[CRÍTICA] Darksiders III – Uma Joia Mal Lapidada!

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[CRÍTICA] Darksiders III – Uma Joia Mal Lapidada!

Por Lucas Rafael

Daksiders nunca foi uma franquia conhecida por reinventar a roda. Se o primeiro título era uma espécie de Devil May Cry com pinceladas de Zelda, o segundo ampliava o escopo da franquia com elementos de RPG. Darksiders nunca ditou tendência, apenas se apropriava do que já existia e executava com dignidade, tecendo uma franquia memorável adornada de uma mitologia apocalíptica que envolve anjos e demônios.

A terceira incursão de Darksiders sacrifica a fórmula prévia da franquia em prol de um game no estilo Dark Souls. Será que foi uma boa?

O jogo foi testado em um Playstation 4.

Créditos: THQ Nordic/GunFire Games

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É estranho um jogo como Darksiders III ser lançado em 2018. É importante começar a análise afirmando isso. Para entender o jogo em si, é preciso mencionar também o contexto de seu desenvolvimento. Após a THQ Nordic fechar as portas, a GunFire Games herdou o terceiro título da franquia para seguir com sua realização.

O resultado é algo cravejado de arestas, possivelmente oriundas da falta de verba para um game mais polido. A parte miraculosa disso é que, mesmo tendo nascido de um solo tão conturbado, Darksiders III não é um fruto ruim.

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Alguns fãs de Darksiders sentem-se traídos. Este terceiro título muda fundamentalmente as bases mecânicas da franquia para o que muitos estão chamando de um retrocesso. Fica mais fácil se você encarar como uma abordagem diferenciada.

Aqui, sai o mapa semi-aberto, repleto de dungeons do segundo Darksiders e entra um mapa interconectado, no qual você progride, libera atalhos e descobre novos caminhos conforme libera novas habilidades. O que a THQ/GunFire fizeram foi basicamente botar Dark Souls e a fórmula Metroidvania num liquidificador e bater, então cobrir tudo com a estética apocalíptica/gótica pela qual a franquia é reconhecida.

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O problema é que, diferente da franquia na qual se inspira, Darksiders III não consegue sobrepujar o fato de ser uma derivação bem intencionada.

O mundo é interconectado, os checkpoints de Vulgrim trazem tanto alívio quanto as fogueiras de Dark Souls e o combate é extremamente compassado, pedindo por paciência e timing exato do jogador para ser bem executado. Ainda assim, o jogo não transcende sua influência.

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Darksiders III é visualmente pobre. Seus cenários misturam desolação urbana com pinceladas apocalípticas, e os personagens trazem aquela coisa cartunesca meio World of Warcraft em seus trajes, chifres asas e espadas exageradas. Onde Darksiders compensa seu desfalque visual é na personalidade dos chefes, e esses sim merecem um item da lista só para eles.

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Um mundo pobre, com bons vilões.

A história de Darksiders III é pobre. Ainda não retomamos a conclusão épica do primeiro jogo da franquia, e seguimos pelas laterais de uma trama convoluta envolvendo céu e inferno.

Aqui, Cólera, uma dos quatro Cavaleiros do Apocalipse (e a mais sem graça e unidimensional dos já apresentados), é enviada pelo conselho das chamas à Terra para aniquilar os sete pecados capitais por causa de, bem, razões.

Os sete pecados no entanto, possuem visuais detalhados, personalidades distintas e o mais importante: lutas memoráveis. Você vai jogar só para se encontrar com cada um deles. Os embates contra estes chefes são parte da força-motriz de Darksiders III.

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Uma das coisas essenciais em qualquer jogo no molde Souls é a catarse da superação que toma o lugar da frustração. O jogo parece opressivo, quase impossível, e de repente você investe todo seu ímpeto e concentração na luta, conseguindo vencer com a mão suando no controle. É essa sensação de orgulho ao abater um chefe difícil que torna Darksiders III uma experiência tão compensadora.

Em termos de gameplay, basta dizer que Darksiders III é o título mais difícil da franquia. Cólera é muito mais frágil que Guerra ou Morte, sendo que alguns inimigos básicos podem abatê-la através de apenas alguns pipocos. E isso segue no late-game: por mais que os upgrades deixem Cólera mais forte, ela continua morrendo facilmente para a maioria dos inimigos.

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Dark Souls Lite

Assim como na franquia Souls, o combate pede por ritmo e paciência. É necessário saber quando desviar dos ataques inimigos, telegrafar movimentos e tirar proveito das aberturas. E até você aprender isso, vai estar com umas três mortes, no mínimo, em suas costas.

Inimigos dropam almas, que você usa para subir de nível ou comprar itens que garantem buffs momentâneos à Cólera. É possível fortalecer suas armas com um ferreiro às imbuindo de itens e, conforme você progride, ganha “formas abissais”, que dão novas habilidades à protagonista, permitindo que ela acesse locais antes inacessíveis, no melhor estilo Metroidvania.

Estas formas abissais podem ser alteradas de maneira dinâmica através do controle, o que abre o leque de uma variedade de combos para você experimentar no combate.

Como de costume, Darksiders III também traz diversos puzzles. Alguns são meramente toscos, enquanto outros surpreendem graças a uma simplicidade mirabolante.

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O gráfico do game é competente, mas fica por aí.

Existem loadings medonhos que acontecem em alguns pontos aleatórios do mapa e brocham o jogador quebrando a imersão. A queda na taxa de quadros do título é irritantemente constante, e as lutas mais espetaculares vão ser minadas por elas.

É 2018, jogos que exigem muito mais processamento não contam com esse tipo de coisa retrógrada. É aí que tudo faz sentido. Se Darksiders III fosse lançado aí por 2014, muita de suas limitações seriam justificadas, suas influências ainda estariam frescas e seria, possivelmente um candidato a jogo do ano.

Darksiders III deve existir loureado de glória em uma linha do tempo onde a THQ conseguiu terminar o jogo, sem nunca ter ido a falência.

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Ele lembra aquele tipo de game que você alugaria na locadora, anos atrás, por ter achado a capa legal. Jogaria sem ter lido nenhuma review ou tutorial e iria se zangar na mesma proporção que iria se divertir. É estranho ver algo assim ser lançado em 2018.

Darksiders III é uma joia que carece de lapidamento. Suas intenções são boas e é possível ver o brilho se insinuando pela superfície dura, pena que não tiveram tempo de trabalhá-la melhor. Mas ei, quando você vê tal brilho, ele é realmente muito bonito.

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Nota

Darksiders III é o título mais desafiador da franquia, e fica difícil recomendá-lo até aos fãs mais xiitas do que Darksiders vinha fazendo até então. A graça salvadora do game reside em combates memoráveis e chefes distintos e imponentes que acarretam em lutas inesquecíveis. O problema é que o resto do jogo, ainda que seja azeitado por boas ideias, está cravejado de quedas de frame, loadings inconvenientes, sem falar da história mais pobre entre a trilogia.

Se a dificuldade da franquia Souls sempre foi um fator apelativo para você, Darksiders III é uma recomendação certeira. Você vai tirar bons momentos daqui, ainda que eles sejam bem pontuados em um jogo okay, que por pouco não beirou a excelência.

Nota: 3,5 pentagramas de 5. Já que Darksiders tem essa pegada meio infernal.