[Crítica] Marvel’s Avengers teria sido um ótimo jogo… três anos atrás

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[Crítica] Marvel’s Avengers teria sido um ótimo jogo… três anos atrás

Por Leo Gravena

Atenção: Alerta de Spoilers!

Depois de muita, muita espera, finalmente tivemos o lançamento de Marvel’s Avengers, da Square Enix. O jogo dos Vingadores teve um caminho longo, sofreu vários atrasos, teve mudanças visuais e alguns betas liberados para todos. Porém, o título, que foi anunciado em 2017 como “The Avengers Project”, parece ter ficado preso nessa época.

Ficha Técnica:

Desenvolvedora: Crystal Dynamics e Eidos Montréal

Publicadora: Square Enix

Direção: Shaun Escayg e Morgan W. Gray

Escritores: Shaun Escayg, John Stafford, Marek Walton, Hannah MacLeod, Nicole Martinez, Keano Raubun

Compositor: Bobby Tahouri

Plataforma: Google Stadia, Microsoft Windows, PlayStation 4 e Xbox One

Lançamento: 4 de setembro de 2020

Marvel’s Avengers não é um jogo ruim. Longe disso, ele é divertido, possui uma narrativa boa e, quando você termina o modo campanha, a trama continua de uma maneira bem legal e inteligente. Ainda assim, é um jogo que parece datado em vários aspectos, mas principalmente em sua história e em suas mecânicas de ser quase um “Hack n’ Slash” com elementos de RPG. 

A trama

Entre 2013 e 2014, a Marvel Comics fez uma decisão corajosa: por não ter os direitos dos X-Men nos cinemas, a editora passou a deixar os mutantes de lado porém, era necessário que um novo grupo “entrasse” em seu lugar, dessa forma, eles tentaram fazer com que vários novos personagens inumanos tivessem destaque: Mosaico, Inferno, Iso, Kid Kaiju e Nur foram alguns dos dos “NeoHumanos” criados para serem os novos grandes heróis desse universo. De todos eles, apenas Ms. Marvel conseguiu a proeza de ser lembrada por mais do que 2 anos após sua criação. Se tornando um dos maiores nomes das HQs da Casa das Ideias.

Por causa desse “bloqueio”editorial aos mutantes, vários jogos não usavam os personagens, fazendo com que Wolverine, Ciclope, Jean Grey e Tempestade, mesmo sendos alguns dos heróis mais famosos da Marvel, não aparecessem por anos em qualquer jogo.

Dessa forma, toda a história parece datada quando olhados por esse lado: “Se você não possui mutantes, joga uns inumanos ai”. Contudo, dentro da história eles são bem descartáveis, servindo apenas para dar motivação para Kamala Khan e ter seu DNA recolhido para criar inimigos bastante genéricos e sem qualquer apelo visual que os tornem interessantes.

Na história, MODOK e a IMA estão sequestrando inumanos, que eles dizem ser muito perigosos e tentam suprimir seus poderes. No meio disso tudo, os Vingadores voltam a se formar, cerca de 5 anos após eles terem se separado após uma grande explosão ter “matado” o Capitão América e várias outras pessoas. A Ms. Marvel é o catalisador da união, quando descobre um segredo da IMA e embarca em uma jornada para procurar alguém para a ajudar na luta contra a empresa que está a caçando. A partir daí, vemos o Hulk, Homem de Ferro, Viúva Negra, Thor e o Capitão América se unindo novamente. 

 

A melhor coisa de toda a história de Marvel’s Avengers é que em momento algum ela tenta ser parte do “Universo Cinematográfico Marvel”, ela, na verdade, parece mais um universo alternativo das HQs do que qualquer outra coisa. Os personagens possuem interações bem divertidas e colocar Bruce Banner como o “mentor” de Kamala é uma decisão que parece estranha (afinal, o que custava colocar a Capitã Marvel ali no meio?), mas funciona bem dentro do universo construído.

Inclusive, o maior problema do “Modo Campanha” do jogo, uma missão chamada “Reunião”, é que ela é muito curta. Ainda assim, em seu “esqueleto” ela possui todas as fases que um filme de equipe de heróis deveria ter: A apresentação de cada um dos personagens, a reunião, o momento de conflito antes do grande final, o clímax e até mesmo algumas cenas pós-créditos.

É justamente depois que a história principal acaba que o jogo se torna aquilo que estava sendo esperado: você pode escolher com qual herói quer jogar em todas as missões e andar pelo hub, escolhendo o traje e equipamento que quiser.

Cada herói é diferente

Talvez um dos maiores atrativos da jogabilidade é o fato de que cada herói possui habilidades bem diferentes, jogar com a Viúva Negra e o Homem de Ferro são experiências completamente distintas e o modo história ajuda você a ver com qual mais gosta de jogar. Particularmente, o Capitão América e o Thor foram os mais divertidos de se usar os poderes, enquanto a Viúva Negra é de longe a mais poderosa, já o Homem de Ferro foi possivelmente o que mais me “travou”, já que jogar com ele é uma experiência bem frustrante – os controles de voo são bem complicados e atacar enquanto voa é uma habilidade necessária, porém, muito difícil de se dominar.

Cada herói no jogo possui uma “árvore de poderes”, nos quais você desbloqueia habilidades e pode alterar os poderes específicos dos heróis com “aumentos”. Cada herói possui 3 habilidades diferentes: uma de suporte (que é tanto de cura quanto de aumentar o dano, esquiva ou outro tipo de atributo dos aliados); uma de dano e outra que aumenta todo o dano do herói, dando um grande ataque inicial e então mantendo os atributos aumentados por um tempo.

Os poderes e as habilidades fazem com que, caso você tenha uma equipe que possui uma sintonia boa, seja bem mais fácil vencer rapidamente qualquer chefe, porém também pode fazer com que seja bem mais difícil completar as missões caso os heróis e suas habilidades não conversem bem entre si.

Outro grande atrativo do jogo é a maneira em que você pode escolher jogar sozinho ou com amigos. Até mesmo no modo história você pode fazer as missões com seus amigos ou com outras pessoas, o que pode ajudar no começo do jogo, mas caso você queira jogar ele completamente sozinho, isso também é possível. O jogo permite que se tenha total liberdade em escolher a maneira que você quer jogar, sem possuir muitas vantagens ou desvantagens.

A maior parte dos vilões do jogo são robôs

Vilões genéricos

Outro grande problema do jogo, tanto em questão de visual quanto de jogabilidade, é o fato de que todos os inimigos são iguais. Quando o grande vilão da fase é mais um adaptóide com poderes elementais, o jogo parece se tornar muito mais cansativo – algo que não aconteceria caso fosse qualquer um dos milhares de outros vilões ligados à IMA nos quadrinhos.

Mais do que cansativo, em certo ponto isso chega a ser frustrante. Em um momento da campanha você recebe uma missão secundária do Thor, na qual ele precisa ir a  Escandinávia encontrar alguém que está se passando pelo Deus do Trovão. Ao chegar no local já é meio estranho que todos os minions, novamente, sejam capangas da IMA, porém, ao encontrar o “Outro Thor” – finalmente um vilão que não é um robô gigante – ele simplesmente some e em seu lugar você precisa enfrentar outro Adaptóide.

É provável que veremos pouquíssimos vilões novos na atualização que trará Kate Bishop como personagem jogável, porém caso o jogo traga outros heróis como Capitã Marvel, Doutor Estranho, Feiticeira Escarlate ou até mesmo algum X-Men, continuar enfrentando capangas da IMA e os genéricos Adaptoides será algo decepcionante.

Outro ponto baixo são os bugs presentes. Enquanto, na maior parte das vezes não costumo me incomodar com um bug ou outro, a grande quantidade de problemas gráficos no jogo chega a irritar. A primeira ou segunda vez que isso acontece é até divertido. Quando se passa de dez, isso significa que você deveria ter trabalhado um pouco mais no seu game antes de lançá-lo. Quando pensamos no quanto o título foi atrasado para ser “retrabalhado”, a situação parece ainda mais frustrante.

Somente uma cabeça flutuante

Falando em frustração, depois de Marvel’s Spider-Man e as várias críticas em relação à localização do jogo, era de se esperar que Marvel’s Avengers fosse aprender, contudo, não foi isso o que aconteceu. Dessa forma, todos os nomes dos personagens, mesmo na dublagem, continuam em inglês. Avengers, Iron Man, Black Widow, Terrigen, tudo é falado com o mais belo sotaque americano, como se palavras como “Terrígeno”, “Vingadores” e “Homem de Ferro” não existissem em nosso idioma. 

O pior de tudo é que a dublagem é muito boa, porém a experiência é destruída quando você ouve um “Olha, é a Black Widow!”. Dessa forma, tendo jogado boa parte do jogo no áudio original em inglês, outro problema irritante surgiu: o fato de que toda vez antes de iniciar o jogo era necessário ir nas configurações e alterar o idioma, já que se não fizesse isso, automaticamente o áudio voltava para o Português e é impossível alterar o áudio no meio do jogo.

O fato das legendas serem desconexas com o áudio também não ajudou muito. E sim, é algo real: existem partes do jogo em que os personagens dizem uma coisa, apenas para ter algo diferente escrito embaixo, tanto no áudio em inglês quanto em português, não existindo correlação nenhuma entre o que é falado e a legenda brasileira.

No geral, Marvel’s Avengers não é um jogo ruim como muitos estão dizendo – mas também não é algo que vai além do “bom”. É um jogo divertido, contudo, facilmente cansativo pelos vilões e locais genéricos. Em vários momentos, é possível notar como os roteiristas e escritores são fãs dos quadrinhos da Marvel, pequenos detalhes em frases, imagens e easter eggs (a releitura do traje clássico de Carol Danvers como Ms. Marvel em um pôster no quarto de Kamala é sensacional) fazem qualquer fã ficar com um sorriso no rosto, porém isso só não é o bastante para fazer com que o jogo tenha uma vida longa, como é o planejado.

Em 2013 a Marvel lançou um jogo de MMORPG para PC chamado “Marvel Heroes” pela Gazillion Entertainment, mesmo com várias comparações à franquia Diablo, o jogo foi bastante criticado em seu lançamento, com os servidores fechando no final de 2017. Mas por que estou falando de Marvel Heroes em uma crítica de Marvel’s Avengers? Porque mesmo com o início turbulento que o jogo de 2013 teve, recebendo notas baixíssimas, ele soube crescer e se tornar um jogo verdadeiramente bom – o problema? As mudanças que o jogo precisava vieram tarde demais.

Esse talvez seja o grande desafio que Marvel’s Avengers vai precisar superar – e teremos que esperar para ver se o jogo vai evoluir de uma maneira criativa e interessante, trazendo novos inimigos e locais, junto de mecânicas ainda mais divertidas. Com isso, ele pode se tornar um jogo excelente, e não ficar apenas apostando na marca “Vingadores” para vender.

Nota: 3,5/5

Para a crítica, o título foi jogado no Playstation 4.

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