[Crítica] Final Fantasy VII Remake: 23 anos depois, Midgar ainda é fantástica

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[Crítica] Final Fantasy VII Remake: 23 anos depois, Midgar ainda é fantástica

Por Márcio Jangarélli

Há quanto tempo ouvíamos sobre uma releitura de Final Fantasy VII para os consoles do futuro? Em 2020, o Remake finalmente se tornou realidade (parte dele pelo menos) e foi até indicado a Jogo do Ano na The Game Awards. A questão é: será que é tão bom assim? Fez jus ao original? Vou tentar responder isso nesta review.

Lançamento: 10 de abril de 2020

Desenvolvedora: Square Enix

Diretores: Tetsuya Nomura, Naoki Hamaguchi, Motomu Toriyama

Produtor: Yoshinori Kitase

Roteirista: Kazushige Nojima

Artista: Tetsuya Nomura, Roberto Ferrari

Compositores: Nobuo Uematsu, Masashi Hamauzu, Mitsuto Suzuki

Plataforma: PlayStation 4

Gênero: RPG de ação

Final Fantasy VII é um título bem pessoal pra mim, assim como é para muita gente que entrou no mundo dos jogos cedo, lá nos anos 90 – ou antes. Foi um dos primeiros JRPGs que eu experimentei, um dos principais responsáveis por me fazer amar o gênero, em uma época que eu nem sabia ler tão bem assim, muito menos inglês ou japonês.

Assim, como bom fã de FFVII, faz tempo já que eu espero, junto dos outros, esse Remake sair. Não sei se vocês sabem ou se lembram, mas os primeiros rumores sobre o projeto começaram lá atrás, em 2005, quando uma recriação do início do game, feita como uma espécie de “demo tecnológica” para mostrar a capacidade do PlayStation 3, foi mostrada na E3. 

De lá pra cá, 15 anos depois, foi rumor atrás de rumor, parecia que o projeto ia ficando cada vez mais impossível, tivemos filme “sequência” do jogo, personagens usados em Kingdom Hearts e Dissidia, Crisis Core para PSP, mas, enfim, com o PS4, em 2015, Final Fantasy VII Remake foi anunciado na E3. Levou “só” mais 5 anos, então, para o game ser lançado.

Não consegui fazer essa review quando FFVII Remake foi lançado, lá em Abril, mas acho importante revisitar o título, principalmente por conta das indicações no TGA 2020. Digo que é até interessante olhar para esse game depois de um tempinho, depois de toda hype, luzes e fumaça da estreia, porque é algo com muita carga, muita história, e isso pode atrapalhar a avaliação.

Observando FFVII Remake como um game próprio, sem toda a bagagem que ele carrega, posso dizer que é um ótimo exemplo de como fazer um JRPG com gostinho clássico em 2020. Ele é mais linear do que eu gostaria, mas o sistema de batalha é fenomenal, esses personagens, antigos ou novos, são cativantes ao extremo, a jogabilidade é viciante e a história é, com certeza, daquelas que vão te deixar querendo mais (com razão).

Porém, não dá para só para considerar isso, né? Final Fantasy VII Remake será assombrado até o final pelo fantasma do original e brinca com isso em sua história. A questão é que esse é um Remake, não é um Remaster. Dessa vez, a proposta é recriar a história clássica de FFVII, que até quem nem curte videogame já conhece. E nisso o game é muito bem sucedido.

Enquanto muita gente vê um problema em pegar uma parte tão “pequena” do jogo original e transformar em uma produção própria, eu vejo mérito. Até porque, a história de Midgar não foi exatamente alongada, mas detalhada, usando as capacidades das gerações atuais de console para explorar melhor esse espaço, esses personagens e dar profundidade a eventos grandiosos que passam até despercebidos em FFVII pelas restrições do PS1.

Acontece MUITA coisa em FFVII. Sério. Se você parar para analisar aquele game hoje, é quase que a junção de uma verdadeira série de jogos em um só. Você tem o episódio de Midgar, Junon, Wutai, Gold Saucer, Nibelheim, etc. Isso tudo foi possível porque o roteiro em si não precisava ser tão detalhado, as situações podiam ser resolvidas de forma mais rápida, os personagens literalmente não tinham expressões ou muito espaço em cena, entre outros fatores que permitiram FFVII e vários JRPGs existirem.

Hoje, jogos são cinematográficos ao máximo, ainda mais os desse tipo. As pessoas esperam não só uma jogabilidade foda e viciante, mas uma narrativa que envolva e entregue situações e atuações minimamente coerentes. E FFVII Remake faz isso, mas demanda o espaço necessário para essa construção, que acabou gerando um jogo todo em Midgar.

O Remake respeita o passado, mas convida o jogador a se aventurar e redescobrir esses personagens, em um mundo conhecido, mas com elementos e direções totalmente novas. FFVII Remake brinca com o destino de diversas formas para manter a surpresa do jogo e eu achei isso fantástico. Pode ou não ser a mesma história, mas você só vai descobrir se escutá-la até o fim.

Claro que muita gente ficou ofendida com isso e dá para entender o sentimento. Mas aí eu te pergunto: não é mais legal ficar sem saber se é a mesma história? Não ter certeza se a Aerith vai morrer de novo, se um Weapon vai atacar Midgar ou se o Meteoro será invocado? No fim das contas, o original continua existindo e aquela aventura nunca vai mudar.

Em quesitos mais técnicos, como dito, o Remake é espetacular e vale muito mesmo para quem nunca nem passou perto de um Final Fantasy. É um jogo divertido, intrigante, desafiador, com um senso de humor muito próprio e que se permite fazer piadas consigo mesmo e seus absurdos. Definitivamente é um dos melhores de 2020.

O sistema de combate de FFVII Remake é mesmo tudo aquilo que falaram. Ele tem elementos de RPG de ação, mas também de turnos, uma mistura que a Square já tentou algumas vezes no passado, mas que aperfeiçoou totalmente aqui. É um formato que te faz ser mais estratégico, mas sem perder o dinamismo e imediatismo da luta em si.

No sentido visual, a recriação de Midgar não poderia ser mais perfeita. É lindo ver essa coisa “noirpunk 2077”, que amamos tanto do original, transportado para os consoles de 2020. A cidade é viva, amedrontadora, conflitante e genial. O level design do game é digno dos melhores RPGs e você vai querer explorar todos esses lugares e resolver cada puzzle só para ver as engrenagens desse mundo girando.

E, claro, não dá para esquecer da trilha sonora. A música na saga Final Fantasy sempre foi importante e o desafio aqui foi traduzir a produção épica do VII original para uma nova roupagem. Posso dizer que o trabalho ficou impecável, de arrepiar em vários momentos. Se você não soltar pelo menos um suspiro com o primeiro “SEPHIROTH” da nova versão de One Winged Angel, o que está acontecendo contigo? Está tudo bem?

Porém, alguns probleminhas também merecem ser citados. Além da linearidade um pouco incômoda, o final do Remake parece corrido. Veja, não tenho problema com as decisões tomadas, mas, a partir de certo ponto, o jogo muda de ritmo e fica até um pouco rápido demais para acompanhar de primeira. Sem contar que o Red XIII não ser jogável é bem decepcionante, ainda que ele seja fundamental no fim da campanha.

No fim, Final Fantasy VII Remake é um belíssimo novo começo para essa saga que amamos tanto e um jogo incrível por conta própria. Não dá para tirar o mérito da equipe que conseguiu não só recriar o início daquela aventura fantástica, mas teve a coragem de imprimir sua própria assinatura nela.

Mal posso esperar pela continuação do Remake e, até lá, a primeira parte leva 4,5 estrelas da Legião. Está entre os jogos de 2020 que você PRECISA dar uma chance e um concorrente forte a Jogo do Ano.

Já jogou Final Fantasy VII Remake? O que achou? Não esqueça de comentar!