Manto e Adaga: 1×01-02 – Entre a Luz e as Trevas!

Capa da Publicação

Manto e Adaga: 1×01-02 – Entre a Luz e as Trevas!

Por Gus Fiaux

Na última quinta-feira, a mais nova série da Marvel chegou à Freeform com um episódio duplo sensacional. Manto e Adaga é a mais nova aposta da Casa das Ideias para a TV, adaptando as histórias da dupla obscura que possui um culto leal de fãs nos quadrinhos. E preciso dizer que foi a surpresa mais grata do ano – no mundo das séries – até o momento.

Falando em termos puramente pessoais, eu ando meio desanimado com as séries que compõem o Universo Cinematográfico da Marvel. Enquanto o núcleo da Netflix, como Jessica Jones e Justiceiro continua repetindo os mesmos erros que todos já estão cansados de reclamar, a quinta temporada de Agentes da S.H.I.E.L.D. me deixou com sentimentos bem conflitantes.

Assim sendo, quando Manto e Adaga foi anunciado, eu não consegui criar grandes expectativas. Os trailers e materiais promocionais eram até legais, mas não me agradavam tanto e eu estava com pouca curiosidade para saber o que a série poderia produzir a partir daí. Felizmente, eu fui surpreendido.

Manto e Adaga é o tipo de série que me capturou desde a primeira cena. No momento em que vemos um recorte da vida de Tandy Bowen e Tyrone Johnson antes de ganharem seus poderes, eu já estava fascinado pela forma como a tensão, a direção e até mesmo a construção dos personagens já se apresentava desde o primeiro segundo.

Em suma, a série, diferente de boa parte dos produtos televisivos da atualidade, já começa no meio da ação, sem a desculpa de “precisamos ser lentos para desenvolver os personagens”. Ela já apresenta a história enquanto faz isso, trazendo à tona uma dupla forte de protagonistas que, apesar de representarem luz e trevas, brincam no intermédio dos vários tons de cinza.

Isso talvez já comece sendo o ponto mais forte da série: os personagens. Enquanto Tyrone é um cara bem certinho, e cujo passado carrega um fardo que sempre o impulsiona para ser melhor, Tandy é o completo oposto. Ela já é inserida na vibe sexo, drogas e rock’n’roll”, mostrando uma personagem com muito mais nuances do que heróis regulares. De certa forma, ela consegue ser uma heroína tão subversiva quanto Jessica Jones.

E isso se deve não apenas a um roteiro afiado, mas também ao talento dos dois atores. Enquanto Aubrey Joseph faz um excelente trabalho representando a dor e a introspecção de Tyrone, Olivia Holt se destaca, trazendo uma personagem muito mais humanizada e imperfeita, o que por si só já estabelece um excelente ponto de partida para o início da temporada.

Em termos de história, teremos algo bem interessante aqui. O primeiro episódio já começa frenético, pondo em questão tramas importantíssimas como brutalidade e omissão policial, além de estabelecer a irresponsabilidade e voracidade corporativa, usando como elemento central os mistérios por trás da Roxxon Corporation, uma empresa que já deu as caras brevemente nesse universo, seja através da franquia do Homem de Ferro ou da finada Agente Carter.

Através dela, descobrimos que os dois personagens ganharam poderes em um acidente. Enquanto Tyrone fica envolto em escuridão e é capaz de se teletransportar, Tandy passa a emitir uma luz cegante e criar construtos com ela. Curiosamente, esses poderes funcionam de forma paradoxal, os atraindo e repulsando de maneiras diferentes.

Ah, eles também parecem ser capazes de acessar as memórias e pensamentos das pessoas que os tocam – e isso cria algumas cenas bem interessantes e intensas.

O que torna a série tão atual, além de seus comentários sociais e sua abordagem mais urbana, também foi uma pequena mudança em relação ao material original que ajudou a reverter alguns clichês e trazer uma representatividade mais humanizada e positiva. Nos quadrinhos, Tyrone é um assaltante, e Tandy é uma de suas vítimas. A série inverte isso, mas não pinta Tandy como uma vilã, e sim como alguém precisando desesperadamente de ajuda.

Só isso já torna os personagens bem mais profundos, e ressalta algo que é evidente em suas vidas: o contraste. É justamente através da ideia de que os dois são tão opostos que a série consegue torná-los personagens tão marcantes, já de primeira. Fico feliz com isso, pois sempre achei a dupla nas HQs bem insossa. Aqui, no entanto, estamos diante de figuras frágeis e que precisam uma da outra para sobreviver… mas com isso, correm o risco de se auto-destruir.

Curiosamente, um fator que me chamou a atenção é o tratamento maduro dado à história e aos personagens. É curioso, quando pensamos nos dois últimos anos do Universo Cinematográfico da Marvel, que as únicas séries que conseguiram fazer isso de forma efetiva, traçando dramas e tramas pessoais profundas, foram justamente as séries mais adolescentes: tanto Manto e Adaga quanto Os Fugitivos.

Isso é um ponto que merece ser aplaudido, já que as duas conseguem estabelecer um nível de maturidade que outras séries de super-heróis atuais, mesmo protagonizadas por personagens adultos, não conseguem. E, ainda assim, temos espaço para romance, drama colegial e questões de crescimento.

Com isso, mudo o foco para a parte técnica, e devo confessar que estou bem empolgado. Tanto Gina Prince-Bythewood quanto Alex Garcia Lopez – diretores do primeiro e segundo episódio, respectivamente – conseguem inserir uma linguagem mais jovial, e ainda assim, produzir um conteúdo mais adulto, expondo a realidade das festas de colegial e o uso de drogas pesadas, como cocaína.

E os elogios não ficam apenas por conta da narrativa estrutural, mas também pelas escolhas estilísticas. Por exemplo, temos cenas onde a trilha sonora definitivamente um dos pontos altos – incorpora a história, criando algo que, ao mesmo tempo em que passa uma mensagem poderosa, é cool e descolado.

Por enquanto, a única coisa que não me chamou muito a atenção foi a construção de um vilão personificado – o homem ruivo com a cicatriz no rosto, que supostamente trabalha para a Roxxon. O personagem não mostrou nenhum nível de ameaça, e nem sequer teve desenvolvimento nos dois primeiros episódios – o que pode acabar sendo revertido ao longo da temporada.

Portanto, o saldo geral é astronomicamente positivo. Temos aqui uma estreia absolutamente surpreendente, que pode render ótimos frutos para esse universo, ainda que viva mais às margens, e não tão próximo das aventuras dos Vingadores ou de outros heróis. E, certamente estamos ansiosos para ver como isso vai se desenrolar – ainda mais com uma temporada mais contida, composta apenas por dez episódios.

Abaixo, fique com algumas imagens da série:

Manto e Adaga vai ao ar às quintas-feiras, no Freeform. Não perca as reviews semanais da série aqui na Legião dos Heróis.