Elio: novo filme da Pixar teve bastidores conturbados e corte de temas LGBTQIA+

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Elio: novo filme da Pixar teve bastidores conturbados e corte de temas LGBTQIA+

Por Evandro Lira

Elio, a nova aposta da Pixar, chegou aos cinemas com alguma expectativa, mas parece que decepcionou.  Apesar das boas avaliações da crítica, o longa não empolgou nas bilheterias e, segundo ex-funcionários do estúdio, o motivo pode estar muito além da recepção do público.

Segundo pessoas envolvidas na produção (via Hollywood Reporter), o personagem principal, Elio, foi inicialmente retratado com traços associados à identidade LGBTQIA+, refletindo a vivência do diretor original, Adrian Molina, que é abertamente gay.

A ideia nunca foi fazer um filme sobre “sair do armário” — até porque Elio tem apenas 11 anos —, mas o garoto tinha interesses mais sensíveis, como moda e cuidado com o meio ambiente, e até cenas sugerindo uma possível paixonite por um colega. Com o tempo, essas características foram sendo suavizadas após feedbacks da liderança do estúdio.

Entre as sequências cortadas, estava uma cena em que Elio criava roupas com lixo reciclado, incluindo uma regata rosa. Também desapareceu do corte final uma imagem no quarto do personagem que sugeria uma paixonite por outro garoto.

Segundo Sarah Ligatich, ex-editora assistente da Pixar e integrante do grupo interno PixPRIDE, a exclusão desses elementos foi sentida como uma perda de identidade para o projeto:

“Fiquei profundamente triste e consternada com as mudanças. A saída de talentos após o novo corte foi um sinal claro de que muitos estavam insatisfeitos com a destruição daquela obra tão bonita.”

A saída de Molina do projeto foi seguida pela entrada das codiretoras Madeline Sharafian (Burrow) e Domee Shi (Red: Crescer é uma Fera), que assumiram a finalização do filme.

Embora não haja confirmação de que a decisão de suavizar os temas queer tenha partido da Disney, ex-funcionários indicam que a pressão veio de dentro da própria Pixar, como reflexo de um clima mais conservador nas lideranças.

“O Elio que está nos cinemas agora é muito pior que a melhor versão de Adrian. Ficou genérico”, disse um ex-artista do estúdio, sob anonimato.

Além disso, a substituição de America Ferrera por Zoe Saldaña no papel da mãe (que virou tia) de Elio também teria ligação com os rumos do projeto após a saída de Molina. Ferrera já havia gravado suas falas, mas fontes afirmam que ela se afastou por discordar da mudança na liderança e pela perda de representatividade latina no filme.

Mesmo com um orçamento que pode ter ultrapassado os US$ 200 milhões, Elio teve a pior estreia da história da Pixar, arrecadando apenas US$ 20,8 milhões nos Estados Unidos.