Review: Sifu te guia por uma solitária e dolorosa jornada de vingança

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Review: Sifu te guia por uma solitária e dolorosa jornada de vingança

Por Márcio Jangarélli

Vez ou outra, durante um desses showcases de grandes plataformas, um game mais “modesto” acaba brilhando tanto quanto os blockbusters milionários e exclusivos. Esse foi o caso de Sifu, mostrado durante uma das apresentações da PlayStation, em 2021.

Desenvolvido pela Sloclap, mesmos criadores do intrigante Absolver, Sifu traz uma jornada de vingança guiada pelo kung fu, com direção de arte e sonora marcantes e um sistema de luta bem complexo. Tivemos a chance de testar essa aventura com antecedência e posso adiantar que, ainda que precise melhorar seu balanço, esse game é fenomenal.

Vem comigo entender como Sifu funciona.

FICHA TÉCNICA

Título: Sifu

 

Desenvolvedora: Sloclap

 

Plataformas: PlayStation 4, PlayStation 5 e PC (Epic Store)

 

Lançamento: 8 de Fevereiro de 2022

 

Gênero: Ação e Luta

 

Idioma: Inglês e Chinês

 

Tradução para o Português: Sim

SOCO NO ESTÔMAGO

Sifu mistura kung fu e arte.

Se eu precisasse fazer uma comparação para você entender melhor o que Sifu é, diria que é uma mistura de Kill Bill, Sekiro e Street Fighter; falar que ele é um beat’em up, como está em algumas descrições, parece até errado. Esta é uma jornada sangrenta e solitária por vingança, que valoriza postura de ataque, estratégia, inteligência e a aplicação precisa de combos. Deu para captar?

Ao mesmo tempo que este é um jogo consideravelmente simples – com poucos níveis, chefes e uma progressão linear – a Sloclap apostou em um sistema de batalha bem polido para te prender, tornando avançar pelas fases um verdadeiro desafio. É uma simulação da própria complexidade do kung fu, quando os movimentos e golpes foram moldados junto de um mestre das artes marciais.

Mas como Sifu funciona? Bom, esse é um game em terceira pessoa, onde você guia o protagonista por 5 níveis diferentes, abrindo caminho entre os inimigos com combate corpo-a-corpo e encontrando alguns tipos de arma. No fim de cada fase, um chefão. Simples, né?

Você pode multiplicar os pontos ganhos por batalha fazendo bloqueios e esquivas perfeitas.

Acontece que, como citado, o ponto principal de Sifu é o desafio. Todos os inimigos possuem uma IA pronta para te triturar no combate, você terá que lidar com grupos enormes, alvos inspirados e, portanto, mais fortes e, caso você alcance o boss, ele possui um nível de dificuldade ainda mais elevado e vai demandar várias tentativas até você entender como derrotá-lo.

Uma das funções mais legais do jogo é que, se você morrer, é possível voltar se pagar o preço. O protagonista carrega um amuleto consigo que lhe permite retornar dos mortos, mas isso o envelhece. Cada morte adiciona a soma de quedas que você já sofreu aos seus anos de vida. Assim, você começa o primeiro nível com 20 anos, mas sabe-se lá quantas vidas você terá gasto até o fim.

Esse envelhecimento não é só visual; quanto mais velho, menor sua barra de vida, mais lento seu personagem fica, mas você ganha mais dano nos golpes. A cada década perdida, seu amuleto vai rachando. Seu limite está nos 70 anos, depois disso o amuleto quebra e é game over.

Isso influencia de uma maneira ainda mais desafiadora na progressão de Sifu; Se você terminou a primeira fase com 40 anos, você começará a próxima com essa idade. Seus anos de vida ficam travados no início de cada nível e, para diminuir esse número, é preciso melhorar sua performance na fase anterior.

Estátuas estão espalhadas pelas fases onde você pode escolher 1 novo atributo e desbloquear habilidades.

Assim, Sifu é praticamente um dungeon crawler. Existe esse incentivo para que você domine cada fase e cada tipo de inimigo, ou então você não terá tempo de vida o suficiente para finalizar o game. Ao terminar um nível, você também tem fixado os atributos que você conquistou nesta tentativa – habilidades liberadas, XP recebido, etc – então, além de se preocupar com a idade, é preciso fazer boas escolhas.

No fim das contas, cada um desses fatores vai adicionando camadas de dificuldade ao game – e como uma pessoa que gosta de um bom soulsborne, isso me animou muito. Porém, ainda que seja excelente e acerte em muitas dessas propostas, Sifu acaba errando no balanço e se torna bastante frustrante.

Um dos slogans de Sifu é uma vida é o bastante para conhecer o kung fu? e o game te responde com um grandioso não. A progressão de dificuldade do game não é uma crescente sutil; existe um pico na evolução do primeiro para o segundo nível que deve deixar boa parte do público interessado no jogo frustrado.

E eu digo isso sendo um fã de games “desafiadores”. Ainda que um Dark Souls da vida funcione como um soco na cara de muita gente, geralmente esses games são bem sucedidos por possuírem uma linha de aprendizado muito bem construída, que impede que o jogador fique preso por muito tempo (caso ele realmente tenha interesse em continuar). Existem muitas maneiras de você encarar um boss ou uma área em um Souls e, caso esteja empacado, é só tentar seguir para outro lugar.

A câmera do game muda para um formato sidescrolling às vezes, deixando as coisas mais divertidas.

No caso de Sifu, o game espera que o jogador se dedique ao máximo para aprender 100% o sistema de combos, desvios e bloqueios que ele oferece. Não tem outra saída, não tem um “macete” ou um caminho secundário. Isso fica pior quando não passar de uma área ou um chefe é realmente uma trava no game, visto que ele é linear e você não pode escolher outro lugar para ir.

Até aí, é possível argumentar que essa é a proposta de Sifu em, como disse antes, emular a “complexidade do kung fu”. No entanto, ainda que os golpes sejam realmente sensacionais, os controles não possuem uma resposta tão boa para você entender o que está fazendo ou se seu combo funcionou. Na verdade, especialmente o desvio – algo fundamental no game – parece mais lento que o normal e isso te impede de ficar 100% satisfeito com o combate.

É possível jogar, se divertir e dominar Sifu, não me entenda mal. Só é necessário mais empenho, tempo e paciência do que a maioria do público alvo tem ou um “talento natural” com reflexo e combos. Até porque, se você conseguir “acompanhar” o game, o que ele te oferece é ótimo.

Enquadramentos e efeitos são usados pro todo o game para dar um clima mais cinematográfico à aventura.

Saindo do combate para falar sobre… todo o resto do game, Sifu possui uma direção de arte absurda. Desde o começo você nota que esse jogo é especial e as coisas só vão melhorando conforme você avança. São cenários incríveis, enquadramentos especiais, cores, luzes, sombras, tudo construindo um mundo misterioso, violento e apaixonante.

Além disso, a trilha sonora do game é perfeita, muito bem executada e encaixada para construir o “clima”. Visual e som te guiam nessa aventura amarga e te fazem entender melhor como seus alvos pensam e agem, te ajudando a montar o quebra-cabeças dessa história.

Outra coisa que vale citar é exatamente isso: a história. Sifu se mostra simples e cabe a você ir captando como tudo se encaixa. No início do game, você assiste um Sifu – cantonês para “mestre” e “pai”, usado no treino de artes marciais – ser assassinado por um de seus pupilos e seu grupo. Eles também tentam matar o filho do Sifu, mas ele sobrevive. Esse é o protagonista da história.

Sifu incorpora cenas belíssimas e referências inteligentes no gameplay.

A partir daí, depois de uma “sequência de treinamento” sensacional, você controla o filho do Sifu em busca de vingança. Ele passou muito tempo investigando os assassinos de seu pai e agora, com 20 anos, está pronto para cobrar sangue com sangue. As coisas não são bem o que parecem, no entanto, e magia vai se fundindo mais e mais à história.

É um grande mérito da Sloclap essa narrativa e protagonista funcionarem. Não há muitos diálogos ou momentos explicativos sobre o que está acontecendo. Você tem seu quadro de pistas, com alguns detalhes sobre cada alvo e esconderijo, e algumas conversas durante as fases; a pintura final, no entanto, é sua.

Mas mesmo tão vago, é difícil não embarcar com o protagonista em busca de vingança. É uma coisa muito visceral, como acompanhar a Noiva da Uma Thurman em Kill Bill. Você entende a obsessão desses personagens e quer ver um pouco de justiça, ainda que a história vá desenhando outra resposta enquanto você avança.

Nota: 8/10

Sifu é um game incrível e frustrante ao mesmo tempo. Até você ser encurralado e não conseguir avançar para a próxima fase, é uma experiência sensacional, mas, diferente de outros jogos difíceis por aí, não há muito um sentimento de conquista depois de vencer um obstáculo; a falta de liberdade entre as fases gera uma repetição excessiva e isso desanima qualquer jogador.

 

Mas é importante reforçar que esse é um daqueles games que te deixa embasbacado com os visuais e ideias implementados. Não sei dizer se o preço na PlayStation Store compensa, mas pelo menos no PC, se você gosta de uma experiência detalhada, vale à pena vivenciar a aventura dolorida da Sloclap.

 

Por tudo isso, Sifu leva 8 da Legião dos Heróis. Proposta sensacional, game incrível, só precisa de alguns ajustes para ser mais recompensador e menos frustrante.

Já conhecia Sifu? O que espera do game? Não esqueça de comentar!

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