Qual o legado da franquia X-Men?

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Qual o legado da franquia X-Men?

Por Evandro Lira

Mesmo com altos e baixos, não dá pra negar, a franquia X-Men é uma das mais significativas para o cinema blockbuster de hoje. Estamos falando de uma década que se encerra e se consolida como a era de ouro dos super-heróis no cinema. E quando olhamos para trás, é fácil ver quem deu os primeiros passos e como isso foi decisivo para os filmes que vieram depois.

O primeiro filme da franquia, lançado lá em 2000, alavancou o status das histórias de quadrinhos adaptadas para o cinema. Ainda que Superman, estrelado por Christopher Reeve, tenha sido um sucesso na década de 70, ele não foi responsável por provocar grandes mudanças. E se Tim Burton fez um bom trabalho adaptando Batman, o final dos anos 90 foi marcado pelas galhofas de Joel Schumacher, que quase acabou com a reputação do Homem-Morcego no absurdo Batman e Robin. E claro, houve o discreto lançamento de Blade em 1998, que de todos esses, foi sem dúvida o material mais preciso para o vindouro sucesso de X-Men.

Com um orçamento bem enxuto, nenhuma estrela de Hollywood, e com o olho torto de vários críticos, X-Men surgiria para agradar tanto a legião de fãs da equipe quanto a crítica de cinema. O cineasta Bryan Singer, que havia dirigido o elogiado Os Suspeitos de 1995, junto aos produtores da Fox, resolveram adotar um ar mais realista para o filme dos mutantes, deixando de lado todo o colorido e traços épicos dos quadrinhos e da série animada, seguindo uma estética semelhante ao sucesso Matrix, de 1999.

Com uma narrativa coesa, protagonistas muito bem escritos e um vilão que não tinha a intenção de dominar o mundo e sim de provar seu ponto, X-Men caiu no gosto de todos, fazendo sucesso suficiente para garantir uma sequência, que conseguiu ser ainda melhor.

X-Men 2 é um dos melhores filmes não só da franquia, como do gênero de super-heróis.

O lançamento bem sucedido de X-Men garantiu que outros estúdios e mesmo a Fox percebessem que o “gênero” ainda tinha muito a oferecer e rapidamente deram início a outras produções, como Homem-Aranha, Demolidor, Elektra, Hulk, Quarteto Fantástico, Mulher-Gato, Superman: O Retorno, e posteriormente o reboot de Batman nas mãos de Christopher Nolan, outro grande divisor de águas. A criação da Marvel Studios, por exemplo, só foi possível visto os acertos e erros desses filmes, algo que a tornou hoje a empresa que dita as regras.

E em 2019, estamos próximos de nos despedir da franquia que deu início a tudo. X-Men: Fênix Negra é o último filme do império da Fox, agora que a Disney adquiriu o conglomerado e reuniu a equipe dos mutantes aos outros personagens da Marvel. E observando toda a trajetória dos mutantes no cinema, fica claro que sim, a Fox cometeu erros, fez algumas péssimas escolhas, mas também fez coisas brilhantes e assumiu riscos que poucos ousaram antes.

X-Men: O Confronto Final, o encerramento da trilogia que vinha performando muito bem até então, tomou rumos inesperados e deixou muita gente insatisfeita. A franquia parecia se despedir do cinema com aquele gosto amargo, não fazendo jus ao sucesso de uma das equipes de heróis mais icônicas da cultura pop.

Foi aí que surgiu a ideia de trazer a origem dos personagens para as telonas, já que os filmes não abarcavam o background dos heróis. Naquela segunda metade da década de 2000, histórias de origem estavam em alta, afinal Batman Begins e Homem de Ferro tinham sido dois grandes acertos, e a Fox estava decidida a voltar ao passado dos X-Men e colocá-los em uma aventura solo. E a escolha mais óbvia, é claro, seria Wolverine.

O personagem, que ganhou o protagonismo na trilogia, teria agora um filme solo para chamar de seu, e o carisma do australiano Hugh Jackman foi fundamental para que isso acontecesse. Mas o filme se deu mal com a crítica, que elogiou a performance do ator, mas destruiu o roteiro do filme, que é de fato, uma bagunça. Posteriormente, um filme solo focado no vilão Magneto, outro da série “Origens”, foi cancelado.

Com uma direção elegante e ótimos atores, X-Men: Primeira Classe foi um ótimo retorno à franquia.

Mas nada disso foi exatamente ruim para a franquia dos mutantes, já que mais filmes do Wolverine, bem melhores que o primeiro, acabaram sendo lançados, e a história de origem do Magneto veio ao mundo com o ótimo X-Men: Primeira Classe.

Mais do que nunca, os filmes se distanciaram dos quadrinhos, trazendo algumas histórias de origem completamente diferentes para os personagens, como foi o caso da Mística, no filme interpretada por Jennifer Lawrence. Mas apesar dessas mudanças, o filme funcionava perfeitamente, quase como uma história a parte, sem conexões com os filmes anteriores e ainda se relacionando com a História.

Após tudo isso, veio a estreia de uma das maiores “bola dentro” da Fox com os mutantes. X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido trazia de volta Bryan Singer, diretor de X-Men: O Filme e X-Men 2, e não só adaptava um dos melhores arcos dos quadrinhos, como reunia o elenco da trilogia original com os novos personagens apresentados em Primeira Classe. Além disso, o filme é um dos que melhor trabalha a alegoria dos mutantes como seres marginalizados.

Dias de Um Futuro Esquecido combinou os melhores elementos das duas gerações de X-Men.

Mas embora o filme seja ótimo e tenha sido a maior bilheteria da franquia, não dá pra negar que ele evidenciou a total falta de planejamento da Fox. Que se em X-Men Origens e X-Men: Primeira Classe, o estúdio já sinalizou que coerência temporal não era seu forte, Dias de Um Futuro Esquecido acabou deixando isso claro de vez. E o que falar então de X-Men: Apocalypse? Que parece que veio apenas para repetir os erros da trilogia original, afinal, era a segunda vez que nos 45 do segundo tempo, X-Men vinha com um filme fraco, com aquela mania de grandeza que o próprio longa não suportava.

Naquele instante, ficou claro que os Filhos do Átomo mereciam mesmo um descanso, já que foram muitos anos trilhando sua história no cinema, brilhando, tropeçando e se reinventando. Mas a partir daí, a franquia resolveu se dividir e ocupar alguns espaços diferentes, e por conta disso assumiu riscos que, convenhamos, foram muito bem-vindos.

Deadpool é parte do universo dos X-Men, não podemos esquecer. Isso significa alguma coisa visto que a franquia é uma verdadeira bagunça? Não. Mas no que diz respeito a esses riscos que o estúdio assumiu com seus personagens, é um grande mérito. Junto a isso, tivemos o lançamento do aclamado Logan, filme que encerra a história de Hugh Jackman como Wolverine.

Logan fez história, sendo reconhecido como um dos melhores filmes de personagem dos quadrinhos. E com uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado – a primeira de um filme de super-heróis -, Logan foi apontado como um filme que desafiou as convenções do gênero.

Outro filme da franquia que deve chegar aos cinemas fazendo algum barulho é Novos Mutantes. O longa traz personagens diferentes dos apresentados nos filmes anteriores pois adapta uma outra equipe dos quadrinhos. E apesar dos vários perrengues que a produção passou, ela vem sida aguardada com curiosidade. Afinal, assim como Logan e Deadpool, parece trazer um novo olhar sobre o cinema de super-heróis, sendo vendido como um filme de terror.

Entretanto, de todas essas inovações que a Fox andou fazendo, X-Men: Fênix Negra parece vir numa outra direção. O filme trará de volta o elenco de X-Men: Apocalypse e adapta mais uma vez o arco mais famoso dos mutantes. Em O Contro Final, a saga da Fênix Negra foi adaptada de uma maneira muito aquém do que merecia, e a dúvida que paira é se esse novo filme vai realmente encerrar a carreira dos mutantes mais famosos da Marvel de maneira digna ou se será mais uns dos tropeços da Fox.

X-Men: Fênix Negra é quase um remake de O Confronto Final e também é o adeus aos X-Men como conhecemos.

Com tudo isso, acho que podemos afirmar que o legado da franquia X-Men para o cinema de super-herói tem um saldo bastante positivo, e vários desses filmes merecem ser lembrados como um dos melhores do gênero com toda certeza. Não há muito como defender O Confronto Final, X-Men Origens e Apocalypse, mas eles não deviam apagar o que X-Men: O Filme, X-Men 2, Primeira Classe, Dias de Um Futuro Esquecido, Deadpool e Logan fizeram. Essas obras se renovaram e trouxeram dias de glória para os mutantes e merecem, sempre que possível, serem revisitadas. Quem sabe vale uma maratona para se despedir?

A partir de 2020 uma nova era se inicia para os mutantes, e quando os veremos de novo nas telonas, só depende da Marvel Studios. Eu particularmente acredito que um respiro vai nos ajudar a sentir saudades.

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