Crítica: 007 Sem Tempo Para Morrer esquece a espionagem e mergulha no clima de romance

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Crítica: 007 Sem Tempo Para Morrer esquece a espionagem e mergulha no clima de romance

Por Paula Ramos

Quando Sean Connery aceitou o desafio de viver James Bond nos cinemas em 1962, certamente não imaginava que a franquia continuaria reunindo fãs quase 60 anos depois. O 25º filme da saga, 007: Sem Tempo Para Morrer marca a despedida de Craig do papel, mas não sem antes desenvolver a história mais humanizada de James Bond.

A versão mais recente do agente de espionagem vem sendo interpretada por Daniel Craig há quatro filmes, com o quinto chegando no último dia 30 de setembro. Seguindo as consequências deixadas pelo lançamento anterior, 007: Contra Spectre, o novo lançamento conta com grande elenco, um roteiro bem trabalhado e uma trilha sonora primorosa, que funciona como a cereja do bolo da produção.

Ficha Técnica

Título: 007: Sem Tempo para Morrer (007: No Time to Die)

 

Direção: Cary Fukunaga

 

Roteiro: Neal Purvis, Robert Wade, Cary Joji Fukunaga e Phoebe Waller-Bridge

 

Data de lançamento: 30 de setembro de 2021 (Brasil)

 

País de origem: Estados Unidos

 

Duração: 2h 43 min

 

Sinopse: A ajuda de James Bond (Daniel Craig) é requerida pela CIA quando a missão de resgatar um cientista sequestrado se mostra mais traiçoeira do que esperada, levando-o a uma trilha deixada por um misterioso vilão (Rami Malek), armado com uma perigosa nova tecnologia.

007: Sem Tempo para Morrer traz o agente mais humanizado da história dos cinemas

Os filmes de 007, por mais interligados que fossem, sempre seguiram um ritmo independente, com seus próprios vilões, roteiros e personagens. Em 007: Sem Tempo para Morrer, por sua vez, vemos a conclusão de uma história iniciada em Contra Spectre, deixando os fãs de primeira viagem confusos com algumas referências. O vilão de Spectre, Blofeld (Christoph Waltz), retorna à vida de Bond para lembrá-lo que o passado precisa ser resolvido.

A aposentadoria de um ex-agente 007 pode ser mais conturbada do que parece. Enquanto busca encontrar sua paz ao lado de Madeleine (Léa Seydoux), Bond descobre amarras soltas em sua vida, cujas consequências estão sendo cobradas no presente. A menina esconde segredos, assim como M (Ralph Fiennes), o enigmático líder do MI6, cuja reputação precisa ser salva, mais uma vez, pelo agente de espionagem.

Como foi divulgado anteriormente, o principal antagonista do filme é Lyusifer Safin, vivido por Rami Malek. Mesmo com dois vilões em uma mesma trama, o roteiro magistral consegue encaixar o personagem de Malek na história do anterior de Waltz, de forma bem desenvolvida e estruturada para que ambos ganhem espaço o suficiente em tela. Blofeld marcou o passado de James Bond, enquanto Lyutsifer Safin simboliza a última missão do 007.

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Um romance cravejado de balas

As histórias de 007 nos cinemas sempre seguiram um mesmo molde básico de desenvolvimento e 007: Sem Tempo para Morrer não é diferente. O último filme de Daniel Craig ganha o adicional de despedida, além de ser um marco importante na franquia: o 25º lançamento de Bond nas grandes telas. É o romance criado entre Bond e Madeleine, porém, que torna o novo filme algo único e especial.

O romance entre os personagens é apresentado logo nos primeiros minutos do filme, mas não se desenvolve a ponto de criarmos empatia pelo casal. O público se vê questionando como Bond e Madeleine se conectaram de forma tão profunda a ponto de ambos abrirem mãos de suas vidas apenas para ficarem juntos.

Ao final, ficamos sem uma resposta e temos apenas mais uma dupla tradicional de Bond e sua Bond Girl. Em um lançamento marcado pela despedida de Craig, fugir dos clichês seria uma forma de tornar 007: Sem Tempo Para Morrer algo único e memorável, mas voltar ao relacionamento tradicional entre o agente e sua namorada, presente em todos os filmes 007, apenas classifica o longa como mais um.

A fórmula de 007: Sem Tempo para Morrer não é diferente e o público encontrará aqui todos os clichês tradicionais da franquia, com direito a equipamentos modernos de espionagem e armas questionáveis no ramo militar. O mundo corre um grave perigo e cabe ao aposentado agente resolver tudo, mesmo que isso signifique mexer em fantasmas do seu passado, como Vesper, o interesse amoroso de Bond no filme Casino Royale de 2006 e cuja importância para o agente perdurou ao longo de toda a franquia

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A rapsódia de um vilão enigmático

Rami Malek vive um dos seus primeiros vilões do cinema e, em poucos minutos, já mostra o porquê de ser um dos maiores nomes de Hollywood no momento. Como Safin, o clima de mistério é criado em torno do personagem logo nos primeiros minutos, quando o conhecemos por trás de sua máscara japonesa Noh.

É fundamental que o público tenha acesso apenas ao olhar de Malek nas primeiras cenas, criando o ar fantasmagórico e cruel que Safin precisa ter. Infelizmente, porém, o filme peca em desenvolver o vilão, deixando de explorá-lo a fundo e apenas o apresentando. O desfecho do personagem é simples, indo contra toda a atmosfera trabalhada em torno dos olhos vidrados, mas apesar disso, o saldo não é negativo devido aos esforços do ator.

O início do fim, mas o começo de uma nova era

A despedida de Daniel Craig não significa o fim da franquia 007 nos cinemas e isso fica claro no decorrer do novo filme. Enquanto a história é centralizada no casal protagonista, os personagens introduzidos em segundo plano ajudam a moldar o roteiro e criam o alívio necessário nas inúmeras cenas de ação. Personagens como os de Ana de Armas e Ralph Fiennes não ganham tanto tempo em tela como deveriam, mas deixam portas abertas para um possível retorno.

Depois de tantos anos e tantas perdas, vemos no personagem de Craig uma figura humanizada e apaixonada, disposta a tudo para salvar a mulher de seus olhos. Ser humano também significa cometer erros, algo que Bond faz o tempo inteiro, principalmente quando tem sua visão embaçada pela emoção. É aí que o filme cria sua jogada magistral através de Q (Ben Whishaw) e Nomi (Lashana Lynch), personagens coadjuvantes com um protagonismo fundamental para o resultado final da produção.

Mesmo que o filme peque com alguns personagens e com seu casal protagonista, o trabalho feito com James Bond é o que ele merecia para uma despedida. O adeus ao personagem faz jus ao título, com o ritmo do filme sendo ditado pelas batidas de um relógio. Não há tempo para morrer, mas há tempo para termos a despedida emocionante a que Daniel Craig tem direito.

NOTA: 3.5/5

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