Todos Somos Homem-Aranha!

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Todos Somos Homem-Aranha!

Por Lucas Rafael

Chegamos no ponto em que é possível medir o tempo por filmes do Homem-Aranha. Seis filmes do Teioso atrás eu estava no ensino fundamental. Há dois filmes atrás, com “A Ameaça de Electro”, eu estava em outra faculdade, morando em outra cidade. O primeiro Homem-Aranha, de Sam Raimi, tinha a importante missão de aliviar o desgaste emocional causado pelo 11 de setembro nos Estados Unidos, que havia ocorrido no ano anterior ao seu lançamento. E através de um importante foco em coletividade, a obra conseguiu. Em todos esses anos que se passaram desde aquele longa, parece que sempre tivemos um filme do Aranha conosco em memória recente, para o bem ou para o mal.

Peter Parker é um arquétipo perfeito da geração millenial. É tão fácil sentir empatia pelo personagem justamente pela vida dele ser uma espiral de desafios cotidianos. Todos nós temos um Tio Ben ou uma Tia May, todos nós enfrentamos rotinas acadêmicas e lutamos em um mundo selvagem por estabilidade financeira. É fácil ver nossos gritos de ansiedade moderna internalizados também em Peter Parker. No fim das contas, o despertador toca e a gente tem mais um dia para perseguir.

Talvez o Homem-Aranha seja um herói tão popular por ser honesto em seu estilo de vida, virtudes e falhas. Stan Lee foi genial na concepção do personagem, apelando para nossa empatia, fazendo com que Peter Parker sirva como o espelho de uma geração sem perspectiva, mas que não deve desistir de lutar.

Criador e criatura.

Gostamos do Batman por sua imponência e teatricidade gótica, mas não por nos vermos em Bruce Wayne. É um herói que evoca uma fantasia de poder muito distante do cidadão médio que somos eu e você. Um dos apelidos do Homem-Aranha é Amigão da Vizinhança. Destaque para a palavra Vizinhança. Existe um quê de intimidade ali, pois todos pertencemos a uma vizinhança. É algo das massas e de fácil relacionamento empático. Em outras palavras, dá pra se colocar no lugar de Peter Parker porque você já esteve lá. É diferente de seres de outros planeta, playboys milionários filantropos com armaduras tecnológicas ou deuses asgardianos.

Cada iteração do Homem-Aranha que tivemos até agora conversa muito com uma juventude específica. O primeiro filme do Sam Raimi vinha na onda dos anos 90, trazendo uma mensagem sobre a chegada da puberdade e brincando com elementos clássicos do personagem. Era um nerd deslocado atrás da garota que parecia demais para ele, enquanto sofria para arranjar um emprego decente. Esse era o nosso Tobey Maguire.

O auto-descobrimento do protagonista acerca de seu potencial em Homem-Aranha 1.

Quando Andrew Garfield chegou, ele era um skatista descontraído, havia algo de cool naquela versão de Peter Parker que ficava triste em seu quarto ouvindo Mumford and Sons. Um personagem cuja sensibilidade estética dialoga mais com uma geração esculpida por músicas alternativas e redes sociais. Eis o motivo de uma parcela dos fãs ficarem incomodados aqui: não era mais um Homem-Aranha sobre a época deles, ainda que no fundo, Homem-Aranha sempre seja para todo mundo.

Qualquer um por trás da máscara. Até o próprio Homem-Aranha.

Já quando chegou Tom Holland, o herói estava agora no MCU, tendo de alinhar alguns elementos de sua mitologia particular para pertencer a algo maior. Aqui, existe uma preocupação social recente refletida na diversidade do elenco. É um filme cuja identidade brinca com nossa nostalgia de antigamente, canalizando os clássicos de John Hughes como Curtindo a Vida Adoidado para narrar uma trama adolescente de auto-descobrimento. É o meu menos favorito de todos justamente por não ser um filme com uma identidade lá muito própria, mas passa longe de ser uma obra ruim ou descartável. Quem sabe o negócio tome forma nas sequências.

E, curiosamente, Homem-Aranha no Aranhaverso é um filme sobre tudo isso descrito acima. Uma animação cujo objetivo da trama é extrapolar nossa empatia por Peter Parker ao apontar que, versão do Teioso pós versão do Teioso, ele sempre foi nosso representante em um mundo de deuses e monstros muito distantes para nós nos relacionarmos. Eu não esperava muito desse filme, mas o carinho presente no tratamento da mitologia do Aranha e  a mensagem de que você, eu e todo mundo é meio Homem-Aranha é bastante poderosa. Embora os filmes live-action do personagem até flertem com essa noção de nos vermos através do herói, Aranhaverso é o único que parece celebrá-la.

A pluralidade de Aranhaverso reforça a mensagem de empatia do Homem-Aranha.

Não sei onde estaremos daqui a mais quatro filmes do Homem-Aranha. Mas posso te garantir que eles vão existir, que serão documentos de seu tempo e que Peter Parker e Miles Morales conversarão com mais uma safra geracional se descobrindo nesse mundo confuso.

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