgo Glen Berger faria o roteiro e Bono Vox, astro da famosa banda irlandesa U2, escreveria as músicas da peça, juntamente com The Edge, guitarrista do U2.

O orçamento da produção de Spider-Man: Turn Off the Dark também foi ousado: o musical custou cerca de US$ 75 milhões, tornando-se um dos espetáculos mais caros da história da Broadway.

O encontro de Peter Parker com Aracne

A atriz Katrina Lenk como Aracne.

Quando Julie Taymor aceitou participar do projeto, ela tinha uma condição: que a história de Peter Parker se misturasse com a do mito grego de Aracne. Segundo a mitologia, Aracne era uma jovem tecelã que possuía habilidades extraordinárias para bordar e gostava de se exibir por isso. Até que Atena, deusa da sabedoria, desafiou a tecelã numa competição para descobrir quem bordava melhor. Após vencer a deusa no concurso, Aracne foi transformada em uma aranha.

Apesar das incertezas em relação ao desejo de Taymor, já que a única relação entre Aracne e Peter Parker era o animal aranha em si, a ideia foi para frente. O roteiro seguiu a história de origem clássica do Homem-Aranha, mas com Aracne como a grande vilã do herói. Na trama, o público ainda veria o relacionamento de Peter com Mary Jane e o vilão Duende Verde.

Outro ponto de preocupação envolvia a inexperiência de Bono e The Edge no universo da Broadway. No entanto, a falta de familiaridade não assustou os músicos, que resolveram seguir seus instintos, segundo informações da BBC

Por que o musical foi um fracasso?

A peça teatral possuía diversas acrobacias perigosas, e os atores eram sustentados por cabos.

Embora tenha sido idealizado em 2002, o musical só viu a luz dos palcos da Broadway em 28 de novembro de 2010, no Teatro Foxwoods. Isso porque a produção enfrentou diversos problemas desde o início.

A produção do musical envolvia estratégias bastante arriscadas. O roteirista Glen Berger, por exemplo, afirmou que tinham “grandes furos no roteiro”, de acordo com a BBC. Além disso, o investimento em recursos tecnológicos não deu muito certo, fazendo com que o processo se tornasse longo e até mesmo duvidoso. Para ter uma noção do tamanho da confusão: USS 1 milhão foi gasto apenas para construir uma teia em cima da plateia, que acabou não dando certo no final.

E não demorou muito para que acidentes começassem a acontecer, pois a peça tinha várias acrobacias perigosas, em que os atores ficavam suspensos por cabos. Durante os ensaios, um dos performistas quebrou o dedo do pé e outro fraturou ambos os pulsos. A atriz que fazia Aracne sofreu uma concussão após ser atingida na cabeça. Já em uma das apresentações de pré-estreia, o rompimento de uma corda que sustentava um ator fez com que a exibição fosse interrompida. Com tantos acidentes acontecendo, não era difícil prever como seria o futuro de Spider-Man: Turn Off the Dark na Broadway.

A repercussão negativa

Spider-Man: Turn Off the Dark foi alvo de diversas críticas negativas, adiando a estreia da peça e gerando mudanças na produção.

Em contrapartida, os críticos que já tinham assistido ao musical não mediram esforços para detonar a produção nos jornais. O jornal The Guardian, um dos principais veículos do Reino Unido, por exemplo, afirmou que “as sequências de voo não eram mais espetaculares do que as de qualquer circo” e também criticou as canções da produção, dizendo que eram “esquecíveis”. A revista literária The New Yorker também chegou a fazer uma crítica ao musical com uma de suas capas, que mostrava uma enfermaria com vários Homens-Aranhas machucados.

Com as críticas negativas, o roteirista Glen Berger afirmou que, na época, sentia como se ele fosse “uma espécie de pinhata viva do Homem-Aranha”. Para ele, as críticas contribuíram para que o grupo de colaboradores do musical se fragmentasse aos poucos: 

“Cada vez mais eu imaginava um experimento que queria descobrir o que o estresse faria com ratos dentro de uma gaiola.”

Uma luz no fim do túnel… ou não?

Agradecimento final do elenco após finalização da exibição da peça.

Todos esses problemas fizeram com que os produtores continuassem adiando a estreia oficial do musical, que só aconteceu em 2011. Mas ainda tinha muito drama para rolar nos bastidores, já que Julie Taymor foi substituída pelo diretor Philip William McKinley, um novo coreógrafo foi contratado e Glen Berger teve que dividir os créditos do roteiro com Roberto Aguirre-Sacasa.

As novas escolhas pareceram amenizar os inúmeros problemas da produção, e o musical finalmente abriu portas ao público, sete meses após o planejado. Uma das principais mudanças foi em relação à personagem Aracne, que teve seu papel reduzido. As críticas também assumiram um tom ameno, fazendo com que o musical seguisse em cartaz até 2014

No entanto, Spider-Man: Turn Off the Dark não veria a luz no fim do túnel tão cedo, permanecendo no escuro até sua última apresentação. Apesar de ter alcançado um recorde de vendas na primeira semana de exibição, o musical acumulou um prejuízo de US$ 60 milhões, garantindo o posto de um dos maiores fracassos da Broadway e encerrando a conturbada aventura do amigão da vizinhança nos palcos. 

Confira abaixo um vídeo que reúne alguns momentos de Spider-Man: Turn Off the Dark:

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