Far Cry: Como a franquia se tornou um blockbuster dos jogos de tiro

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Far Cry: Como a franquia se tornou um blockbuster dos jogos de tiro

Por Arthur Eloi

Far Cry 6 chegou com promessas de tiroteios em mapas gigantescos, muitas explosões, cenários paradisíacos, e a intensa luta contra um tirano tropical. A franquia da Ubisoft é, sem dúvidas, um dos blockbusters dos jogos de tiro, mas você sabia que a série começou nas mãos de outro estúdio, e como uma demonstração gráfica com dinossauros?

Ao longo dos anos, Far Cry já explorou ambientações diferentes, teve games derivados e já até ganhou filme pelo infame diretor Uwe Boll. Entenda abaixo como a saga surgiu, e a jornada até se tornar uma das maiores franquias dos shooters!

Como surgiu Far Cry?

Muito antes de seus cenários gigantescos, repletos de objetivos secundários, Far Cry era meramente um experimento tecnológico. Na verdade, sequer era propriedade da Ubisoft, mas sim obra da Crytek. O estúdio alemão é conhecido pela criação de um dos mais impressionantes motores gráficos dos games, a CryEngine. Em 2001, quando os gráficos em 3D ainda estavam se desenvolvendo, os alemães decidiram testar os limites do que era possível na época com um projeto chamado X-Isle: Dinosaur Island.

Na era do fotorrealismo, é até possível desmerecer a demo, mas na época era algo realmente revolucionário, com mapas expansivos e uma incrível atenção aos detalhes. Não é à toa que a Nvidia viu tanto potencial em X-Isle que decidiu incluir a demonstração como benchmark para as suas placas de vídeo GeForce 3. O poder gráfico da CryEngine chamou a atenção da Ubisoft, que fechou um acordo com a CryTek para publicar a versão completa do projeto.

X-Isle: Dinosaur Island nunca saiu do papel, mas serviu como base para o que viria a se tornar Far Cry. Lançado em 2004, o game foi um ponto de virada para os shooters. Até aquele ponto, os jogos de tiro era conhecidos por sua ambição, tanto gráfica quanto em momentos de ação.

Mas o diferencial do título era juntar tudo isso em um cenário gigantesco, com total liberdade para o jogador explorar como bem entendesse. No papel do mercenário Jack Carver, um ex-militar envolvido com tráfico de armas, era possível abordar os combates do jeito que bem entendesse, com uma grande variedade de estratégias.

Além disso, era possível pegar veículos para transitar pelas selvas e pelos mares de uma ilha na Micronésia. Se não fosse o bastante, Far Cry ainda tinha os gráficos mais impressionantes de um jogo de PC até então. Era a combinação de um design ousado com a verdadeira ambição visual.

Far Cry conquistou pelos gráficos e pela enorme liberdade para o jogador

O primeiro Far Cry se consagrou nas vendas, com um total de 2,5 milhões de cópias vendidas, segundo um relatório de 2010. A crítica também gostou muito do que viu: o game tem média de 89 pontos no Metacritic, com base em 72 análises. Assim surgiu a franquia – mas não pelas mãos da Crytek.

O estúdio alemão pegou seu motor gráfico, e alguns toques de ficção científica do primeiro game, e se juntaram com a EA para criar Crysis, que novamente testou os limites dos gráficos de PC. Curiosamente, em 2018, a Crytek retornou ao mundo de X-Isle, que serviu para lançar a franquia da Ubisoft e também o próprio estúdio – dessa vez, em realidade virtual. Back to Dinosaur Island chegou gratuitamente ao Steam em 2015, permitindo que usuários de dispositivos VR explorem um impressionante cenário tropical fotorrealista, repleto das criaturas históricas.

Enquanto isso, a Ubisoft Montreal assumiu a tarefa de não só levar Far Cry aos consoles, mas também desenvolver expansões para o game. Foi assim que o estúdio passou a experimentar com a franquia, primeiro com Far Cry Instincts, port do original para o Xbox. A conversão, claro, não reproduziu a mesma qualidade impressionante que a versão de PC, mas teve desempenho bom o bastante para convencer a Ubisoft a comprar a licença da série.

A era da Ubisoft em Far Cry

A partir de 2007, Far Cry se tornou oficialmente uma franquia da Ubisoft. O estúdio, com “licença perpétua” para usar e modificar a CryEngine, mostrou que não estava para brincadeira com Far Cry 2, lançado no ano seguinte para PC, Xbox 360 e PlayStation 3. Se a origem da franquia tinha como objetivo testar os limites gráficos da época, a nova direção queria expandir os limites da imersão em mundos virtuais.

Mesmo hoje em dia, após visitar os enormes cenários de The Witcher 3: Wild Hunt (136km²) e GTA V (80km²), o cenário de Far Cry 2 continua gigantesco, em um país africano não especificado com impressionantes 50km². Isso significa que o mapa do jogo de 2008 é maior do que títulos que vieram depois, como The Elder Scrolls V: Skyrim (38,5km²) e Red Dead Redemption (41km²). Mas tamanho nem sempre é documento: o que consagra o game é como suas mecânicas se conversam.

Mais de uma década depois, há poucos jogos do tamanho do segundo Far Cry que permitem esse grau de imersão. O jogador é o rei da experiência: se quiser matar NPCs, eles morrem de vez. Se quiser botar fogo em um pequeno arbusto, isso pode causar um incêndio florestal. De quebra, há muitas mecânicas de sobrevivência que criavam desafios únicos, como a degradação de seus equipamentos, ou a constante necessidade de tomar remédios para malária.

Por sua complexidade, Far Cry 2 teve uma recepção bastante sólida, mas só foi se tornar um clássico cult com o passar dos anos, ao ritmo que mais gamers curiosos descobriram seu mundo aberto repleto de possibilidades.

O título que realmente consagrou a franquia só viria em 2012. Far Cry 3 deu uma boa aliviada nos sistemas do antecessor, sem nada de malária ou armas quebráveis, mas colocou um pouco mais de peso na narrativa. A premissa segue os moldes da série, em que um protagonista é levado a algum cenário exótico, onde precisa trabalhar como o povo local para derrubar o vilão e escapar.

Dessa vez, o cenário mudou das selvas e safaris do continente africano para a paradisíaca Ilha Rook, na Indonésia. Aqui, um grupo de jovens ricos e meio burros – incluindo o protagonista Jason Brody – decidem passar férias no local, mas acabam raptados por um grupo de piratas, liderados pelo ameaçador Vaas Montenegro.

O vilão é, até hoje, o mais icônico de toda a franquia. Interpretado por Michael Mando, ator de Orphan Black e Better Call Saul, Vaas tem um carisma mórbido, e uma presença de tela que rouba a cena toda vez que dá as caras. Através de seus surtos de violência, ou então seus diálogos filosóficos – como o monólogo de “Já te contei a definição de insanidade?” -, o personagem cresceu além do protagonista, além de elevar o padrão dos oponentes da série.

Ajudou também que Far Cry 3 entregava um mundo repleto de atividades paralelas, como caçar animais para fazer upgrades, liberar torres de rádio para revelar o mapa, ou então capturar bases inimigas para fortalecer a resistência local.

Foi lá que nasceu e se consagrou a fórmula da franquia, que norteia os jogos até hoje. Far Cry 4, de 2014, expandiu esses pilares ao colocar o jogador no meio de uma guerra civil na nação fictícia de Kyrat, inspirada no Nepal. Assim como o antecessor, o game é ainda mais repleto de atividades secundárias que ajudam a te fortalecer na luta contra o excêntrico rei Pagan Min.

Já em 2018, a Ubisoft aplicou a fórmula em um cenário um pouco menos exótico, mas igualmente amplo e variado: o interior dos Estados Unidos. Far Cry 5 optou por um tom levemente mais sombrio que seus dois antecessores, ao lidar com um culto religioso e seu perturbador líder, Joseph Seed.

Em ambos os títulos, todas as bases da franquia – os combates intensos, a exploração, os objetivos secundários, e o cenário grandioso – são executadas com perfeição, e tudo ainda fica melhor com a adição de modos cooperativos para até dois jogadores online.

Durante todo esse tempo, o estúdio também testou os limites da saga com derivados ousados. É o caso de Far Cry 3: Blood Dragon (2013), que é um verdadeiro banho de neon inspirado por clássicos de ação oitentistas; Far Cry Primal (2015), ambientado na pré-história; e Far Cry: New Dawn (2019), game coop em um futuro após a detonação de uma bomba nuclear por Joseph Seed e seus seguidores.

Os três projetos paralelos receberam críticas mornas pela repetição, já que usam os mapas de seus antecessores com apenas algumas modificações, mas nenhum pode realmente ser considerado um fracasso ou mesmo um erro.

Far Cry: Blood Dragon deu um banho de neon e nostalgia na franquia

Na verdade, o que mais surpreende na história de Far Cry é a sua consistência. A Ubisoft descobriu uma fórmula logo em seu primeiro título original, e passou mais de uma década lapidando e polindo essa ideia à perfeição. Seja lá qual for a ambientação, ou quem seja o vilão tirano que merece ser derrubado, os jogos sempre são um playground gigantesco de diversão honesta e explosiva, com belíssimos cenários e listas enormes de objetivos paralelos para fazer – sozinho ou acompanhado de um amigo.

Claro, eventualmente toda fórmula cansa, como foi o caso de Assassin’s Creed, que precisou se reinventar após cair em popularidade. Mas com Far Cry 6 (2021) recebendo uma enxurrada de avaliações positivas, não parece que vamos cansar de nos aventurar por cenários exóticos tão cedo assim.

Far Cry 6 já está disponível para os consoles Xbox One, Series X | S, PlayStation 4 e 5, e PC. Você pode adquirir o jogo aqui!

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