[CRÍTICA] Histórias Assustadoras para Contar no Escuro – Quer ouvir uma história de terror?

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[CRÍTICA] Histórias Assustadoras para Contar no Escuro – Quer ouvir uma história de terror?

Por Gus Fiaux

Guillermo del Toro está de volta aos cinemas, dessa vez na cadeira de produtor, para o horror infanto-juvenil Histórias Assustadoras para Contar no Escuro. O filme é baseado na série de livros escrita por Alvin Schwartz, uma trilogia composta por diversas histórias isoladas de horror que funciona como uma antologia.

O longa chegou aos cinemas na última quinta-feira, sendo muito bem-recebido pelos fãs do gênero e se provando um dos filmes mais aterrorizantes – e pasmem, divertidos – do ano. Quer saber o que achamos do longa? Prepare-se aí para a nossa crítica do filme!

Ficha Técnica

Título: Histórias Estranhas para Contar no Escuro (Scary Stories to Tell in the Dark)

Direção: André Øvredal

Roteiro: Dan Hageman, Kevin Hageman e Guillermo del Toro.

Ano: 2019

Data de lançamento: 8 de agosto (Brasil)

Duração: 111 minutos

Sinopse: Um grupo de adolescentes enfrenta seus maiores medos para que possam sobreviver a um mal ancestral.

Histórias Assustadoras para Contar no Escuro – Quer ouvir uma história de terror?

 

Não é de hoje que o cinema fantástico de Guillermo del Toro encanta, sobretudo, por seu pé na realidade. Seja no horripilante A Espinha do Diabo ou no misterioso O Labirinto do Fauno, ou até mesmo pelo ganhador do Oscar A Forma da Água, os filmes do cineasta mexicano são tão aterrorizantes justamente por não deixarem de fora o elemento humano em destaque, em contraste com criaturas míticas e fantasmas de um passado distante.

Em Histórias Estranhas para Contar no Escuro, não é diferente. O filme, escrito e produzido por Del Toro, até conta com uma bela direção por parte do norueguês André Øvredal (responsável por filmes como A Autópsia e O Caçador de Troll), mas carrega a assinatura do mexicano desde suas criações mais grotescas até a presença incontestável de elementos políticos que permeiam a trama.

O longa conta a história (perdão pelo trocadilho) de um trio de amigos, encabeçado por Stella Nichols (interpretada, por sua vez, por Zoe Margaret Colletti), uma menina imaginativa e curiosa que tem um grande apreço por histórias de horror. Na noite de Halloween, eles se metem em uma encrenca com um valentão de sua escola, e acabam conhecendo Ramón (Michael Garza), um garoto solitária que está fugindo de algo desconhecido.

Juntos, os quatro vão visitar uma das mais populares mansões mal-assombradas de sua cidade. Lá, fala-se sobre a história de Sarah Bellows, uma mulher que foi acusada de atrair crianças para ouvir suas histórias assustadoras, pouco antes de desaparecerem ou morrerem misteriosamente. Na perigosa aventura, Stella se depara com o livro de histórias da mulher, e leva-o para casa.

O horror começa quando o livro passa a se escrever sozinho, contando histórias macabras envolvendo os amigos de Stella… e aos poucos as histórias vão se tornando reais.

Assim como mencionado anteriormente, Histórias Assustadoras para Contar no Escuro é um filme que carrega todos os traços da filmografia de Guillermo del Toro. Embora o horror por si só já seja extremamente palatável e chocante – contrariando sua classificação indicativa PG-13, as verdadeiras causas do medo estão na realidade, seja no passado ou no presente.

Não é à toa, por exemplo, que temos diversas cenas que ilustram o pavor juvenil da época: o Vietnã. Ao longo de todo o longa, vemos em televisões ou em diálogos de personagens a ascensão de Richard Nixon e sua primeira vitória na presidência dos Estados Unidos – e, com isso, cresce o pavor, especialmente entre os garotos jovens, de serem convocados para lutar no Vietnã, uma das guerras mais sangrentas da história do país.

No entanto, isso não significa que o sobrenatural não seja um dos pontos de destaque do longa. Quando Stella percebe o perigo que reside no livro maldito de Sarah Bellows – e quando percebe que seus amigos, incluindo o amedrontado Chuck (Austin Zajur) e o impetuoso Auggie (Gabriel Rush) correm um perigo mortal – temos as melhores sequências do filme, com personagens que parecem ter saído de nossos maiores pesadelos.

E em vez de apostar na quantidade dessas assombrações, o filme busca justamente explorar o medo intrínseco de cada uma delas, dando todo o foco necessário para que essas criaturas horripilantes possam traumatizar os personagens principais – assim como o público. O problema, no entanto, vem pelo excesso de jumpscares. 

As sequências exibem um suspense inigualável, que é construído até um auge insuportável de tensão. Mas todas, tirando uma extremamente agoniante envolvendo Chuck em uma “sala vermelha”, involuntariamente acabam em sustos óbvios, o que é um pouco decepcionante, especialmente quando paramos para pensar no papel exercido por cada uma das criaturas apresentadas no filme.

Ainda assim, o longa compensa em sua história, que possui um senso de urgência cada vez maior e mais aterrorizante. Somos jogados na vida desses personagens e os conhecemos não através de diálogos expositivos, mas sim por suas ações quando são confrontados por seus maiores medos – o que cria personagens surpreendentemente profundos para um filme de horror de orçamento relativamente baixo.

E, para isso, é necessário elogiar o roteiro escrito em conjunto pelos irmãos Dan e Kevin Hageman e por Guillermo del Toro. O trio traduz perfeitamente a essência das histórias da série de livros escrita por Alvin Schwartz, dando a elas uma construção que vai além da ideia antológica de contos isolados.

Já a direção de Øvredal é precisa e sabe estender o suspense ao máximo. Talvez esse seja o melhor trabalho do cineasta norueguês, que tem crescido cada vez mais quando o assunto é horror independente. É o trabalho que prova que devemos ficar de olho nos próximos projetos do artista (que incluem uma adaptação de The Long Walk, de ninguém menos que Stephen King).

Em seus quesitos técnicos, o longa também dá um show à parte, especialmente na fotografia e na direção de arte, que dão um clima ainda mais tenso e sombrio. Há, no entanto, alguns problemas no que diz respeito aos efeitos visuais, especialmente na cena do apavorante “Homem Furioso”. Contudo, é algo compreensível quando levamos em conta que o filme foi produzido apenas com 28 milhões de dólares. 

Vale destacar, no entanto, o design das criaturas, que é altamente influenciado pelas ilustrações de Stephen Gammell para a trilogia de livros. É quase como se as criaturas malditas dos livros realmente fossem passadas para as telonas, da maneira mais fiel possível. Basta pesquisar para comparar a similaridade.

E se a história de “monstros que surgem de um livro maldito para assustarem criancinhas indefesas” soa similar, é porque lembra bastante a premissa de Goosebumps: Monstros e Arrepios, filme de 2015 inspirado na franquia literária de R. L. Stine, é porque os dois realmente compartilham de várias similaridades. A diferença é que, aqui, isso é usado para compor terror verdadeiro, em vez de comédia besteirol infanto-juvenil. De muitas formas, é a adaptação que Goosebumps merecia, mas não teve.

Em suma, Histórias Assustadoras para Contar no Escuro é, sem a menor sombra de dúvidas, uma das grandes revelações do ano. Até o momento, é um dos filmes mais assustadores e divertidos de horror de 2019, provando que ainda há inventividade e que, mesmo com seu teor infanto-juvenil, consegue trazer o medo de uma forma bruta e criativa.

Com atuações acima da média – destaque para Zoe Margaret Colletti, que realmente encarna sua personagem com perfeição -, o filme sabe apavorar, mas também nunca perde o fio condutor de sua trama, que é o medo centrado no real, no cotidiano. E, como todo bom filme de Del Toro, também explora nas relações políticas e humanas a fonte de todos os males.

E no fim, a pergunta que fica é: você quer ouvir uma história de terror?

NOTA: 4,5/5

 

Na galeria abaixo, fique com uma série de cartazes do filme:

Histórias Assustadoras para Contar no Escuro está em cartaz nos cinemas.